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Moradores de Tiradentes, na região Central, acusam um padre de preconceito após o grupo de congado Nossa Senhora do Rosário e Escrava Anastácia ter sido proibido de se manifestar dentro da igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. A medida foi decretada pelo pároco Álisson Sacramento, que assumiu a paróquia responsável por essa igreja em julho de 2019.
O sacerdote negou qualquer tipo de discriminação e disse que tomou a decisão porque, segundo ele, este movimento específico de congado tem divergências com a doutrina católica. Ainda segundo ele, outras congadas, que levam o nome de santos oficiais da igreja, inclusive negros, são normalmente aceitos no interior do templo.
Ex-frequentadora da igreja, a professora Maria José Vargas Boaventura diz que a atitude do novo pároco é um retrocesso. "Vejo com muita tristeza, como me entristecem outros retrocessos que ocorrem em nosso país. Muitos africanos escravizados já chegaram aqui devotos do Rosário", lamenta.
Segundo ela, há espaço na igreja para o diálogo com diversas práticas. "O Papa Francisco é o maior exemplo de respeito à diversidade e à religiosidade plural. Muitos teólogos e estudiosos renomados como o Monge Marcelo Barros e Faustino Teixeira da UFJF têm contribuído para ampliar o conhecimento e o diálogo entre a variedade de práticas religiosas, afastar os preconceitos e abrir as mentes retrógradas.
O que diz o pároco
O atual pároco, Álisson Sacramento, explica que Anastácia não é considerada uma santa pela igreja. O grupo de congado em homenagem a ela foi idealizado em 2012 pelo mestre de capoeira Prego, bisneto de pessoas escravizadas. Até 2019, o cortejo passava pelo interior das dependências da igreja Nossa Senhora do Rosário, mas o novo padre responsável pela igreja colocou fim a esse costume.
“Estão acusando de preconceito, mas não tem nada disso. A questão é doutrinal, com relação à doutrina da nossa fé católica. Primeiramente, porque o nome desse congado é Nossa Senhora do Rosário e Escrava Anastácia. Para nós, da igreja Católica, a santidade de uma pessoa é muito bem analisada para que a gente possa cultuar como um santo ou uma santa. Para ser um congado, um movimento oficial, o culto a um santo oficial deveria ser daqueles que são canonizados.”, afirma.
Questionado sobre o fato de a administração anterior da paróquia autorizar o cortejo no interior do templo, Alisson respondeu que o ex-pároco era mais liberal. “Eram liberais não só nesse sentido, mas em outros, infelizmente. Acontecia muita coisa aqui que, infelizmente, não estava de acordo com o que poderia acontecer”, afirma.
O segundo ponto considerado pelo padre para impedir a manifestação na igreja está relacionado com conceitos fundamentais do catolicismo. “O mestre desse grupo diz que precisa fazer esse ritual de congado para desencarnar esses irmãos que estão nesses lugares. Essa palavra ficou muito forte porque nós, da fé católica, acreditamos na ressureição dos mortos. E falar de reencarnação e prisão fere muito a nossa fé porque está ligado ao kardecismo, ao espiritismo, que acredita na reencarnação”, alega o sacerdote.
Apesar desses pontos de divergência, o pároco afirma que a imagem de Anastásia pode ser usada como símbolo da libertação dos escravos e que planeja uma parceria com o mestre do congado para promover projetos sociais na comunidade.
Quem foi Anastácia?
A imagem de Anastácia é apresentada como uma mulher negra com uma mordaça na boca. De acordo com o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdade (Ceert), ela chegou ao Brasil em 1740 em um navio negreiro vindo da África. Ela foi violentada e acabou ficando grávida de um homem branco, motivo pelo qual Anastácia, sua filha, nasceu com os olhos azuis. Representada como uma mulher forte, guerreira e algumas vezes orgulhosa, Anastácia era conhecida por reagir e lutar contra a opressão do sistema escravista. Segundo o Ceert, ela é considerada uma das mais importantes figuras femininas da história negra, a vida da escrava Anastácia é um misto de luta, bravura, resistência, doçura e fé.
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Sacerdote nega discriminação e diz que grupo específico diverge da doutrina católica ao santificar a escrava Anastácia, símbolo de resistência, e ao falar em "reencarnação"
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Moradores de Tiradentes, na região Central, acusam um padre de preconceito após o grupo de congado Nossa Senhora do Rosário e Escrava Anastácia ter sido proibido de se manifestar dentro da igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. A medida foi decretada pelo pároco Álisson Sacramento, que assumiu a paróquia responsável por essa igreja em julho de 2019.
O sacerdote negou qualquer tipo de discriminação e disse que tomou a decisão porque, segundo ele, este movimento específico de congado tem divergências com a doutrina católica. Ainda segundo ele, outras congadas, que levam o nome de santos oficiais da igreja, inclusive negros, são normalmente aceitos no interior do templo.
Ex-frequentadora da igreja, a professora Maria José Vargas Boaventura diz que a atitude do novo pároco é um retrocesso. "Vejo com muita tristeza, como me entristecem outros retrocessos que ocorrem em nosso país. Muitos africanos escravizados já chegaram aqui devotos do Rosário", lamenta.
Segundo ela, há espaço na igreja para o diálogo com diversas práticas. "O Papa Francisco é o maior exemplo de respeito à diversidade e à religiosidade plural. Muitos teólogos e estudiosos renomados como o Monge Marcelo Barros e Faustino Teixeira da UFJF têm contribuído para ampliar o conhecimento e o diálogo entre a variedade de práticas religiosas, afastar os preconceitos e abrir as mentes retrógradas.
O que diz o pároco
O atual pároco, Álisson Sacramento, explica que Anastácia não é considerada uma santa pela igreja. O grupo de congado em homenagem a ela foi idealizado em 2012 pelo mestre de capoeira Prego, bisneto de pessoas escravizadas. Até 2019, o cortejo passava pelo interior das dependências da igreja Nossa Senhora do Rosário, mas o novo padre responsável pela igreja colocou fim a esse costume.
“Estão acusando de preconceito, mas não tem nada disso. A questão é doutrinal, com relação à doutrina da nossa fé católica. Primeiramente, porque o nome desse congado é Nossa Senhora do Rosário e Escrava Anastácia. Para nós, da igreja Católica, a santidade de uma pessoa é muito bem analisada para que a gente possa cultuar como um santo ou uma santa. Para ser um congado, um movimento oficial, o culto a um santo oficial deveria ser daqueles que são canonizados.”, afirma.
Questionado sobre o fato de a administração anterior da paróquia autorizar o cortejo no interior do templo, Alisson respondeu que o ex-pároco era mais liberal. “Eram liberais não só nesse sentido, mas em outros, infelizmente. Acontecia muita coisa aqui que, infelizmente, não estava de acordo com o que poderia acontecer”, afirma.
O segundo ponto considerado pelo padre para impedir a manifestação na igreja está relacionado com conceitos fundamentais do catolicismo. “O mestre desse grupo diz que precisa fazer esse ritual de congado para desencarnar esses irmãos que estão nesses lugares. Essa palavra ficou muito forte porque nós, da fé católica, acreditamos na ressureição dos mortos. E falar de reencarnação e prisão fere muito a nossa fé porque está ligado ao kardecismo, ao espiritismo, que acredita na reencarnação”, alega o sacerdote.
Apesar desses pontos de divergência, o pároco afirma que a imagem de Anastásia pode ser usada como símbolo da libertação dos escravos e que planeja uma parceria com o mestre do congado para promover projetos sociais na comunidade.
Quem foi Anastácia?
A imagem de Anastácia é apresentada como uma mulher negra com uma mordaça na boca. De acordo com o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdade (Ceert), ela chegou ao Brasil em 1740 em um navio negreiro vindo da África. Ela foi violentada e acabou ficando grávida de um homem branco, motivo pelo qual Anastácia, sua filha, nasceu com os olhos azuis. Representada como uma mulher forte, guerreira e algumas vezes orgulhosa, Anastácia era conhecida por reagir e lutar contra a opressão do sistema escravista. Segundo o Ceert, ela é considerada uma das mais importantes figuras femininas da história negra, a vida da escrava Anastácia é um misto de luta, bravura, resistência, doçura e fé.