As apreensões de animais silvestres bateram recorde no Estado. Nos últimos dois meses foram 1.800 resgates – mais de 90% eram aves. Até dezembro, os flagrantes tendem a aumentar devido ao período de reprodução das espécies. Os números reforçam a atuação dos órgãos ambientais, mas especialistas avaliam que a fiscalização ainda precisa ser intensificada, além de mais rigor na punição aos criminosos.
Atualmente, Minas é uma das principais rotas desse tráfico no país. Os filhotes de pássaros retirados dos ninhos são transportados em condições precárias. Escondidos em caixas de sapato, tubos de PVC e até garrafas de café, a maioria morre no trajeto. Os poucos que sobrevivem são vendidos por até R$ 1 mil.
O comprador também pode sofrer penalidades. A multa para quem caça, compra, maltrata ou mantêm os bichos em cativeiro varia de R$ 2,8 mil a R$ 14,3 mil. Até o momento, o Estado aplicou 3.840 autuações. Casos mais graves rendem prisão de um a quatro anos.
A cada dez aves capturadas pelos traficantes, apenas uma sobrevive”
Marcelo Coutinho, diretor de Fiscalização dos Recursos Faunísticos e Pesqueiros da Semad
Acolhimento
Até outubro, 8.359 animais foram resgatados. Eles são levados para os Centros de Triagem (Cetas). São três em Minas: em BH, Montes Claros (na região Norte) e Juiz de Fora (Zona da Mata).
Nesses locais, o trabalho de reintegração à natureza pode durar até dois anos. “O principal objetivo é fazer a reabilitação e a soltura. Temos 49 áreas de libertação cadastradas no IEF (Instituto Estadual de Florestas)”, afirma a diretora de Proteção à Fauna do órgão, Liliana Nappi Mateus.
O tráfico de animais silvestres envolve muito dinheiro e, no mundo, só perde para o de drogas e de armas. As fiscalizações deveriam ser reforçadas e as punições mais severas. Hoje, as pessoas detidas são contumazes na prática do crime. Mas a pena é quase inexistente. É considerado um crime de menor potencial. E, quando a pessoa é julgada, pode reverter a sentença em pagamento de cesta básica ou realização de serviço para a comunidade, o que gera impunidade. Hoje, o principal desafio é aumentar a punição e o pagamento das multas. O Brasil ainda está muito atrasado no que diz respeito aos direitos dos animais"
Val Consolação, ativista e presidente da ONG Vida Animal Livre
Fiscalização
Em meio à época de reprodução, as operações serão reforçadas para retirar os traficantes de circulação. As ações são feitas pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), Polícia Militar de Meio Ambiente e Ibama.
“É um serviço de inteligência”, frisa o Diretor de Fiscalização dos Recursos Faunísticos e Pesqueiros Marcelo Coutinho.
A PM do Meio Ambiente garantiu que blitze são realizadas. Já o diretor de Biodiversidade do Ibama, João Pessoa Riograndense, afirma que o combate ao comércio ilegal é uma das prioridades do instituto. “Trabalhamos de forma articulada para coibir o crime em Minas que, infelizmente, é uma rota do tráfico”. Denúncias podem ser feitas pelo telefone 155.