O patrimônio cultural de Minas não para de surpreender – e sempre brilha em arte, beleza e história para encantar moradores e visitantes. Em Mariana, primeira vila, cidade, capital e diocese do estado, restauradores descobriram, sob camadas de tinta e do tempo, uma pintura datada do século 18, na Matriz Nossa Senhora da Conceição, no distrito de Cachoeira do Brumado, a 27 quilômetros da sede do município da Região Central. “Até o fim do mês, o serviço no interior da igreja, contemplando os elementos artísticos, deve estar pronto. Então, vamos fazer uma festa. Já conversei sobre isso com o pároco José Geraldo Coura”, disse o secretário municipal de Cultura, Turismo e Patrimônio Histórico, Efraim Leopoldo Rocha. 

 
A pintura nos estilos barroco e rococó, da mesma época de término da construção do templo, conforme pesquisa, está localizada na parte superior do retábulo de São Miguel, no altar lateral direito (de quem entra no templo) e se encontrava debaixo de duas camadas de repintura: do fim do século e de 1945. A construção está em obras desde 2016, com recursos do Fundo Municipal do Patrimônio Cultural “deliberado pelo Conselho Municipal de Cultura, com recursos do ICMS Cultural (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). 

Segundo a Prefeitura de Mariana, a matriz já passou por restauração em seu altar-mor e nos altares laterais, com um investimento de cerca de R$ 350 mil, estando agora na segunda de três etapas desse processo de restauro. Desta vez, estão sendo investidos mais de R$ 190 mil, repassados do Fundo Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural (Fumpac), por deliberação do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de Mariana (Compat). “Vamos conseguir mais recursos para concluir outras partes, mas já podemos fazer a festa”, afirmou o secretário, destacando que cobertura e outros aspectos da obra civil não demandam intervenções. Continua depois da publicidade


Para conduzir o projeto, não foi preciso fechar a igreja. “Mesmo com os andaimes, todas as cerimônias religiosas vêm sendo realizadas. Cachoeira do Brumado tem uma cultura muito rica. É a terra das panelas de pedra e dos tapetes de sisal. A população zela muito pelo seu acervo, o que é muito importante para conservar.” Ressaltando a descoberta, Efraim conta que os fiéis e visitantes não terão muita dificuldade para ver a novidade, que está perto do arco-cruzeiro, entre o altar-mor e a nave. “Pelo tempo, estamos certos de que ninguém na comunidade viu essa obra antes da repintura”, acrescentou. 

 

Entusiasmo

De acordo com a Prefeitura de Mariana, a pintura foi descoberta pelas restauradoras Sandra Godoy e Adenice Souza. Sandra explica que “o trabalho estava em procedimento de desmonte e restauro do arco- cruzeiro, raspagem e recuperação dos primeiros revestimentos feitos nos púlpitos e retábulos laterais” quando houve o achado, inesperado, dos primeiros vestígios do desenho. “Ao iniciarmos o procedimento do lado esquerdo, descobrimos que, antes da repintura, havia sido feita toda a remoção de uma pintura original, e já esperávamos que acontecesse o mesmo do outro lado. Quando passamos para o lado direito, no início da remoção, já fomos notando resquícios da original, que provavelmente era a mesma que havia no lado esquerdo. À medida em que íamos removendo, ela ia aparecendo.” 

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(foto: Marcelo Cardoso/Prefeitura de Mariana/Divulgação)


Para Adenice, não há prazer maior do que o da descoberta. “Buscamos, sempre, encontrar e recuperar algo, mas, quando não é possível, tudo bem. E a emoção da revelação de uma policromia concreta é muito gratificante, ainda mais que estávamos em procedimento final. Era a última etapa, então não esperávamos mesmo encontrar algo ali.” A restauradora reforça, ainda, o entusiasmo em entregar um templo restaurado à comunidade, ainda mais com tantas descobertas. “É uma das melhores partes do processo. As pessoas passaram a vida toda vendo uma composição e, quando é restaurada, elas não acreditam que havia tanta beleza escondida”, ressalta.

O restaurador Rafael Cruz, também integrante da equipe, dá detalhes da pintura: “Trata-se de uma obra de 1750, período marcado pela transição do barroco para o rococó. Ela é composta por desenhos de romãs, símbolo da imaginária sacra daquela época, rocalhas, folhas de acanto e uma voluta envolta por elementos florais. Sua policromia foi afetada pelo tempo e a estrutura conta com galerias de cupins. A partir de agora, passará por um processo de recuperação e preservação de seus elementos artísticos”.

Resgate

Para o prefeito Duarte Júnior, ações que resgatam a história e a preservação motivam o poder público a continuar destinando 100% dos recursos provenientes do ICMS Cultural para o Fundo Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural. “Nossa cidade, além de ser o berço da cultura mineira, é referência da arte barroca. O patrimônio histórico é prioridade em nossa administração. Buscaremos sempre o primeiro lugar no ICMS Cultural.”