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Na lista divulgada pelo YouTube, Tudo ok também aparece em primeiro, seguida por Sentadão (2º) e Te prometo (5º), de Dennis DJ e MC Don Juan. Mas como o brega-funk, que surgiu há dez anos com produções musicais caseiras e videoclipes de baixo orçamento, conseguiu um status de “ritmo de carnaval” em 2020? A explicação está nas transformações proporcionadas pela cultura digital.
Acesso das classes populares a computadores e celulares
No começo da década de 2000, existia um circuito de funk recifense que incitava rixas entre comunidades da cidade. Foram os “bailes de galera”, descobertos pela imprensa em uma série de reportagens de Marcionila Teixeira, do Diario de Pernambuco, em 2004. A Polícia Militar fechou as casas de shows e o movimento ruiu. A união de batidas eletrônicas do funk com o baixo e a latinidade do brega começou a ser feita em estúdios da periferia do Recife nessa época, como uma espécie de estratégia para os MCs continuarem as carreiras.
Frequentadores do baile funk do Teo, em Casa Amarela, em 2004. (Foto: Alcione Ferreira/DP)
Já naquela época, as faixas do brega-funk circulavam por plataformas como YouTube, Palco MP3 e 4Shared, adquirindo alta popularidade. Nomes como Sheldon, Cego, Tocha, Dadá Boladão e Tróia se tornaram celebridades locais, com alguns movimentos tímidos de expansão para outros estados, sempre ligados às regravações de grandes nomes do forró.
Clipe de Novinha Tá Querendo O Que, de MC Cego e Metal, do começo do brega-funk: https://www.youtube.com/watch?time_continue=13&v=CQYGYOR2F1c&feature=emb_logo
A primeira vez que o ritmo teve alcance nacional na mídia foi em 2018, com Envolvimento, de Loma e as Gêmeas, que viralizou com um vídeo caseiro no YouTube. Desde então, o processo de nacionalização tem se intensificado. Simone Pereira de Sá, pesquisadora e professora da Universidade Federal Fluminense, argumenta que o acesso das classes C e D aos computadores e celulares na década de 2000, fruto do estímulo ao consumo na era petista, revolucionaram a música periférica com o barateamento de estúdios portáteis, trocas de arquivos digitais e maior visibilidade de produções em circuitos autônomos.
Loma e as Gêmeas nas gravações do clipe caseiro de Envolvimento. (Foto: Divulgação)
"As plataformas digitais são fundamentais para reconfigurar a cultura da música por permitirem a circulação de gêneros musicais que não tinham acesso ao mainstream”, explica Simone. “Apesar das críticas que podemos fazer a uma certa opacidade do modelo de algoritmos, é fato que os gêneros periféricos se beneficiaram deste modelo descentralizado para construir redes locais e divulgar conteúdo que jamais circularia nos meios tradicionais, como televisão ou rádio", continua.
A rede de música pop periférica
A pesquisadora também desenvolveu o termo “rede de música pop periférica”, que descreve o fenômeno em que o consumo através do YouTube e do Spotify consegue criar hibridizações entre gêneros musicais já existentes. O brega-funk, ritmo acelerado e diversificado que vai sempre aderindo novas tendências ao longo dos anos, é um exemplo disso.
"Além do brega-funk, que está em alta neste momento, foi a rede de música pop periférica que deu origem ao funk ostentação paulista e ao passinho do Rio de Janeiro no começo desta década. Acho interessante que cada uma dessas misturas resulta de influências mútuas entre gêneros locais das periferias de cidades diferentes e constroem caminhos inusitados de circulação e troca, sem uma direção pré-determinada."
Clipe de Plaquê de 100, fenômeno do funk ostentação citado por Simone: https://www.youtube.com/watch?time_continue=8&v=gyXkaO0DxB8&feature=emb_logo
Desterritorialização, higienização e atualização da cena pernambucana
Thiago Soares, professor da UFPE e autor do livro Ninguém é perfeito e a vida é assim: A música brega em Pernambuco (2017, Outros Críticos), explica que, assim como em qualquer indústria, o sistema de entretenimento está sempre procurando “a novidade”. “O processo de nacionalização do brega-funk começou em 2018, quando produtoras de São Paulo começaram a se apropriar do ritmo. O carnaval foi um momento de reiterar essa narrativa das novidades. O interesse do Sudeste, que protagoniza o poder econômico do Brasil, é uma das comprovações dessa nacionalização. Thiaguinho MT e Pedro Sampaio são cariocas, por exemplo. A desterritorialização é integrante de um processo histórico da relação dos gêneros musicais com o mainstream.”
A principal questão, ainda sem resposta, é como o brega-funk vai se consolidar e se retroalimentar dentro dessa dinâmica. “Acredito que o processo de hibridização com outros gêneros vai se intensificar em relação às sonoridades, poéticas e danças”, opina Thiago Soares. “Já percebemos um brega-funk mais domesticado e com letras mais palatáveis. Se Léo Santana grava um brega-funk, estará ligado ao pagodão baiano. Se Anitta resolve incorporar, ela conversará mais com a música pop. E ao mesmo tempo em que o Brasil consome isso tudo, a cena do Recife começa a procurar outros elementos para se atualizar. É um movimento duplo. Existem artistas que estão unindo brega-funk ao trap, por exemplo. Também vemos cantores mais ativistas e MC mulheres com corpos menos sexualizados.”
Clipe de Ganster do Brega, união do trap com o brega-funk citado por Thiago: https://www.youtube.com/watch?time_continue=1&v=m-BBaYTVUhw&feature=emb_logo
Confira as listas divulgadas pelo Spotify, Deezer e YouTube:
Músicas mais ouvidas do carnaval no Spotify
1. Tudo Ok - Thiaguinho MT,, Mila e JS o Mão de Ouro
2. Liberdade Provisória - Henrique & Juliano
3. SENTADÃO - Pedro Sampaio, Felipe Original e JS o Mão de Ouro
4. Vem Me Satisfazer - DJ Henrique da VK, MC Ingryd
5. Combatchy (feat. MC Rebecca) - Anitta, Lexa, Luísa Sonza, Mc Rebecca
6. A Gente Fez Amor - Gusttavo Lima
7. Surtada (Remix Brega-Funk) - Dadá Boladão, OIK, Tati Zaqui
8. Graveto - Ao Vivo - Marília Mendonça
9. S de Saudade - Luíza & Maurílio, Zé Neto & Cristiano
10. Rave de Favela - Anitta, MC Lan, Major Lazer
Músicas mais ouvidas do Recife no carnaval no Spotify
1. SENTADÃO - Felipe Original, JS o Mão de Ouro, Pedro Sampaio
2. Tudo Ok - JS o Mão de Ouro, Mila, Thiaguinho MT
3. Te Prometo - Dennis DJ, Mc Don Juan
4. Surtada - Remix Brega Funk - Dadá Boladão, OIK, Tati Zaqui
5. Amor de Que - Pabllo Vittar
6. Liberdade Provisória - Ao Vivo - Henrique & Juliano
7. Vem Me Satisfazer - DJ Henrique da VK, MC Ingryd
8. Combatchy (feat. MC Rebecca) - Anitta, Lexa, Luísa Sonza, Mc Rebecca
9. Contatinho - Ao Vivo Em São Paulo / 2019 - Anitta, Leo Santana
10. Bota Bota - 10G, MC Losk, Mc Morena, Shevchenko e Elloco
Músicas mais ouvidas durante o carnaval 2020 no Deezer
1. Liberdade Provisória - Henrique & Juliano
2. Tudo Ok - Thiaguinho MT, JS o Mão de Ouro, Mila
3. Sentadão - Felipe Original, JS o Mão de Ouro, Pedro Sampaio
4. Dance Monkey - Tones and I
5. Contatinho - Léo Santana e Anitta
6. Combatchy - Anitta, Luísa Sonza, Lexa, Mc Rebecca
7. Surtada - Tati Zaqui, Dadá Boladão, Oik
8. A gente fez amor - Gusttavo Lima
9. Com ou sem mim - Gustavo Mioto
10. Só pra Castigar - Wesley Safadão
Músicas mais executadas durante o carnaval 2020 no YouTube
1. Tudo Ok - Thiaguinho MT, Mila, JS o Mão de Ouro
2. Sentadão - Pedro Sampaio, Felipe Original, JS o Mão de Ouro
3. Liberdade Provisória - Henrique & Juliano
4. Contatinho - Léo Santana, Anitta
5. Dennis DJ, MC Don Juan - Te Prometo
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Na lista divulgada pelo YouTube, Tudo ok também aparece em primeiro, seguida por Sentadão (2º) e Te prometo (5º), de Dennis DJ e MC Don Juan. Mas como o brega-funk, que surgiu há dez anos com produções musicais caseiras e videoclipes de baixo orçamento, conseguiu um status de “ritmo de carnaval” em 2020? A explicação está nas transformações proporcionadas pela cultura digital.
Acesso das classes populares a computadores e celulares
No começo da década de 2000, existia um circuito de funk recifense que incitava rixas entre comunidades da cidade. Foram os “bailes de galera”, descobertos pela imprensa em uma série de reportagens de Marcionila Teixeira, do Diario de Pernambuco, em 2004. A Polícia Militar fechou as casas de shows e o movimento ruiu. A união de batidas eletrônicas do funk com o baixo e a latinidade do brega começou a ser feita em estúdios da periferia do Recife nessa época, como uma espécie de estratégia para os MCs continuarem as carreiras.
Frequentadores do baile funk do Teo, em Casa Amarela, em 2004. (Foto: Alcione Ferreira/DP)
Já naquela época, as faixas do brega-funk circulavam por plataformas como YouTube, Palco MP3 e 4Shared, adquirindo alta popularidade. Nomes como Sheldon, Cego, Tocha, Dadá Boladão e Tróia se tornaram celebridades locais, com alguns movimentos tímidos de expansão para outros estados, sempre ligados às regravações de grandes nomes do forró.
Clipe de Novinha Tá Querendo O Que, de MC Cego e Metal, do começo do brega-funk: https://www.youtube.com/watch?time_continue=13&v=CQYGYOR2F1c&feature=emb_logo
A primeira vez que o ritmo teve alcance nacional na mídia foi em 2018, com Envolvimento, de Loma e as Gêmeas, que viralizou com um vídeo caseiro no YouTube. Desde então, o processo de nacionalização tem se intensificado. Simone Pereira de Sá, pesquisadora e professora da Universidade Federal Fluminense, argumenta que o acesso das classes C e D aos computadores e celulares na década de 2000, fruto do estímulo ao consumo na era petista, revolucionaram a música periférica com o barateamento de estúdios portáteis, trocas de arquivos digitais e maior visibilidade de produções em circuitos autônomos.
Loma e as Gêmeas nas gravações do clipe caseiro de Envolvimento. (Foto: Divulgação)
"As plataformas digitais são fundamentais para reconfigurar a cultura da música por permitirem a circulação de gêneros musicais que não tinham acesso ao mainstream”, explica Simone. “Apesar das críticas que podemos fazer a uma certa opacidade do modelo de algoritmos, é fato que os gêneros periféricos se beneficiaram deste modelo descentralizado para construir redes locais e divulgar conteúdo que jamais circularia nos meios tradicionais, como televisão ou rádio", continua.
A rede de música pop periférica
A pesquisadora também desenvolveu o termo “rede de música pop periférica”, que descreve o fenômeno em que o consumo através do YouTube e do Spotify consegue criar hibridizações entre gêneros musicais já existentes. O brega-funk, ritmo acelerado e diversificado que vai sempre aderindo novas tendências ao longo dos anos, é um exemplo disso.
"Além do brega-funk, que está em alta neste momento, foi a rede de música pop periférica que deu origem ao funk ostentação paulista e ao passinho do Rio de Janeiro no começo desta década. Acho interessante que cada uma dessas misturas resulta de influências mútuas entre gêneros locais das periferias de cidades diferentes e constroem caminhos inusitados de circulação e troca, sem uma direção pré-determinada."
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Desterritorialização, higienização e atualização da cena pernambucana
Thiago Soares, professor da UFPE e autor do livro Ninguém é perfeito e a vida é assim: A música brega em Pernambuco (2017, Outros Críticos), explica que, assim como em qualquer indústria, o sistema de entretenimento está sempre procurando “a novidade”. “O processo de nacionalização do brega-funk começou em 2018, quando produtoras de São Paulo começaram a se apropriar do ritmo. O carnaval foi um momento de reiterar essa narrativa das novidades. O interesse do Sudeste, que protagoniza o poder econômico do Brasil, é uma das comprovações dessa nacionalização. Thiaguinho MT e Pedro Sampaio são cariocas, por exemplo. A desterritorialização é integrante de um processo histórico da relação dos gêneros musicais com o mainstream.”
A principal questão, ainda sem resposta, é como o brega-funk vai se consolidar e se retroalimentar dentro dessa dinâmica. “Acredito que o processo de hibridização com outros gêneros vai se intensificar em relação às sonoridades, poéticas e danças”, opina Thiago Soares. “Já percebemos um brega-funk mais domesticado e com letras mais palatáveis. Se Léo Santana grava um brega-funk, estará ligado ao pagodão baiano. Se Anitta resolve incorporar, ela conversará mais com a música pop. E ao mesmo tempo em que o Brasil consome isso tudo, a cena do Recife começa a procurar outros elementos para se atualizar. É um movimento duplo. Existem artistas que estão unindo brega-funk ao trap, por exemplo. Também vemos cantores mais ativistas e MC mulheres com corpos menos sexualizados.”
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Confira as listas divulgadas pelo Spotify, Deezer e YouTube:
Músicas mais ouvidas do carnaval no Spotify
1. Tudo Ok - Thiaguinho MT,, Mila e JS o Mão de Ouro
2. Liberdade Provisória - Henrique & Juliano
3. SENTADÃO - Pedro Sampaio, Felipe Original e JS o Mão de Ouro
4. Vem Me Satisfazer - DJ Henrique da VK, MC Ingryd
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6. A Gente Fez Amor - Gusttavo Lima
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8. Graveto - Ao Vivo - Marília Mendonça
9. S de Saudade - Luíza & Maurílio, Zé Neto & Cristiano
10. Rave de Favela - Anitta, MC Lan, Major Lazer
Músicas mais ouvidas do Recife no carnaval no Spotify
1. SENTADÃO - Felipe Original, JS o Mão de Ouro, Pedro Sampaio
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5. Amor de Que - Pabllo Vittar
6. Liberdade Provisória - Ao Vivo - Henrique & Juliano
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9. Contatinho - Ao Vivo Em São Paulo / 2019 - Anitta, Leo Santana
10. Bota Bota - 10G, MC Losk, Mc Morena, Shevchenko e Elloco
Músicas mais ouvidas durante o carnaval 2020 no Deezer
1. Liberdade Provisória - Henrique & Juliano
2. Tudo Ok - Thiaguinho MT, JS o Mão de Ouro, Mila
3. Sentadão - Felipe Original, JS o Mão de Ouro, Pedro Sampaio
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5. Contatinho - Léo Santana e Anitta
6. Combatchy - Anitta, Luísa Sonza, Lexa, Mc Rebecca
7. Surtada - Tati Zaqui, Dadá Boladão, Oik
8. A gente fez amor - Gusttavo Lima
9. Com ou sem mim - Gustavo Mioto
10. Só pra Castigar - Wesley Safadão
Músicas mais executadas durante o carnaval 2020 no YouTube
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2. Sentadão - Pedro Sampaio, Felipe Original, JS o Mão de Ouro
3. Liberdade Provisória - Henrique & Juliano
4. Contatinho - Léo Santana, Anitta
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