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Químicos transformam urina de foliões do carnaval em adubo

12/02/2018 00h00 - Atualizado em 21/03/2019 12h31 por Admin


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ELEMENTO QUÍMICO FÓSFORO É COLETADO DA URINA E USADO COMO FERTILIZANTE. BANHEIROS ESPECIAIS QUE FAZEM ESTA "FILTRAGEM" ESTÃO INSTALADOS NA CAPITAL

A improvável junção entre ciência e carnaval é a novidade da folia belo-horizontina em 2018. Pesquisadores do Departamento de Química da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) vão transformar parte da urina coletada pelos banheiros químicos em fertilizantes agrícolas. A ação criativa e sustentável é uma parceria da universidade com a Belotur, intermediada pela ACMinas.

Cientistas do projeto P4Tree, da UFMG, desenvolveram uma tecnologia capaz de separar o elemento químico fósforo presente na urina e reaproveitá-lo como adubo na agricultura. Durante a festa, seis banheiros químicos têm recipientes próprios para esse processo de “filtragem”.

As cabines estão instaladas em pontos estratégicos da cidade – duas fixas, próximos ao palco montado na Avenida Brasil, Região Centro-Sul de BH, e quatro delas volantes. Os “banheiros sustentáveis” estão plotados com uma identidade visual própria e contam com dois profissionais de apoio para explicar o projeto. Se ficou curioso ou vai fazer questão de conhecer o projeto, saiba onde estão:

Dia 12 de fevereiro: desfile do bloco Filhos de Tchá Tchá, no Barreiro;

Dia 13 de fevereiro: desfile do bloco do Peixoto, no Santa Efigênia.

No último sábado, os banheiros já coletaram a urina de foliões na Praça da Liberdade e domingo, no desfile do Bloco da Esquina, no Bairro Santa Tereza.

Os números

Um banheiro químico coleta 220 litros de dejetos ao todo, sendo 150 líquidos. Cada cabine pode gerar 100 gramas do elemento químico fósforo, usado como fertilizante. Hoje, desperdiçamos 650 quilos de fósforo nos banheiros, só em Belo Horizonte.

A IMPORTÂNCIA DO FÓSFORO

“O fósforo é um dos elementos químicos essenciais para o crescimento de plantas e tem papel fundamental na agricultura e em diferentes culturas. Também tem ampla utilização na indústria alimentícia como conservante”, explica Arthur Silva, químico responsável pelo projeto e doutorando em inovação tecnológica.

Ele ressalta que boa parte do fósforo não obtido através da mineração está presente em efluentes sanitários, devido principalmente à presença da urina humana. “Esgotos e estações de tratamento são verdadeiros depósitos desse tipo de elemento”, comenta Silva.

De acordo com o químico, o material pode ser inserido em um recipiente próprio para utilização em banheiros e mictórios, também desenvolvidos na UFMG. Ambos têm patentes em processo de licenciamento pela empresa Brandt Meio Ambiente.

PROJETO

P4Tree significa Pi for tree, ou xixi para as árvores, numa tradução livre. A tecnologia conta com refis de coletores instalados nos banheiros químicos. Ao receber a urina, o coletor filtra e separa o fósforo do restante dos elementos. Segundo os cientistas envolvidos no projeto, o material é capaz de suportar alguns dias de utilização sem necessidade de reposição.

Ao fim da folia, as amostras seguirão para o laboratório de Química da UFMG, onde passarão por um processo de desinfecção. “Importante ressaltar que a urina é descartada no próprio banheiro, o que fica no refil é apenas o fósforo”, enfatiza o Arthur Silva.

Após desinfetado, o material é combinado a outros elementos para que possa ser utilizado em áreas verdes. Em BH, o material será destinado ao adubo do Jardim Botânico.

Foto: Divulgação Belotur e UFMG

Um primeiro teste do P4Tree já foi realizado em banheiros do Departamento de Química da UFMG. A ação durante o Carnaval de Belo Horizonte será um segundo teste e o primeiro com cabines químicas.

CIENTISTAS

Sob a coordenação do pesquisador em Química, Rochel Lago, e responsabilidade do químico Arthur Silva, participam também do projeto Jéssica Carvalho (projetos educacionais), Raphael Capruni (Mestrando em Química /protótipos e projetos), além do professor e doutorando em Química, Fernando Augusto, e a graduanda em Química, Marina Guedes. Ottavio Carmignano, doutorando em Inovação Tecnológica, também participa da equipe do projeto, fornecendo a matéria prima necessária.