CHEGANDO

O ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil, que se filia ao PDT nesta quarta-feira /Foto: Alex de Jesus / O Tempo
Por Leonardo Augusto

O ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil se filia nesta quarta-feira (15/10) ao PDT em cerimônia que acontecerá na sede do partido em Brasília com a presença do presidente nacional da legenda, Carlos Lupi. A escolha do local para a assinatura da ficha de Kalil dá tom nacional à chegada do ex-prefeito à sigla e mostra que o destino do ex-prefeito será tratado como prioridade nas eleições do ano que vem. Kalil será candidato ao governo de Minas ou ao Senado. Até o momento, não há conjecturas sobre uma disputa como vice.

A filiação de Kalil ocorre em um momento de relações estremecidas entre o PDT e um tradicional aliado, o PT, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ex-ministro da Previdência, Lupi deixou o cargo em maio após operação da Polícia Federal que investiga descontos irregulares de sindicatos em aposentadorias e pensões pagas pelo INSS. Após a saída de Lupi, a bancada do PDT na Câmara Federal deixou a base do governo Lula na Casa.

 Em Minas, a última vez em que Kalil disputou um mandato foi exatamente em parceria com o PT. O ex-prefeito foi candidato ao governo do estado em 2022 tendo como vice o ex-deputado estadual André Quintão, filiado à legenda. Kalil perdeu a disputa no primeiro turno para o governador Romeu Zema (Novo), que disputava a reeleição. Kalil voltou à cena política em 2024, desta vez longe do PT, para apoiar a candidatura do deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos) à prefeitura. O parlamentar, que chegou a liderar pesquisas de intenção de voto, ficou em terceiro lugar.

O pleito foi vencido por Fuad Noman, vice de Kalil na eleição de 2020, que assumiu o governo em março de 2022, quando o então prefeito deixou a prefeitura para se candidatar ao Palácio Tiradentes. Os dois, que eram do PSD, romperam após Kalil deixar a prefeitura. Fuad, falecido em março de 2025, venceu a eleição do ano passado de virada, superando o deputado estadual Bruno Engler (PL) na disputa de segundo turno. O parlamentar havia ficado em primeiro na etapa inicial de votação. Com a morte de Fuad, Álvaro Damião, seu vice, assumiu a prefeitura.

Em entrevista a O Tempo em julho de 2025, quando ainda estava sem partido, Kalil afirmou que iria concorrer ao governo do estado em 2026, caso pesquisas de intenção de voto indicassem a possibilidade de sua candidatura se concretizar. Em agosto, Kalil apareceu em segundo lugar em levantamento sobre a corrida pelo Palácio Tiradentes. Durante a entrevista, o ex-prefeito afirmou que não seria candidato nem da esquerda, nem da direita, se apresentando como terceira via, exatamente como fez em sua primeira eleição para a prefeitura, quando disputou o cargo pelo nanico PHS, vencendo no segundo turno o candidato do então gigante PSDB, o à época deputado estadual João Leite.

A reportagem entrou em contato com Kalil para entrevista sobre a ida ao PDT, mas não houve retorno. O presidente da legenda em Minas Gerais, deputado federal Mário Heringer, afirma que o ato de filiação do ex-prefeito de Belo Horizonte em Brasília é pela importância que a legenda dará à candidatura do novo filiado em Minas Gerais. Conforme Heringer, o partido quer lançá-lo ao governo do estado. O dirigente minimizou uma suposta dificuldade de relacionamento de Kalil com partidos e ex-aliados. "Essa história de temperamento é um pano de fundo para quem quer transitar pelo caminho da intolerância", declarou Heringer.

Liderança mais popular do PDT em Minas Gerais, a deputada federal Duda Salabert afirma que a candidatura de Kalil no ano que vem é prioritária nacionalmente para o partido. "O partido vai colocar força total na campanha do ex-prefeito em Minas", afirma a parlamentar. Segundo Duda, o novo companheiro de legenda será candidato ao governo do estado. A deputada afirma não haver nenhum outro nome mais forte que o de Kalil no campo da centro-esquerda. Tanto a deputada como o presidente estadual do PDT afirmaram ainda ser cedo para saber quem serão os companheiros de chapa do ex-prefeito. Além de governador e vice, as eleições do ano que vem vão definir ainda dois senadores por estado.

O deputado estadual Alencar da Silveira, um dos integrantes mais antigos do PDT em Minas, afirmou que Kalil é "a cara do PDT". "É uma liderança em Minas Gerais e já provou isso, sendo um excelente administrador na Prefeitura de Belo Horizonte. Kalil tem a cara do PDT e vai poder ser o que quiser. Se decidir disputar o governo do estado, terá o nosso apoio. Se a opção for para o Senado, também terá o nosso respaldo", disse o parlamentar. Alencar está de saída da Assembleia, após ter sido eleito conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE).

Outra liderança do PDT, o vereador Bruno Miranda, presidente do partido em Belo Horizonte, Kalil tem o nome cotado para disputa ao governo do estado, mas a decisão final sobre a qual cargo se lançar caberá ao ex-prefeito e ao comando do PDT. "Kalil é uma liderança e tem um peso relevante no estado", disse Miranda.

Especialista aponta dificuldade para Kalil ocupar espaço de "centro"

O professor do Instituto de Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia, Moacir de Freitas Júnior, avalia ser complicado para o ex-prefeito Alexandre Kalil ocupar um espaço de "centro", em referência ao desejo do novo filiado ao PDT de não ser nem de esquerda, nem de direita. "Um ângulo pelo qual podemos analisar é a de posicionar sua candidatura ao governo como "caminho do meio", ocupando este espaço, tal como tentou Ciro Gomes em 2022, sem sucesso. É uma possibilidade, mas penso que este espaço de "centro" não tem força para se viabilizar agora", avaliou o professor.

Freitas acredita também que Kalil terá dificuldade na montagem de sua chapa. "Um outro ângulo pelo qual podemos olhar a filiação é pelo fato de que o espaço político de Kalil está estreito, não lhe restando muitas alternativas para entrar no jogo eleitoral. Não há lugar para ele na direita porque este campo está com muitos nomes mais bem posicionados; na esquerda, também não há, porque Kalil fechou portas nas eleições de 2022 e não se tem notícia de que ambas as partes pretendam reabri-las, ainda que não seja impossível", disse.

Para o especialista, porém, a chegada do ex-prefeito ao PDT, para a legenda, é um acerto. "(O partido) ganha uma liderança estadual forte, pode vir a ter uma chapa própria e, com isso, melhorar a votação para (deputados) federais e estaduais, fortalecendo a legenda", analisou o professor. A cerimônia de filiação do ex-prefeito de Belo Horizonte nesta quarta-feira contará ainda com a presença de deputados federais e senador da legenda. A cerimônia está marcada para as 17h na sede da sigla.