DE VOLTA

No calorão deste sábado (28/9), um ícone do Centro de Belo Horizonte tem canga colorida, peixe grande, cardume de surfistas e até sereia. Quem pensa que se trata de pura imaginação, no máximo uma miragem, não sabe o que está perdendo. Reaberta na quinta-feira (26), após quase um ano em obra, a Praça Rui Barbosa, mais conhecida como Praça da Estação, se torna palco de mais uma versão do movimento iniciado há 14 anos. Em cena, o Praia da Estação, que reúne banhistas para um refresco nas fontes do famoso espaço público.

Eram 10h e já tinha gente pronta para dar seu mergulho nesse imaginário universo marinho, localizado bem no coração da capital. A estudante de geografia Isabela de Moura comemora 10 anos na Praia da Estação e diz, que, além de refrescar o corpo, participa de um ato político. "Esse movimento de ocupação do espaço público, em 2020, foi muito importante para nossa cidade", destacou Isabela, moradora do Bairro Pirajá, na Região Nordeste da capital.

 

Cearense de Fortaleza e residente em BH há três meses, o analista internacional João Pedro Cavalcante, de 23, curtiu o sábado com o amigo Matheus Delfino, advogado, de 26. "Já estava mesmo querendo algo asssim. Na falta do mar, aproveitamos a fonte", afirmou o jovem cearense.

A turma de banhistas só reclamou da falta de banheiro, tanto que alguns cartazes com a reivindicação foram afixados em pontos da praça. Com a campanha política nas ruas, o pessoal da sunga e do biquíni teve que dividir espaço com candidatos a prefeito e vereador.

 

VAMOS OCUPAR!

O movimento Praia da Estação começou em 2010 em protesto ao Decreto 13.798, de 9 de dezembro de 2009, assinado pelo ex-prefeito de Belo Horizonte (gestão de 2009 a 2017), Marcio Lacerda, que proibia a realização de eventos de qualquer natureza na Rui Barbosa. Na época, os belo-horizontinos reivindicaram o direito ao espaço, usando criatividade, roupa de banho e cadeiras de praia. O evento se tornou anual e incentivou o surgimento de blocos carnavalescos e celebrações nas ruas da capital mineira. BH, a partir dali, entrava em outra dimensão, com destaque nacional em folia.

O Praia da Estação é organizado pelo coletivo “Carnaval de Rua BH, Amor e Luta”, movimento que se autodeclara “sem líderes, libertário, antifascista, antirracista, inclusivo, de valorização da cultura e dos movimentos sociais que potencializaram o que conhecemos hoje como Carnaval de Rua de BH”.

REFORMA

As intervenções na Praça da Estação, executadas pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), incluíram manutenção das fontes luminosas interativas, renovação do paisagismo, troca de pisos, canaletas e grelhas danificadas. Além disso, bancos e lixeiras foram recuperados e instalados, de acordo com a PBH.

As fontes de água, características do espaço, foram reconstruídas com dois tipos de aspersores: um de névoa e o de jato de água. Para coibir o acesso de veículos, como caminhões, guindastes e viaturas, as autoridades municipais instalaram balizas de concreto revestidas em aço inox no interior da praça. Os investimentos totalizaram R$ 8,1 milhões.

Os serviços fazem parte do Programa de Requalificação do Centro de Belo Horizonte – “Centro de Todo Mundo” –, para, além do que está no nome da iniciativa, “criar oportunidades para mais atividades de lazer, turismo, comércio e moradias”, como explicou a subsecretária de Relações Intragovernamentais da PBH, Beatriz Góes.

Os trabalhos de requalificação seguem em outros pontos do Centro, a exemplo da reforma das praças Rio Branco, conhecida como Praça da Rodoviária, e do Papa, no Bairro Mangabeiras, e na reconstrução da Praça da Independência, entre os edifícios Sulacap e Sulamérica.

MERGULHO NA HISTÓRIA

Quem curte a “praia” neste sábado, pode admirar o conjunto histórico e cultural da Praça Rui Barbosa, onde se sobressai o prédio da antiga estação ferroviária ocupado, desde 2005, pelo Museu de Artes e Ofícios. E pode também saber um pouco mais sobre os primórdios de BH. A Praça da Estação foi idealizada no planejamento da capital mineira, no final do século 19, então sob responsabilidade do engenheiro e urbanista Aarão Reis (1853-1936). O espaço era a porta de entrada da matéria-prima usada na construção da capital. Em 1898, como forma de marcar o novo ritmo da cidade que crescia, o primeiro relógio público foi instalado no alto da torre do prédio que, nos primeiros tempos, abrigou a estação ferroviária.