No período de férias escolares, geralmente na segunda quinzena de julho, é comum que o trânsito fique mais "tranquilo". Mas, se por um lado há quem agradeça a falta de congestionamentos nas ruas, de outro há quem sofra com a baixa oferta de viagens pelo transporte público. Em Belo Horizonte, por exemplo, desde a última segunda-feira (14/7), a oferta do serviço convencional de ônibus caiu cerca de 7,3%, passando de 24.298 para 22,5 mil viagens por dia útil — o equivalente a 92,6% da operação normal, segundo a Prefeitura de Belo Horizonte. A redução na quantidade de veículos circulando resulta em atrasos e aglomerações nas viagens, impactando a vida de quem depende desse serviço.

Na avaliação da assistente social Jacqueline Soares, de 39 anos, o transporte público nunca foi eficaz no que diz respeito ao cumprimento de horários, mas agora, para ela, o que era ruim ficou pior. “Todos os dias é uma sobrevivência, um desafio enfrentar a rotina de usar o transporte público, que já utilizamos com muita precariedade.  Agora, no período de férias, o transporte público se torna  mais um transtorno, já que a população se mantém trabalhando e depende desse serviço”, reclama. 

A profissional mora no bairro Nazaré, na região Nordeste de Belo Horizonte, onde, segundo ela, falta uma linha própria de ônibus. “Vivo todos os dias enfrentando atrasos no quadro de horários e lotação. Todos os dias preciso reorganizar os horários de sair para o trabalho e assim evitar chegar atrasada”, completa.

A Prefeitura de Belo Horizonte alega queda na demanda. Segundo o Executivo, ao todo, 289 linhas do sistema convencional e 24 do suplementar que operam em dias úteis passaram a adotar o chamado quadro “férias de julho”. A medida vale até o dia 1º de agosto. A redução no número de viagens ocorre por causa da queda na demanda registrada em períodos de recesso escolar e férias trabalhistas, segundo a PBH. 

Vale lembrar, contudo, que devido à greve dos servidores da educação municipal, a reposição das aulas está ocorrendo neste período. A PBH foi questionada se a redução do quadro está considerando a reposição, mas ainda não retornou à reportagem.

Ônibus passam lotados ou nem param nos pontos

Desde o começo desta semana, usuários das linhas 815 (Paulo VI/Estação São Gabriel) e 806 (Vista do Sol/Estação Vista do Sol) enfrentaram longas filas e coletivos lotados. No bairro Nazaré, região Nordeste de Belo Horizonte, passageiros relataram mais de 40 minutos de espera para conseguir embarcar e até motoristas desrespeitando o Regulamento da Operação do Transporte Coletivo. Pela norma, segundo a PBH, a omissão de viagens e deixar de parar o veículo para o usuário sem motivo justo são infrações passíveis de multa ao consórcio operador da linha.

A redução do quadro também é um problema para quem se desloca pela Região Metropolitana de Belo Horizonte. A babá Erica Guedes, de 37 anos, por exemplo, desde a alteração no quadro, na última segunda-feira (14/7), precisou esperar 40 minutos pelo ônibus que a levaria de volta para a casa depois de um longo dia de trabalho.

“Pego qualquer ônibus que vá para Ribeirão das Neves e passe na avenida Delta (altura do bairro João Pinheiro, região Oeste de Belo Horizonte). Em condições normais, a espera dura no máximo 10 minutos, mas nas férias, tem demorado demais. O primeiro que passou, veio lotado, mas a gente entra, né, melhor do que esperar mais”, comenta.

A Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade de Minas Gerais (Seinfra) foi questionada sobre como está o quadro de férias, mas ainda não retornou.

Alternativa que pesa no bolso

Com a mudança no quadro, a engenheira de materiais Wânia Soares de Oliveira Medeiros, de 43 anos, optou por usar carro de aplicativo para se deslocar de casa, no bairro São Gabriel, região Nordeste de Belo Horizonte,  até o trabalho, no bairro Nova Suíça, na região Oeste. 

“Não tem ônibus direto do bairro até Nova Suíça, então, eu preciso caminhar até o bairro do lado, cerca de 10 a 15 minutos para pegar um ônibus que vai direto. Com a redução dos horários, eu preciso muitas vezes utilizar um aplicativo para ganhar tempo, porém impacta negativamente nas minhas finanças”, reclama.

Segundo ela, em condições normais, a espera por um ônibus pode durar 8 a 10 minutos, enquanto nas férias pode variar de 15 a 20 minutos.