Uma área nobre de Belo Horizonte, cheia de história, com vida noturna agitada, bares e restaurantes para diferentes públicos, além de comércio diversificado. Essa é uma das visões sobre a Savassi, um bairro da Região Centro-Sul da cidade cheio de nuances. Morar ou trabalhar por lá ou frequentar suas ruas é uma experiência que reserva vantagens, mas também pontos de conflito.

Para mostrar as diversas visões sobre esse pedaço privilegiado da cidade, o Estado de Minas ouviu representantes da comunidade, autoridades e pessoas comuns que indicam o que há de melhor e também o que precisa melhorar em uma das referências urbanas da capital, abalada recentemente por um crime bárbaro associado a transfobia e pelo ataque de vândalos a um de seus monumentos, mas que tenta transformar a indignação e a perplexidade despertadas por essas ocorrências em força para superar os problemas.

Helenio Soares Júnior, de 67 anos, é presidente da Associação de Moradores da Savassi, a Amosavassi. A entidade existe há cerca de três anos e foi criada exatamente com o propósito de melhorar o ambiente no entorno dos quarteirões das ruas Sergipe e Fernandes Tourinho, mas os planos se expandiram.

“Em primeiro lugar, é muito importante destacar a Savassi no âmbito nacional. O bairro ocupa o quinto lugar no ranking nacional de custo por metro quadrado habitacional”, afirma. À frente estão os bairros do Leblon e de Ipanema, no Rio de Janeiro, e do Itaim Bibi e de Pinheiros, em São Paulo.

“Muitos prós e alguns contras”

“Temos muitos prós e alguns contras. Precisamos trabalhar tanto para enaltecer o que é vantagem quanto para tentar melhorar o que achamos que são pontos fracos na Savassi. Tenho uma experiência muito grande, como executivo de grandes empresas multinacionais e estou colocando a serviço da associação toda essa experiência para fazer as coisas acontecerem de fato, executar o que precisa ser executado”, destaca o representante.

Entre as iniciativas propostas pela Amosavassi está o projeto “Olhos da Savassi”, uma parceria entre a associação e uma empresa de conservação predial. O objetivo, segundo o presidente da entidade, é reforçar o cuidado e a vigilância nas ruas do bairro.

“Duas pessoas circularão diariamente pela Savassi, registrando, por meio de câmeras, todas as não conformidades, como bueiros entupidos, lâmpadas queimadas, calçadas malconservadas, lixeiras danificadas, lixo colocado na calçada fora do horário, etc. Esses registros serão enviados em tempo real aos órgãos competentes, garantindo resposta rápida e eficaz da Prefeitura de BH”, diz postagem no perfil da associação em redes sociais.

Os dilemas das ruas

A auxiliar financeiro Laila Soares, de 37 anos, trabalha na Savassi há quase dois anos e define o ambiente como tranquilo. “Nunca passei por nenhum episódio de roubo. O comércio é bom. Conheço alguns bares, embora não frequente mais. As praças são boas para passar o horário de almoço. Sentar aqui, conversar um pouco com as colegas de trabalho, tomar um sorvete...”

Ela reclama, porém, do número de moradores em situação de rua que, segundo ela, aumentou nos últimos anos. “No comércio onde a gente trabalha, todo dia tem um dormindo na porta do estabelecimento. Fica difícil, eles não querem sair. Dá um trabalho para quem está no comércio, principalmente quando você tem que abrir e eles insistem em ficar”, explica.

O corretor de imóveis Alexandre Noce, de 62 anos, é frequentaldor do bairro e elege o quarteirão fechado entre as ruas Antônio de Albuquerque e Paraíba, famoso pelos bares e restaurantes, como a melhor atração do local. “É bom para o público, a opção de bares, restaurantes, não só no almoço, mas à noite também. Opções de comida, de restaurantes, de serviços...”

Mas Noce é outro que reclama do aumento dos moradores em situação de rua na região. “Acho que tinham que ter um olhar diferente para cá. Aumentar a segurança, tirar um pouco de gente das ruas, colocar em locais adequados. Tem muita loja fechada também. Deve ter alguma coisa nesse sentido, porque, se tem insegurança, a loja não abre.”

Expectativa de revitalização

Apesar dos problemas, o corretor acredita que a tendência é de melhora na situação do bairro em razão da construção de grandes prédios em diversos pontos. “Acho que a tendência é a Savassi voltar ao que era. Porque, há 15 anos, era muito boa. Depois que fizeram a reforma (em 2012), acho que deu uma abalada e não voltou ao que era antes”, acredita.

A dona de casa Rosemarie Penha, de 62 anos, mora na região há cerca de quatro décadas. Entre as melhores coisas do bairro, ela cita os bares e as lojas. “Temos as referências que a gente gosta, lojas que costumamos frequentar. Dá para fazer tudo a pé.”

Entre os problemas, ela destaca a insegurança. “Agora muitas lojas fecharam, tem mais moradores de rua. A gente fica mais insegura. Depois da pandemia piorou muito”, reclama.

Indignação diante do caso Alice
Na madrugada de 23 de outubro, Alice Martins Alves, mulher trans de 33 anos, foi espancada ao sair de uma lanchonete na Savassi. Dezoito dias depois, morreu em decorrência dos ferimentos, levando movimentos de defesa dos direitos LGBTQIAPN+ a repudiar a violência. Da mesma forma, a comunidade da região reagiu com indignação e perplexidade diante da barbárie. “O que eu percebi é que está todo mundo indignado, e que isso não deveria acontecer em lugar nenhum”, afirma o presidente da Amosavassi, Helenio Soares Júnior. Para além do repúdio gerado pela situação, porém, o representante da associação acredita que ela não reflete a rotina observada no bairro, que define como um ponto de diversidade humana muito rica em Belo Horizonte. Os suspeitos do crime contra Alice foram denunciados por feminicídio. Um deles está preso.