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Choro domina espaços culturais em BH, estimulado por uma nova geração de artistas

29/05/2019 14h50 - Atualizado em 29/05/2019 14h55 por Paulo Henrique Silva/ Hoje em Dia


chorim.jpguntamente com o grupo Toca de Tatu, Lucas Telles se apresentará no Rio Montreux Jazz Festival, no Rio de Janeiro, na próxima semana/ Élcio Paraíso/BDMG Instrumental/divulgação /

 

 
O chorinho pode ser o gênero musical brasileiro mais antigo, cuja história remonta ao final do século 19, mas tem uma alma que permanece jovem e vibrante. A afirmação é baseada no número cada vez crescente de compositores e músicos que entram para uma pulsante roda de choro em Belo Horizonte, já nos primeiros anos de profissionalização. 
 
“Vivemos um momento efervescente na cidade”, comemora Lucas Telles, um dos quatro vencedores do Prêmio BDMG Instrumental, realizado neste mês. O chorinho foi um dos destaques do concurso, que teve ainda, entre os representantes, nomes como Marcela Nunes, Caetano Brasil e Luísa Mitre. Todos na faixa de 20 a 30 anos. 
 
“O choro já está presente em BH há muitos anos, mas hoje está mais vivo ainda”, afirma Telles, que comanda o grupo Toca de Tatu há nove anos. O momento é tão especial que, na próxima semana, o grupo estará no palco do Rio Montreux Jazz Festival, primeira edição brasileira do famoso festival suíço. 
 
Nas escolas
A revitalização do choro, explica Telles, foi possível pela difusão iniciada no fim da década de 1980, no Rio de Janeiro, por jovens grupos, o que acabou sendo replicado para o resto do país. Telles foi um dos que beberam desta fonte, estudando o gênero na Escola Portátil de Música, em que a linguagem do choro era a espinha dorsal do ensino musical.
 
“Nos anos 70, o choro sofreu uma queda, assim como outros gêneros, com a invasão cultural promovida pelo rock. Depois de estar meio esquecido, ele voltou a ser tocado bastante. Aliado a isso, muita gente passou a buscar formação acadêmica. Na faculdade, em algum momento você acaba passando pelo choro”, registra.
 
Ao longo do tempo, o choro viveu um efeito sanfona, dividindo épocas de grande e pouca visibilidade. De 2000 para cá, a gente teve uma série de iniciativas pelo país”
Caetano Brasil
 
Telles salienta que, mesmo que o estudante não opte pelo choro, o estilo se torna uma referência importante para explicar técnicas, arranjos e harmonias. “O choro tem uma coisa didática muito viva. É muito bom para as pessoas aprenderem um instrumento. Hoje, a quantidade de estudos acadêmicos em torno do choro é grande”.
 
Sem estigma
São fatores que, frisa o violonista, ajudaram a quebrar o estigma de choro como um gênero tocado por – e para – pessoas mais velhas. Devido ao hiato provocado pela influência do rock na década de 1970, hoje o chorinho é executado por músicos de qualquer idade. 
 
Os espaços dedicados ao ritmo na capital mineira refletem esse bom momento. Não há um dia sequer na cidade que o choro não esteja sendo tocado. São, em média, mais de 30 rodas fixas semanais. “Apesar de se chamar choro, é uma música muito alegre, que tem um ambiente muito acolhedor”, ressalta.
 
 
choro

A flaustista Marcela Nunes foi uma das vencedoras do 19º BDMG Instrumental

 
Participação de mulheres no chorinho também se destaca
 
Quando começou a participar das rodas de choro e a investir no gênero musical, Marcela Nunes podia contar nos dedos o número de mulheres que exibiam o mesmo interesse que ela. “Ainda é raro, mas há dez anos, éramos bem menos”, salienta.
 
Especialista em flauta transversal, a instrumentista de 33 anos explica que o choro, assim como todo o universo da música, ainda tem um traço machista, em que as mulheres só podem entrar como cantoras. “Antes, mulher viver de tocar música era uma coisa meio proibida”, avalia.
 
O sucesso dela e de Luísa Mitre, que já venceram concursos importantes, é fundamental para servir de exemplo, na avaliação da flautista. “Uma vê a outra tocar e se sente animada a seguir o mesmo caminho”, afirma. Em suas apresentações, ela geralmente está acompanhada de Luísa, da vibrafonista Natália Mitre e da contrabaixista Camila Rocha.
 
O encontro com o chorinho acabou sendo inevitável na faculdade – ela é bacharel e mestre em música pela UFMG. “Um dos grandes flautistas de nossa historia foi Pixinguinha, também um importante compositor de choro. A flauta casa bem com o choro”, afirma Marcela.
 
Junto com Renato Muringa, ela criou o grupo Choro Nosso, em 2012, projeto que trabalha com a prática, pesquisa e difusão do choro produzido em Minas Gerais. Às quintas-feira, a dupla se apresenta no bar O Muringueiro– Música e Gastronomia.
 
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O clarinestista Caetano Brasil faz parte da nova geração do choro em Minas Gerais

 
Caetano Brasil: sensação no BDMG Instrumental
 
O clarinetista Caetano Brasil foi uma dos sensações do BDMG Instrumental, chegando à semifinal do concurso como um grande “chorão”, como são chamados os compositores do estilo, apesar da pouca idade (25 anos). “Foi importante para desfazer essa imagem de que é música de velho, pelo menos para os não iniciados. O choro tem uma história viva, que vem dialogando com o espaço-tempo, sabendo se transformar e absorver novas influências “, assinala Caetano, que mergulhou no choro já bastante novo, apresentado ao gênero pelo professor de flauta doce de uma casa espírita que desenvolvia um projeto social em sua terra natal, Juiz de Fora. “Passei a ouvir e a tocar Jacob do Bandolim e Pixinguinha. Virou uma droga. Me viciei mesmo no choro”, registra. Ele define o gênero como uma música muito complexa e rica, que oferece muitas possibilidades. “É instigante e muito desafiadora”, avalia.