Por sua imprevisibilidade e profusão de potenciais candidatos, a eleição presidencial de 2018 tem sido constantemente comparada com a de 1989. O surpreendente anúncio de Fernando Collor de que deseja disputar de novo, após ter vencido o primeiro pleito do país pós-redemocratização e sido tirado do cargo em 1992, soma-se às já fartas semelhanças entre as duas votações.
Collor poderia voltar a concorrer contra Lula, outro que deseja um repeteco de 1989 (e de 1994, 1998, 2002 e 2006...), embora suas chances de disputar estejam reduzidas devido à Lei da Ficha Limpa.
Há ainda a sombra de um presidente impopular: Michel Temer hoje, José Sarney ontem, que atrapalha pré-candidatos de siglas governistas.
Com a ditadura terminada havia apenas quatro anos, o discurso de direita nacionalista foi representado em 1989 por Enéas Carneiro, que não chegou a 1% dos votos.
Hoje, com o regime extinto há mais de três décadas, Jair Bolsonaro, declaradamente entusiasta de Enéas e do período militar, chega a liderar, por enquanto, no cenário sem Lula. Apesar do desempenho do deputado, o Brasil de hoje aposta mais na democracia do que antes, embora haja tendência de queda no apoio.
O Brasil de agora e o de 1989 acumulam outras diferenças significativas. Com a Constituição democrática então recém-promulgada, o país daquele ano era menos urbano, de população menos longeva e com mais analfabetos e mortalidade infantil. Mas também era menos violento e tinha menos desemprego.
Era ainda um país consideravelmente mais pobre. A inflação, agora controlada, chegou a quase 2.000%.
O Brasil de hoje é menos dependente da televisão para se informar. Cerca de um terço dos brasileiros têm TV por assinatura, e é amplo o acesso à internet e às redes sociais, com tudo que isso significa em termos de diversidade de fontes de informação e, também, de notícias falsas.
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