A mineira que sofre da pior dor do mundo realizará uma nova cirurgia no sábado (17/8) para implantar uma bomba de morfina na medula. O procedimento será realizado na Santa Casa de Alfenas, no Sul de Minas, onde Carolina Arruda Leite, de 27 anos, está internada desde o início de julho para o tratamento. A expectativa é que as dores da jovem diminuam com o dispositivo.

A implantação da bomba de morfina no corpo libera pequenas doses do medicamento e, durante crises, a paciente pode apertar um botão para liberar doses maiores. Tanto a internação quanto os procedimentos serão realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo o médico especialista em dor Carlos Marcelo de Barros, responsável pelo caso de Carolina, a expectativa é que o tratamento seja definitivo.

“A primeira etapa era para tentar reduzir o sofrimento agudo da paciente e termos tempo de procurar recursos para este tratamento, que esperamos ser definitivo. Estamos esperançosos, pois esses tratamentos são o que há de mais moderno no tratamento da dor. Vamos nos dedicar com o nosso melhor, em comprometimento e tecnologia, e a expectativa é proporcionar alívio para a Carolina”, diz Barros.

 

Em comunicado, o médico Carlos Marcelo e a Santa Casa de Alfenas informaram que, caso o primeiro implante não proporcionasse alívio suficiente da dor para melhorar a qualidade de vida da paciente, a próxima opção terapêutica seria o implante de uma bomba de infusão intratecal de fármacos, ou seja, uma bomba de morfina. O dispositivo será colocado no abdômen e programado para liberar pequenas doses de morfina no corpo da paciente de maneira constante, diminuindo as dores.

Etapas do tratamento

Carolina foi internada no dia 8 de julho no hospital, sob a supervisão do médico Carlos Marcelo de Barros, que se ofereceu para ajudá-la. A jovem, que mora em Bambuí, realizou uma consulta presencial na Santa Casa do município há cerca de um mês e aceitou ser internada para tentar diminuir as dores. A primeira etapa do tratamento consistiu em administrar diversos medicamentos para que seu corpo ficasse anestesiado e não sentisse dor por um período de tempo.

Com isso, o cérebro da paciente pode ser “reiniciado”, ajudando a aliviar as fortes dores que sente. O segundo passo no tratamento de Carolina foi o implante de neuroestimuladores na medula espinhal e no Gânglio de Gasser, realizado no dia 27 de julho. O controle da dor é realizado por meio de um aplicativo que não necessita de conexão à internet para funcionar. Agora, a mineira vai implantar a bomba de morfina e espera que o procedimento seja eficaz.

Doença e suicídio assistido

Carolina tem neuralgia do trigêmeo bilateral, uma doença que afeta o nervo trigêmeo, responsável pela sensibilidade da face. Segundo especialistas, a doença causa uma das piores dores do mundo. Devido à baixa qualidade de vida, a jovem optou pelo suicídio assistido, que é a interrupção da vida de um paciente acometido por uma doença grave. Como no Brasil a prática é proibida, ela arrecada dinheiro para realizar o procedimento na Suíça.

Embora a doença seja pouco conhecida, é comum no Brasil, atingindo cinco pessoas a cada 100 mil habitantes por ano. Trata-se de um quadro de dor lancinante, que causa uma sensação de choque na área afetada. A neuralgia se manifesta por meio de crises intercaladas com períodos de remissão. Entretanto, ao longo do tempo, esses intervalos sem dor podem se tornar cada vez mais raros, e a dor mais constante, como ocorre com Carolina.

A mineira afirma que, caso o tratamento seja muito eficiente, ela pode cogitar repensar a eutanásia, mas considera que ainda é muito cedo para tomar essa decisão. Conforme relatado anteriormente, Carolina já passou por diversos tratamentos e realizou quatro cirurgias, todas sem sucesso.

“Se esse procedimento minimizar a minha dor a um grau suportável, eu posso reconsiderar a eutanásia, mas nada está certo”, conta.

Vaquinha

Carolina criou uma vaquinha on-line em 1º de julho e, até terça-feira (13/8), arrecadou 93% da meta de R$ 150 mil, alcançando R$ 138.820,80. O valor estipulado é destinado a cobrir os custos do procedimento no exterior.

A mineira criou a vaquinha antes de receber alternativas e dizia não saber se o valor seria suficiente para arcar com todos os gastos, afirmando que, se necessário, abriria uma nova campanha. Caso sobre dinheiro, ela pretende doar a instituições que cuidam de pacientes com doenças que causam dores intensas, como a sua. De acordo com Carolina, os R$ 150 mil foram estipulados com base em pesquisas realizadas na Instituição Dignitas, na Suíça.

"Eu não quis colocar um valor mais alto porque não sei se vou precisar de mais. Prefiro fazer outra vaquinha para arrecadar mais dinheiro do que correr o risco de sobrar e as pessoas acharem que fiz outra coisa com esse dinheiro. Caso sobre, pretendo doar para alguma instituição que trabalhe com dor", conta Carolina.

De acordo com ela, a vaquinha ficará aberta até que seja arrecadado o valor total de R$ 150 mil, que deve cobrir os custos de viagem para o país, passaporte, médicos na Suíça e no Brasil para indicação do procedimento e formulação dos laudos médicos, eutanásia, cremação e possíveis advogados. A jovem acredita que as pessoas têm se sensibilizado com sua situação, pois sabe que existem muitas outras pessoas acometidas por doenças que causam dor.

CVV (Centro de Valorização da Vida)

A recomendação dos psiquiatras é que a pessoa que pensa em suicídio busque um serviço médico disponível. O Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece apoio emocional e prevenção ao suicídio. Voluntários atendem ligações gratuitas 24 horas por dia no número 188, por chat, via e-mail ou diretamente em um posto de atendimento físico.