Presidenciáveis desviam de questões espinhosas no confronto transmitido pelo SBT.
Daciolo diz que “há fraudes nas urnas eletrônicas”, mas profetiza própria vitória em primeiro turno
Não houve saia justa no quinto debate entre os candidatos à Presidência da República. Mesmo questionados diretamente sobre questões incômodas, como a demora para a conclusão de obras em São Paulo, no caso do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), ou as visitas semanais ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cadeia, no caso de Fernando Haddad (PT), os presidenciáveis que se encontraram nos estúdios do SBT nesta quarta-feira souberam desviar habilmente das cascas de banana jogadas por seus adversários e pelos jornalistas que participaram do debate. Apenas o deputado Cabo Daciolo (Patriota-RJ) saiu do script, e talvez por isso tenha voltado a se destacar entre os colegas.
Apesar de ter perdido mais um debate por estar hospitalizado, o líder das pesquisas, Jair Bolsonaro (PSL-RJ), frequentou as discussões principalmente pelas bocas de Guilherme Boulos (PSOL) e de Alckmin, que não chegou a se referir diretamente a seu nome. Já os maiores ataque ao PT de Haddad partiram do senador Alvaro Dias (Podemos–PR), de Alckmin e de Marina Silva (Rede), em especial quando foi ligada ao Governo de Michel Temer pelo petista em pergunta sobre o teto de gastos e a reforma trabalhista.
Ciro Gomes (PDT), em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, finalizou sua participação no mais curto dos debates até agora, de apenas três blocos, criticando o voto útil para Bolsonaro ou PT. Ao dizer que “o Brasil não aguenta mais essa polarização", o ex-governador do Ceará pediu uma chance no segundo turno: "Todas as pesquisas mostram que eu ganho do Bolsonaro ou do Haddad no segundo turno". Questionado sobre possíveis apoios de PT e MDB em seu Governo, Ciro disse que “se puder governar sem o PT, eu prefiro" e poupou apenas três nomes do MDB: o senador Roberto Requião (PR), o deputado Jarbas Vasconcelos (PE) e Mauro Benevides, um dos coordenadores de seu programa econômico. Segundo ele, o PT se transformou em “uma estrutura de poder odienta” que gerou Bolsonaro.
Alckmin, que ainda almeja um lugar no segundo turno, reforçou o coro de Ciro ao defender que o PT não pode voltar, “nem o candidato da discriminação”. Quando não estava tentando minar a candidatura Bolsonaro ou fazendo críticas ao PT, Alckmin chamou atenção para os feitos de seu Governo em São Paulo e pautou o debate sobre saúde e moradia. Ao ser questionado por Boulos sobre a máfia da merenda e o fechamento de escolas, o tucano disse que o esquema de fraude na compra de merenda foi desmontado pelo seu Governo e, em crítica ao adversário do PSOL, destacou que nunca invadiu propriedades — uma alfinetada que Henrique Meirelles (MDB) usou nos últimos debates para se defender dos ataques de Boulos.
Meirelles, aliás, também chamou atenção para seu próprio currículo, de ex-ministro da Fazenda e de presidente do Banco Central durante o Governo Lula, e voltou a prometer a criação de 10 milhões de empregos. Ele corrigiu Daciolo ao ser chamado de banqueiro — é “bancário” — e se defendeu das críticas de Alvaro Dias sobre os empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nos últimos governos. “Recuperamos muitos empréstimos, inclusive [dados] para outros países, como a Venezuela", disse, em relação a sua participação no Governo Temer. Ao ser questionado sobre se daria um cargo a Temer em seu governo, contudo, Meirelles desconversou e disse que é "ficha limpa".
Alvaro Dias, por sua vez, reforçou seu discurso de combate à corrupção e refez críticas ao PT, que ele chamou de “organização criminosa”. Ao questionar Haddad, ele mencionou o plano para isentar de imposto de renda quem ganha menos de 5.000 reais por mês. “Você, que chegou como representante do preso que está em Curitiba, diz que fará a mesma coisa. Por que não fizeram antes?”, questionou. Perguntado sobre moradia por Alckmin, o senador mencionou o plano de entregar a documentação de 5 milhões de imóveis irregulares em favelas e na área rural, aludindo a seu vice, o economista Paulo Rabello de Castro. Dias terminou suas considerações finais anunciando que iria a Itaquera assistir à partida entre Corinthians e Flamengo, que jogam pela semifinal da Copa do Brasil.
Propostas
Marina Silva foi a que resumiu melhor suas propostas, ao mencionar programas específicos, como o Vida Digna, que prevê a abertura de 2 milhões de vagas em creches, e o Renda Jovem, que tem a intenção de combater a evasão escolar e garantiria a cada estudante que terminar o ensino médio 3.600 reais. Ela prometeu lançar o programa no Piauí nesta quinta-feira. A candidata voltou a destacar o discurso de apelo ao eleitorado feminino, chamando atenção para o fato de que é era a única candidata à Presidência no debate, e finalizou sua participação de forma espirituosa: "Quando tem bagunça dentro da família, ninguém chama o Meirelles, chama uma mulher corajosa".
Haddad usou seu tempo para prometer emprego e a volta do crescimento, além de lembrar seu tempo como ministro da Educação do Governo Lula, criticar o PSDB e os adversários que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff. Questionado sobre se Lula é seu "posto Ipiranga", numa alusão do jornalista Fernando Canzian ao economista Paulo Guedes, avalista no mercado da candidatura Bolsonaro, Haddad disse que ele é o candidato agora. "Toda aliança que eu vier a fazer no meu governo terá um pressuposto: os deputados e senadores concordam com aquela plataforma?", disse, em referência ao seu programa de governo.
Já Guilherme Boulos concentrou suas intervenções em ataques à gestão Alckmin em São Paulo e de Temer no Palácio do Planalto. Questionado sobre a possível realização de plebiscitos sobre temas relacionados a drogas, ele respondeu que o faria, mas não sem antes esclarecer para a população questões que, para ele, não estão bem explicadas no debate público. Boulos também mencionou a intenção de fazer "auditoria em corporações como a Kroton", em referência à gigante de educação, e de aumentar o número de vagas no ensino superior público.
O debate só saiu do tom presidencial quando o deputado Cabo Daciolo apareceu. Fazendo menção à expressão utilizada por Ciro Gomes no primeiro debate presidencial, Daciolo disse mais de uma vez que “a democracia é uma delícia”. Foi Ciro, inclusive, seu primeiro alvo no debate: "O senhor ficou doente, correu para o Sírio-Libanês, por que não foi para um hospital público?”, questionou. Ciro, que passou por intervenção cirúrgica na próstata na quarta-feira, justificou a escolha dizendo que seu médico atende no Sírio-Libanês e aproveitou para mencionar seu programa para instituir prêmios para unidades de saúde que cumpram metas.
Daciolo também criticou o montante gasto na campanha via fundo eleitoral e fundo partidário, destacando que gastou apenas 700 reais em sua campanha, enquanto Meirelles desembolsou 43 milhões de reais. Questionado sobre cotas, o deputado disse que apoia a política e que não pretende fazer reforma na Previdência. Perguntado por Boulos sobre políticas para mulheres, Daciolo prometeu montar um ministério com o mesmo número de homens e mulheres e fez aceno a suas mãe e mulher: “Mãe, eu te amo, varoa, eu te amo". Apesar de defender o voto impresso e dizer que “há fraudes nas urnas eletrônicas”, o candidato do Patriota profetizou a própria vitória em primeiro turno, com 51% dos votos.
Veja como se desenrolou o debate
Rodolfo Borges
Alvaro Dias diz que foi expulso do PSDB e volta a falar sobre a morte do ex-prefeito Celso Daniel. “É preciso impedir a volta da organização criminosa”, diz, em referência ao PT, e acrescenta que irá para Itaquera assistir ao jogo entre Corinthians e Flamengo, pela Copa do Brasil.
Marina Silva destaca que é mulher entre outros sete candidatos homens. "Quando tem bagunça dentro da família, ninguém chama o Meirelles, chama uma mulher corajosa", diz Marina.
Geraldo Alckmin diz que o Brasil virou um país caro e que não pode errar. "Nem o PT voltar, nem o candidato da discrimação", diz, sem mencionar o nome de Jair Bolsonaro.
Fernando Haddad fala em ampliar a oportunidade de emprego, de trabalho e de educação para sair da crise. Faz menção aos primeiros 12 anos de Governo do PT.
Henrique Meirelles critica o nível do debate e diz que é preciso escolher alguém de confiança. "Chame o Meirelles e vote 15", finaliza.
Ciro Gomes fala contra voto útil para Bolsonaro ou para o PT. "O Brasil não aguenta mais essa polarização", diz, ao pedir uma chance no segundo turno. "Todas as pesquisas mostram que eu ganho do Bolsonaro ou do Haddad no segundo turno".
Guilherme Boulos diz que é preciso ter coragem e lado. "Se você também é contra esse sistema político falido e acha que pode fazer diferente, vote 50".
Começam as considerações finais. Daciolo "profetiza" que vai ser o próximo presidente da República em primeiro turno com 51% dos votos.
Daciolo defende o voto impresso, porque "há fraudes nas urnas eletrônicas"
Questionado por Guilherme Boulos, Daciolo promete ministério com mesmo número de homens e mulheres. "Mãe, eu te amo, varoa, eu te amo", diz o candidato ao se dirigir a sua mãe e a sua mulher.
Guilherme Boulos defende a desmilitarização das polícias ao ser questionado por Ciro Gomes sobre políticas para a juventude. Ciro promete escola em tempo integral para o ensino médio e "estágio pago pelo governo". Na sequência, Boulos diz que é preciso aumentar o número de vagas nas universidades públicas brasileiras. Ele também fala em fazer "auditoria em corporações como a Kroton".
Daciolo destaca os 2,6 bilhões de reais reservados para a campanha, valores que ele diz aue saíram da saúde e de outras áreas que poderiam atender à população. Ele menciona que Henrique Meirelles gastou 43 milhões de reais na campanha, enquanto ele desembolsou apenas 700 reias. Prometeu que não haverá reforma da Previdência em seu governo.
Cabo Daciolo questiona Marina Silva sobre os fundos eleitoral e partidário. Ela diz defender o financiamento público de campanha, mas critica o montante reservado e a forma como o dinheiro foi distribuído, privilegiando os maiores partidos.
Ciro Gomes defende o "fortalecimento de uma indústria da saúde no Brasil", inclusive para gerar empregos. Alvaro Dias teve negado direito de resposta a Fernando Haddad.
Alckmin lembra que Ciro Gomes foi secretário de saúde no Ceará e o questiona sobre suas propostas para a saúde. Ciro diz que o primeiro passo é revogar o teto de gastos e repete sua proposta de premiar unidade de saúde com bom desempenho. Alckmin promete investimenro no atendimento primário da saúde e no saneamento básico.
Ao questionar Fernando Haddad, Alvaro Dias diz que pretende isentar do imposto de renda que ganha menos de 5.000 reais por mês. "Você, que chegou como representante do preso que está em Curitiba, diz que que fará a mesma coisa. Por que não fizeram antes?", questinou. Haddad defende as gestões petistas e diz que Dias não mexe com banqueiros, talvez por ter algum compromisso com eles. "Na olimpíada da mentira, a ficção do PT ganha medalha de ouro", rebate Dias.
Marina Silva pergunta para Alvaro Dias sobre propostas para as mulheres recuperarem o emprego e combaterem o preconceito. Dias diz que 30 milhões de lares do Brasil são liderados por mulheres. Segundo ele, é preciso um choque de gestão na Secretaria da Mulher. O candidato do Podemos também promete investimento vigoroso na faixa etária de 0 a 5 anos, "para que a mulher seja uma mãe feliz". Marina fala no programa Vida Digna, com 2 milhões de vagas em creches. Alvaro Dias promete 4 milhões de vagas.
Henrique Meirelles (MDB) mira contra Geraldo Alckmin, questionando se ele pretende levar a Brasília a eficiência de um Governo que leva 20 anos para fazer uma estação de metrô. Na sequência, Fernando Haddad (PT) aproveita pergunta de Henrique Meirelles (MDB) para fazer crítica so Governo de Alckmin e ao Governo de Michel Temer.
O senador Alvaro Dias (Podemos) é questionado por jornalista sobre um possível apoio a Jair Bolsonaro no segundo turno. Ele critica as extremas esquerda e direita em sua resposta. Questionado sobre o empresário Joel Maluchelli, seu suplente no Senado e preso recentemente em operação policial no Paraná, Alvaro Dias diz que Malucelli se comprometeu a não assumir posto no Senado até a questão ser resolvida e destaca que o país não pode permitir a volta de uma organização criminosa ao poder.
Cabo Daciolo é questionado sobre política de cotas. Ele diz que o país é muito novo e que "essas pessoas não foram abraçadas há 130 anos". "Infelizmente, o mar de lama, a corrupção está no meio dos engravatados que não estão preocupados com o povo". Ele defende as políticas de cotas após ouvir a pergunta pela segunda vez.