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A chegada de Sergio Moro à corrida presidencial de 2022 impactou fortemente as candidaturas da terceira via. Luiz Henrique Mandetta, por exemplo, passou a ser dúvida, e a tendência é de que ele apoie o ex-colega de governo Bolsonaro. Mais à esquerda, quem mais sofre com as mudanças no jogo é Ciro Gomes, do PDT.
Ciro já era considerado um candidato com chances remotas de chegar ao segundo turno. Mas viu a pré-candidatura mergulhar na incerteza depois de conflitos que protagonizou com seu partido. No início de novembro, Ciro decidiu suspender a pré-candidatura após parlamentares do PDT votarem a favor da PEC dos Precatórios, importante ferramenta do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em busca da reeleição.
A confusão causou um racha dentro do partido, e o PDT se viu encurralado. Se a legenda mantivesse a palavra ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), poderia perder Ciro; se decidisse voltar atrás, os parlamentares ficariam "queimados" na Casa. No fim das contas, os pedetistas cederam à pressão do pré-candidato e mudaram o voto. O movimento foi malvisto por parte da sigla, mas parlamentares consultados pelo Correio garantem que o episódio está superado.
Para o deputado Eduardo Bismarck (PDT-CE), a relação de Ciro com o partido permanece intacta. Ele esclareceu que, na ocasião, defendeu o posicionamento do partido, mas mudou de ideia. Para Bismarck, o que faltou foi uma comunicação clara entre ambos os lados.
"Eu disse que não via motivos para a mudança do voto no segundo turno. Mas depois me sensibilizei com o apelo dele e do partido. Acho que poderia ter existido um diálogo maior com a bancada. Se ele pretende influenciar nos posicionamentos da bancada, isso deveria ser uma constante. Seria também um importante instrumento de apoio a ele", afirma.
O parlamentar acredita, no entanto, que não há arestas a aparar e diz que "isso já é passado". "O Ciro é nosso candidato, e é muito bom para o PDT e seus candidatos que ele seja. A PEC é passado, portanto tem muita água para passar por debaixo da ponte até as convenções do ano que vem", pontua. Bismarck garante que dará apoio incondicional à candidatura do pedetista.
Autoritarismo
Analistas, no entanto, veem a situação como um tiro no pé. Segundo o cientista político André Rosa, o ultimato dado por Gomes foi um erro político que "beira o autoritarismo". Ele explica que esse tipo de atitude costuma ser malvista dentro de um partido e põe em xeque a visão do comprometimento de um candidato com a agenda da sigla. Nesse caso, o principal prejudicado é o próprio Ciro Gomes.
"Ele gastou um cartucho muito alto nessa briga e pareceu que se colocou acima do próprio partido. Num contexto partidário, isso é inadmissível. A agenda do partido deve estar acima de um candidato. Ele mostrou que ele se acha maior que o próprio PDT, mas o PDT tem uma história grande. Foi uma demonstração de vaidade política para querer mostrar que tem força", diz Rosa.
Ciro tem tentado se colocar como um candidato mais jovial, fazendo lives e programas para a internet com estilo moderno. Isso, segundo Rosa, faz sentido porque o pedetista tem um grande apoio entre lideranças jovens de esquerda, especialmente dentro de universidades. Mas o analista acredita que o caminho mais assertivo para Ciro seria articular uma aliança com Lula, já que, em meio à polarização, é difícil que dois candidatos do mesmo espectro ideológico convivam de forma competitiva.
Efeito Moro
Com a chegada de Moro ao jogo, as coisas ficaram mais complicadas para o pedetista. O ex-juiz já é visto como a única opção viável de terceira via por alguns analistas e políticos. Segundo pesquisa Ipespe divulgada na última semana, o ex-ministro aparece com 11% de preferência entre os eleitores. Já Ciro tem 9%. Lula (PT) e Jair Bolsonaro (sem partido) têm, respectivamente, 42% e 25%.
Para André Rosa, é cedo, no entanto, para dizer se Ciro jogará a toalha. "Acho que é muito cedo para dizer que o Ciro jogou a toalha. Ele precisa sentir mais o termômetro, ver se a candidatura do Moro vai para frente. Acho que é cedo, muita coisa pode surpreender. É muito incerto ainda para avaliar", comenta.
Márcio Coimbra, cientista político e coordenador do Mackenzie, vê Ciro Gomes desorientado em suas estratégias políticas. "Eu acredito que o Ciro Gomes ainda não soube se posicionar dentro do cenário eleitoral. Ele primeiro começou a se posicionar como uma terceira via e aí depois ele começou a bater no Lula e bater no Bolsonaro. Ele não achou o seu tom dentro dessa campanha. Como o eleitorado dele não o enxerga como uma terceira via — apesar de ele tentar se vender como terceira via —, os eleitores acabam se deslocando para o lado do Sergio Moro", afirma.
Para o especialista, o pedetista precisa se localizar dentro da sua campanha e se portar de acordo com o que ele é: uma alternativa a Lula no campo da esquerda. "Se ele não achar esse tom, é melhor ele acabar desistindo", avalia Coimbra.
"Ciro não é e nunca será identificado como um candidato de terceira via. O eleitorado dele é aquele que sempre o considerou candidato de centro-esquerda. E ele vai continuar nesse caminho se quiser ainda crescer e se mostrar como uma alternativa ao PT e uma alternativa ao Lula na esquerda. Fora disso, na terceira via, ele não tem nenhuma chance de emplacar", conclui.
O PDT foi procurado pelo Correio para se posicionar sobre o atrito com Ciro Gomes, mas não respondeu até o fechamento. A reportagem não conseguiu contato com o pré-candidato.
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Ciro já era considerado um candidato com chances remotas de chegar ao segundo turno. Mas viu a pré-candidatura mergulhar na incerteza depois de conflitos que protagonizou com seu partido. No início de novembro, Ciro decidiu suspender a pré-candidatura após parlamentares do PDT votarem a favor da PEC dos Precatórios, importante ferramenta do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em busca da reeleição.
A confusão causou um racha dentro do partido, e o PDT se viu encurralado. Se a legenda mantivesse a palavra ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), poderia perder Ciro; se decidisse voltar atrás, os parlamentares ficariam "queimados" na Casa. No fim das contas, os pedetistas cederam à pressão do pré-candidato e mudaram o voto. O movimento foi malvisto por parte da sigla, mas parlamentares consultados pelo Correio garantem que o episódio está superado.
Para o deputado Eduardo Bismarck (PDT-CE), a relação de Ciro com o partido permanece intacta. Ele esclareceu que, na ocasião, defendeu o posicionamento do partido, mas mudou de ideia. Para Bismarck, o que faltou foi uma comunicação clara entre ambos os lados.
"Eu disse que não via motivos para a mudança do voto no segundo turno. Mas depois me sensibilizei com o apelo dele e do partido. Acho que poderia ter existido um diálogo maior com a bancada. Se ele pretende influenciar nos posicionamentos da bancada, isso deveria ser uma constante. Seria também um importante instrumento de apoio a ele", afirma.
O parlamentar acredita, no entanto, que não há arestas a aparar e diz que "isso já é passado". "O Ciro é nosso candidato, e é muito bom para o PDT e seus candidatos que ele seja. A PEC é passado, portanto tem muita água para passar por debaixo da ponte até as convenções do ano que vem", pontua. Bismarck garante que dará apoio incondicional à candidatura do pedetista.
Autoritarismo
Analistas, no entanto, veem a situação como um tiro no pé. Segundo o cientista político André Rosa, o ultimato dado por Gomes foi um erro político que "beira o autoritarismo". Ele explica que esse tipo de atitude costuma ser malvista dentro de um partido e põe em xeque a visão do comprometimento de um candidato com a agenda da sigla. Nesse caso, o principal prejudicado é o próprio Ciro Gomes.
"Ele gastou um cartucho muito alto nessa briga e pareceu que se colocou acima do próprio partido. Num contexto partidário, isso é inadmissível. A agenda do partido deve estar acima de um candidato. Ele mostrou que ele se acha maior que o próprio PDT, mas o PDT tem uma história grande. Foi uma demonstração de vaidade política para querer mostrar que tem força", diz Rosa.
Ciro tem tentado se colocar como um candidato mais jovial, fazendo lives e programas para a internet com estilo moderno. Isso, segundo Rosa, faz sentido porque o pedetista tem um grande apoio entre lideranças jovens de esquerda, especialmente dentro de universidades. Mas o analista acredita que o caminho mais assertivo para Ciro seria articular uma aliança com Lula, já que, em meio à polarização, é difícil que dois candidatos do mesmo espectro ideológico convivam de forma competitiva.
Efeito Moro
Com a chegada de Moro ao jogo, as coisas ficaram mais complicadas para o pedetista. O ex-juiz já é visto como a única opção viável de terceira via por alguns analistas e políticos. Segundo pesquisa Ipespe divulgada na última semana, o ex-ministro aparece com 11% de preferência entre os eleitores. Já Ciro tem 9%. Lula (PT) e Jair Bolsonaro (sem partido) têm, respectivamente, 42% e 25%.
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O PDT foi procurado pelo Correio para se posicionar sobre o atrito com Ciro Gomes, mas não respondeu até o fechamento. A reportagem não conseguiu contato com o pré-candidato.