SEGUNDO TURNO

A eleição para a Prefeitura de Belo Horizonte entrou na fase do "quem vai ficar com quem". A movimentação, típica de pleitos em que não existe a possibilidade de definição do vencedor no primeiro turno, mexe tanto com os candidatos que podem ir para o segundo turno como com os que vão ficar pelo caminho.

A mais recente pesquisa DATATEMPO mostra três candidatos com chances mais evidentes de irem para a próxima etapa de votação: Mauro Tramonte (Republicanos), Bruno Engler (PL), e Fuad Noman (PSD), que disputa a reeleição. A definição dos dois candidatos que se enfrentarão no duelo final acontece no próximo domingo (6 de outubro), na disputa do primeiro turno. Todos de olho em votos que podem herdar.

Apesar da proximidade com o pleito atiçar a todos os candidatos -no caso de Belo Horizonte são dez os envolvidos na disputa-, os comitês dos concorrentes, principalmente dos que têm chances de seguirem na briga pela prefeitura, e seus aliados, evitam falar abertamente sobre apoios. Diante disso, especialistas ouvidos por O TEMPO analisam os mais possíveis cenários que poderão sair das urnas no próximo domingo.

Tramonte X Engler

Um dos confrontos possíveis é entre os deputados estaduais Mauro Tramonte e Bruno Engler. Tramonte lidera a mais recente pesquisa DATATEMPO, divulgada nesta semana, com 26,5% das intenções de voto. Engler vem em seguida, com 21,2%, em um empate dentro da margem de erro, que é de 2,83 pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa foi registrada no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG) sob o número 08738/2024.

O embate, conforme o coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), Robson Sávio, evidenciaria no segundo turno, com o campo da direita, algo que aconteceu no primeiro turno com a esquerda. "A esquerda se dividiu no primeiro turno e, com esse cenário, a direita estaria dividiria no segundo turno", lembra o professor.

A declaração do professor se refere ao fato de o PT, do candidato Rogério Correia, não ter conseguido aliança com o PDT, da candidata Duda Salabert. Na avaliação do professor, o cenário entre Tramonte e Engler seria, inclusive, o pior possível para as candidaturas de esquerda, que ficariam sem opções caso tivessem o interesse de apoiar um nome no segundo turno. Duda tem 6,8% na pesquisa DATATEMPO. Rogério tem 4,4%.

A expectativa maior nesse caso, porém, na avaliação do professor, seria em relação ao comportamento do prefeito Fuad, que tem 17,2% na pesquisa, e disputa a ida ao segundo turno diretamente com Engler. As atenções estariam mais voltadas a Fuad porque teria que decidir entre apoiar Tramonte, que tem como padrinho o ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (sem partido), de quem o prefeito foi vice, e hoje é seu desafeto, ou o bolsonarista se unir ao bolsonarista Engler.

Tramonte X Fuad

A busca pela concretização desse cenário já vem acontecendo dentro de alas da esquerda na capital, inclusive na campanha de Rogério Correia. Filiados ao PV, partido coligado ao PT na disputa pela prefeitura, já anunciaram apoio a Fuad. O objetivo dos "infiéis" é o de evitar exatamente um segundo turno entre dois concorrentes da direita.

No possível embate entre Tramonte e Fuad, um cenário pitoresco ocorreria na eleição na capital, que seria a disputa entre o "criador" e a "criatura". Fuad, a "criatura", foi secretário de governos do PSDB em Minas, mas chegou ao cargo de prefeito após ter sido vice de Kalil. O atual chefe do Poder Executivo municipal assumiu o comando da cidade quando o "criador", que hoje apoia Tramonte, deixou o governo para disputar a eleição ao Palácio Tiradentes, em 2022.

A chegada de Fuad ao segundo turno, porém, dependeria do sucesso dos movimentos da esquerda que buscam apoiá-lo, segundo o especialista em direito eleitoral, Luiz Gustavo Riani. "(Fuad) vai ser a alternativa da esquerda, mas nem todos neste campo político vão abraçar sua candidatura (caso o candidato vá para o segundo turno)". Segundo o especialista, alas mais radicais da esquerda, porém, não apoiariam o prefeito no segundo turno.

Engler X Fuad

É o cenário, a partir da pesquisa DATATEMPO, menos provável para ocorrer no momento. Exigiria, conforme o professor do Instituto de Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Moacir de Freitas Júnior, uma movimentação de votos saindo de Tramonte e indo para Engler, além do sucesso da migração de votos da esquerda para Fuad.

Na avaliação do professor, os apoios no segundo turno seriam dados a partir dos interesses dos partidos dos candidatos no segundo turno, e também das legendas derrotadas no primeiro turno, almejam para 2026, quando haverá eleições para o governo do estado e para a Presidência da República.

No caso de Fuad no segundo turno, a esquerda lhe daria apoio, pelo fato de o PSD já fazer parte da base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Congresso Nacional. Especificamente em relação a Minas Gerais, a composição poderia ser uma preliminar na união das duas legendas contra o grupo político do governador Romeu Zema (Novo), partido que Luísa Barreto como vice na chapa de Tramonte. 

Pelo lado de Engler, existe a possibilidade de uma nova divisão entre a direita, conforme o professor, com alas mais ligadas ao bolsonarismo ficando com o candidato e outras optando por caminhos diferentes. "É uma reta final muito vibrante", diz Freitas. Entre os partidos de direita com candidatos à prefeitura da capital está o Podemos, do candidato Carlos Viana, que tem 3,1% nas intenções de voto, conforme o DATATEMPO.

Não há consenso entre os especialistas sobre quem o candidato deverá apoiar caso se confirme os três cenários analisados. Acima de Viana na pesquisa está o candidato Gabriel Azevedo (MDB), com 4,2% das intenções de votos. A legenda também participa da base do presidente Lula no Congresso Nacional. Gabriel, assim como outros concorrentes com menor pontuação no levantamento, como Rogério, Duda e Viana, afirma que irá para o segundo turno.