ENTREVISTA

A divisão da gestão agropecuária em dois ministérios, adotada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desde o início do mandato em 2023, foi criticada pelo presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Sistema Faemg Senar), Antônio Pitangui de Salvo. Para ele, a gestão das políticas públicas para o setor em duas frentes impacta, inclusive, na distribuição de recursos do Plano Safra. 

Salvo falou sobre o assunto durante entrevista ao podcast Café com Política, disponível no canal do Youtube de O TEMPO. No país, atualmente, são duas pastas: Ministério da Agricultura e Pecuária, sob a gestão de Carlos Fávaro, e Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, que tem à frente o ministro Paulo Teixeira. 

Questionado, o presidente da Faemg afirmou que a divisão dificulta a distribuição de recursos do Plano Safra, além de gerar uma polarização interna do setor. “E não existe divisão. Pequeno, médio, grande todo mundo é igual. Isso é o início de uma polarização desnecessária no Brasil”, comentou Salvo. 

Segundo ele, o porte da propriedade rural não está relacionado à capacidade produtiva e de rentabilidade de quem atua no setor. “Nós temos produtores de queijo, azeite, mel em Minas Gerais, por exemplo, que têm altíssimas rentabilidades e que têm seis hectares. Eles não são nem pequenos, são micro, são nan-produtores, vamos dizer assim, respeitosamente, e que têm alta competitividade”, completou. 

Plano Safra 

Para o ciclo 2024/2025, o governo liberou R$ 475,56 bilhões no Plano Safra. Do total, R$ 400,59 mirou o financiamento de atividades de médios e grandes agricultores empresariais, enquanto R$ 74,98 bilhões foram destinados à agricultura familiar. Os valores podem chegar à casa do R$ 500 bilhões até junho deste ano. 

“Apesar de ser um plano robusto, isso não é suficiente para nós plantarmos a safra. O suficiente é mais de R$ 1,3 trilhão para plantarmos. Então, a gente, e a gente que eu digo somos nós produtores rurais, precisamos de ir nas fontes financiadoras”, criticou Antônio Pitangui de Salvo. O presidente da Faemg salientou que o setor não conta com subsídios, e acaba prejudicado por outros fatores, como a alta da Selic, atualmente em 14,25%. 

“É muito difícil você conseguir ter dentro da sua propriedade alguma coisa que valha e que pague esse juros. Vamos exemplificar para vocês entenderem. Eu planto um hectare de milho e na colheita tenho 110, 115 sacas, como é o normal na média tecnologia. Mas sabe quanto me custou? 103, 105 sacas. E aí tenho um lucro de oito sacas em 110. Não precisa ser bom matemático para saber que isso é menos de 10% de lucro”, ilustrou Salvo.