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Fruto de uma pesquisa iniciada há mais de 20 anos na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o peptídeo BZ371A é uma molécula sintética cuja origem remonta a anos de estudo sobre a ereção involuntária e dolorida, conhecida como priapismo, que é causada pelo veneno da aranha Phoneutria nigriventer, popularmente chamada de aranha armadeira. A substância — que promete fazer jus ao nome do aracnídeo e "armar a barraca" de qualquer pessoa sem maiores efeitos na saúde — teve a patente adquirida por uma empresa farmacêutica e, agora, já é testada em humanos e vem apresentando resultados promissores.
O avanço nos testes clínicos foi divulgado na última semana pela universidade mineira. A instituição explica que a aranha, encontrada em toda a América do Sul, é considerada uma das mais tóxicas do mundo e leva este nome devido à posição que fica antes do ataque, com as patas dianteiras levantadas. Identificada inicialmente por pesquisadores da Fundação Ezequiel Dias (Funed), a toxina da aranha e a dolorosa ereção causada por ela passaram a ser estudados pelos pesquisadores da UFMG, liderados pela professora Maria Elena de Lima, aposentada do Departamento de Bioquímica e Imunologia do ICB.
“É uma pesquisa inspirada pela nossa biodiversidade, que começa com o estudo do veneno de uma aranha e está próxima de gerar um possível medicamento. Isso ajuda a demonstrar por que a nossa fauna deve ser preservada: ela é uma fonte inesgotável de moléculas bioativas, e não conhecemos nem 1% desse potencial. Nosso trabalho, que é de ciência básica, busca identificar atividades biológicas de interesse nos venenos e detectar potenciais modelos de fármacos para uma ampla gama de doenças”, afirma Maria Elena.
Resultados empolgam
Após a venda da patente do potencial fármaco para impotência sexual à empresa Biozeus Biopharmaceutical, o peptídeo foi aprovado recentemente na fase 1 de testes clínicos, provando sua não toxicidade para humanos. No teste, realizado em homens e mulheres, os pesquisadores observaram que a aplicação tópica (direto na pele) gera uma vasodilatação com aumento do fluxo sanguíneo local, facilitando a ereção peniana "independentemente de qualquer outro estímulo".
Com isso, ficou provado o potencial do futuro medicamento em atender homens com disfunção erétil que, por diversos motivos, não podem utilizar os medicamentos para este fim hoje aprovados para comercialização no Brasil. Atualmente, o Viagra e o Cialis são medicamentos orais para tratar a condição. Porém, homens hipertensos ou portadores de diabetes grave possuem alguma contraindicação devido aos riscos de efeitos colaterais.
Agora, a Biozeus já se prepara para começar com a fase 2 dos ensaios clínicos com o BZ371A. Nesta segunda etapa de testes, a substância será testada em homens que passaram por prostatectomia (retirada da próstata) que sofrem de disfunção erétil.
O diretor executivo da Biozeus, Paulo Lacativa, explica que, na retirada da próstata, cortam-se vários terminais nervosos. Em razão do estigma que cerca as questões sexuais, muitos homens optam por protelar a operação, o que prejudica o tratamento de tumores e outras doenças que atingem o órgão. “A medicação, se bem-sucedida, deve, inclusive, favorecer o tratamento do câncer de próstata”, esclarece.
Na próxima etapa, a fase 3, os testes serão ampliados e poderão, inclusive, ser feitos em hospitais. Somente após isso o novo medicamento poderá ser validado como medicamento e passar a ser fabricado e comercializado nas farmácias.
“Talvez se torne a primeira vez em que uma descoberta da universidade brasileira resulta numa medicação que seja desenvolvida para todo o mundo. E acreditamos que esse caso bem-sucedido, conduzido por brasileiros no Brasil, com repercussão mundial, pode ser capaz de mudar todo o ecossistema de inovação em fármacos no país”, projeta Lacativa.
Remédio também poderá ajudar mulheres
Como a fase 1 dos testes incluiu mulheres, a segurança da aplicação da molécula neste sexo também acabou provada. Com isso, segundo a Biozeus, fica aberta a possibilidade para o desenvolvimento de uma medicação também para tratar a disfunção sexual feminina.
Segundo Paulo Lacativa, cerca de 40% das mulheres são afetadas por algum tipo de disfunção sexual, porém, a maioria delas não encontra tratamento adequado no mercado atual. “O aumento do fluxo sanguíneo local e da vascularização foi comprovado em estudos anteriores e pode ser uma oportunidade a ser explorada pela Biozeus em futuro próximo", disse o diretor executivo da indústria brasileira.
Veneno pode causar necrose do pênis
Maria Elena Lima, que atualmente é professora voluntária da UFMG, explica que, embora o veneno da aranha armadeira cause ereção sem qualquer estímulo sexual, a condição não é desejável, já que é bastante dolorida e pode ter efeitos desastrosos para a pessoa.
“O priapismo é uma ereção prolongada e dolorosa, que pode levar à necrose do pênis”, alerta. Por isso, é claro, não é recomendado que ninguém tente utilizar a picada da aranha para este fim.
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Fruto de uma pesquisa iniciada há mais de 20 anos na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o peptídeo BZ371A é uma molécula sintética cuja origem remonta a anos de estudo sobre a ereção involuntária e dolorida, conhecida como priapismo, que é causada pelo veneno da aranha Phoneutria nigriventer, popularmente chamada de aranha armadeira. A substância — que promete fazer jus ao nome do aracnídeo e "armar a barraca" de qualquer pessoa sem maiores efeitos na saúde — teve a patente adquirida por uma empresa farmacêutica e, agora, já é testada em humanos e vem apresentando resultados promissores.
O avanço nos testes clínicos foi divulgado na última semana pela universidade mineira. A instituição explica que a aranha, encontrada em toda a América do Sul, é considerada uma das mais tóxicas do mundo e leva este nome devido à posição que fica antes do ataque, com as patas dianteiras levantadas. Identificada inicialmente por pesquisadores da Fundação Ezequiel Dias (Funed), a toxina da aranha e a dolorosa ereção causada por ela passaram a ser estudados pelos pesquisadores da UFMG, liderados pela professora Maria Elena de Lima, aposentada do Departamento de Bioquímica e Imunologia do ICB.
“É uma pesquisa inspirada pela nossa biodiversidade, que começa com o estudo do veneno de uma aranha e está próxima de gerar um possível medicamento. Isso ajuda a demonstrar por que a nossa fauna deve ser preservada: ela é uma fonte inesgotável de moléculas bioativas, e não conhecemos nem 1% desse potencial. Nosso trabalho, que é de ciência básica, busca identificar atividades biológicas de interesse nos venenos e detectar potenciais modelos de fármacos para uma ampla gama de doenças”, afirma Maria Elena.
Resultados empolgam
Após a venda da patente do potencial fármaco para impotência sexual à empresa Biozeus Biopharmaceutical, o peptídeo foi aprovado recentemente na fase 1 de testes clínicos, provando sua não toxicidade para humanos. No teste, realizado em homens e mulheres, os pesquisadores observaram que a aplicação tópica (direto na pele) gera uma vasodilatação com aumento do fluxo sanguíneo local, facilitando a ereção peniana "independentemente de qualquer outro estímulo".
Com isso, ficou provado o potencial do futuro medicamento em atender homens com disfunção erétil que, por diversos motivos, não podem utilizar os medicamentos para este fim hoje aprovados para comercialização no Brasil. Atualmente, o Viagra e o Cialis são medicamentos orais para tratar a condição. Porém, homens hipertensos ou portadores de diabetes grave possuem alguma contraindicação devido aos riscos de efeitos colaterais.
Agora, a Biozeus já se prepara para começar com a fase 2 dos ensaios clínicos com o BZ371A. Nesta segunda etapa de testes, a substância será testada em homens que passaram por prostatectomia (retirada da próstata) que sofrem de disfunção erétil.
O diretor executivo da Biozeus, Paulo Lacativa, explica que, na retirada da próstata, cortam-se vários terminais nervosos. Em razão do estigma que cerca as questões sexuais, muitos homens optam por protelar a operação, o que prejudica o tratamento de tumores e outras doenças que atingem o órgão. “A medicação, se bem-sucedida, deve, inclusive, favorecer o tratamento do câncer de próstata”, esclarece.
Na próxima etapa, a fase 3, os testes serão ampliados e poderão, inclusive, ser feitos em hospitais. Somente após isso o novo medicamento poderá ser validado como medicamento e passar a ser fabricado e comercializado nas farmácias.
“Talvez se torne a primeira vez em que uma descoberta da universidade brasileira resulta numa medicação que seja desenvolvida para todo o mundo. E acreditamos que esse caso bem-sucedido, conduzido por brasileiros no Brasil, com repercussão mundial, pode ser capaz de mudar todo o ecossistema de inovação em fármacos no país”, projeta Lacativa.
Remédio também poderá ajudar mulheres
Como a fase 1 dos testes incluiu mulheres, a segurança da aplicação da molécula neste sexo também acabou provada. Com isso, segundo a Biozeus, fica aberta a possibilidade para o desenvolvimento de uma medicação também para tratar a disfunção sexual feminina.
Segundo Paulo Lacativa, cerca de 40% das mulheres são afetadas por algum tipo de disfunção sexual, porém, a maioria delas não encontra tratamento adequado no mercado atual. “O aumento do fluxo sanguíneo local e da vascularização foi comprovado em estudos anteriores e pode ser uma oportunidade a ser explorada pela Biozeus em futuro próximo", disse o diretor executivo da indústria brasileira.
Veneno pode causar necrose do pênis
Maria Elena Lima, que atualmente é professora voluntária da UFMG, explica que, embora o veneno da aranha armadeira cause ereção sem qualquer estímulo sexual, a condição não é desejável, já que é bastante dolorida e pode ter efeitos desastrosos para a pessoa.
“O priapismo é uma ereção prolongada e dolorosa, que pode levar à necrose do pênis”, alerta. Por isso, é claro, não é recomendado que ninguém tente utilizar a picada da aranha para este fim.