INVESTIGAÇÃO


Uma ex-assessora do gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) na época em que ele era deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), admitiu a existência do esquema de rachadinha no gabinete do parlamentar. As informações foram reveladas pelo jornal O Globo, que teve acesso ao depoimento. Nele, Luiza Sousa Paes informou ao Ministério Público do Estado do Rio (MP-RJ) que nunca atuou como servidora para o então deputado e que era obrigada a devolver mais de 90% dos vencimentos.


Flávio foi denunciado pelo MP-RJ ao Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) por organização criminosa, peculato, lavagem de dinheiro e apropriação indébita, supostamente ocorridos entre 2007 e 2018. Também foi denunciada a mulher do senador, Fernanda Antunes Bolsonaro. Além dos dois, há mais 14 denunciados, entre os quais o ex-assessor Fabrício Queiroz; a mulher dele, Márcia Aguiar; e as filhas Nathalia e Evelyn Queiroz.


Em depoimento, Luiza Paes afirmou que descobriu que teria que devolver parte dos rendimentos quando foi tomar posse. Além do salário, ela tinha que repassar o 13º, as férias e o vale-alimentação. Segundo o jornal, o primeiro salário bruto dela foi de R$ 4.966,45, quando estava lotada no gabinete de Flávio, e o último, de R$ 5.264,44, quando estava na TV Alerj. Ao MP, no entanto, ela informou que ficava com apenas R$ 700. Conforme processo, a ex-assessora apresentou extratos mostrando que depositou e transferiu, aproximadamente, R$ 160 mil para Fabrício Queiroz, entre 2011 e 2017.


Luiza Paes informou aos investigadores saber de outras pessoas que também atuavam da mesma maneira: não trabalhavam e devolviam os salários. Ela também foi um dos alvos da operação de junho deste ano, que prendeu Fabrício Queiroz — ele cumpre prisão domiciliar, com tornozeleira eletrônica.


Em nota, a defesa de Flávio Bolsonaro disse que “está impedida de comentar informações que estão em segredo de Justiça”, mas que “pode afirmar que o parlamentar não cometeu qualquer irregularidade e que ele desconhece supostas operações financeiras entre ex-servidores da Alerj”. “A defesa garante, ainda, que todas as contratações feitas pela Alerj, até onde o parlamentar tem conhecimento, seguiam as regras da assembleia legislativa. E que qualquer afirmação em contrário não passa de fantasia e ficção”, ressaltou.


Sobre a denúncia do MP, a defesa do parlamentar afirmou que ela já era esperada, “mas não se sustenta”. “Dentre vícios processuais e erros de narrativa e matemáticos, a tese acusatória forjada contra o senador Bolsonaro se mostra inviável, porque desprovida de qualquer indício de prova. Não passa de uma crônica macabra e mal engendrada”, destacou. “Acreditamos que sequer será recebida pelo Órgão Especial. Todos os defeitos de forma e de fundo da denúncia serão pontuados e rebatidos em documento próprio, a ser protocolizado tao logo a defesa seja notificada para tanto.”


Judiciário


O caso de Flávio está no Órgão Especial do TJ porque, em junho, pouco depois da prisão de Queiroz, o senador conseguiu, na 3ª Câmara Criminal do TJ-RJ, o direito ao foro privilegiado, retirando o processo das mãos do juiz Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal. A alegação é que Flávio era deputado estadual na época que ocorreram os fatos, tendo exercido a função até assumir o cargo de senador, no começo do ano passado.