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Minas Gerais já registra em média um incêndio em vegetação por hora em 2023. Até 4 de julho, mais de 5.500 queimadas consumiram áreas verdes do estado. A tendência, segundo especialistas, é que o número aumente nos próximos meses devido ao período de estiagem, que deve ser prolongado com a chegada do fenômeno climático El Niño. A situação liga o alerta para os danos causados ao meio ambiente e à saúde, com o aumento de doenças respiratórias.
O pico do período de estiagem historicamente ocorre entre julho e setembro, e é marcado por temperaturas altas e baixos índices de umidade do ar. O cenário por si só já representa um risco natural para o fogo, por facilitar a propagação de chamas. No entanto, a intervenção humana é a principal causa para o alto número de queimadas. A avaliação é do tenente do Corpo de Bombeiros, Henrique Barcellos.
“A grande maioria dos incêndios são criminosos, sejam eles culposo ou dolosos. Quando alguém abre chamas com uso de fogos de artifício e fogueira, por exemplo, por mais que tenha não tenha a intenção de incendiar, está sujeita a ser o causador de incêndios em vegetações. Por isso, nestes meses a gente trabalha num contingente específico para combate a esses incêndios, com intensificação de fiscalização em áreas que podem se tornar palco de incêndios”, explica.
Em Belo Horizonte, os Bombeiros já mapearam 626 áreas de vegetação com potencial de ser palco de incêndios. Os proprietários foram notificados para a limpeza e conservação dos terrenos a fim de reduzir os focos de incêndio. ”Temos que frisar que em caso de incêndio criminoso, o Corpo de Bombeiros tem o poder de polícia e pode autuar o autor por crime ambiental previsto no artigo 41 da Lei 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais), com pena de reclusão de 2 a 4 anos e multa. Uma pessoa que também presenciar o crime deve imediatamente fazer a denúncia pelo 181 ou abrir chamado via 193”, alerta o tenente Barcellos.
Seca Rigorosa
Na iminência do típico período de estiagem, especialistas climáticos alertam para o agravamento das queimadas neste ano devido a atuação do El Niño - que deve aumentar o tempo seco, potencializando o risco de degradação por incêndios.
“Normalmente as maiores temperaturas ocorrem no final do inverno e início da primavera onde temos incidência alta de raios solares que ocorre até o final de setembro e acaba no início de outubro. No entanto, estamos em um ano de El Ninõ, que começou em abril, está em desenvolvimento e deve começar a influenciar em setembro. Com isso, podemos ter um atraso no período chuvoso e diminuição das chuvas torrenciais”, explica a meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Anete Fernandes”.
Segundo a especialista, o fenômeno climático é responsável por acarretar em uma diminuição das ocorrências das zonas de convergência do Atlântico Sul (ZCAS), que traz a chuva volumosa para o Sudeste do país. “Com isso, teremos chuvas mais espaçadas em formas de pancadas que devem começar apenas em novembro. A falta de chuva acaba por aumentar o tempo seco, que potencializa a ocorrência de incêndios”, estima.
Problema Cíclico
Apesar do alerta de maior rigor neste ano, o biólogo e consultor ambiental Diego Lara aponta que as queimadas no país são um “problema cíclico”. Segundo ele, dados do MapBiomas mostram que o Brasil perde anualmente 2% do território em queimadas. “Em Minas, temos um ano de alto índice de queimada e depois um de baixa, sucessivamente. Mas quando chega o período de estiagem, característica climática do país, nós ficamos praticamente à própria sorte”, aponta.
O especialista chama atenção os diversos danos causados anualmente pelas queimadas, como perda de biodiversidade e danos a exemplares da fauna e flora, além de prejuízos imperceptíveis a longo prazo. ”A medida que perdemos a composição vegetal a área fica suscetível a efeitos erosivos e assoreamento de cursos d'água.
“O impacto é notável quando vemos a perda, mas é imperceptível e de alto grau a medida que perdemos material que vai segurar o solo onde ele está. Se imaginarmos de uma forma ecossistémica, temos um efeito prolongado maior que apenas nos dias atuais.
Para Lara, o cenário devastador poderia ser evitado através de um programa de “gestão territorial” com uso de tecnologias capazes de cruzar aspectos climáticos e possibilitar o manejo controlado do fogo, obtendo corredores de proteção, que podem diminuir a devastação gerada pelos incêndios. “Falta gestão territorial para entender como podemos manejar os territórios de forma que tenhamos eventos controlados. O parque da Serra do Rola Moça já faz isso, por exemplo”, avalia.
Reforço em Campo
Além do trabalho do Corpo de Bombeiros, a atuação quase incansável de brigadistas voluntários se torna essencial neste período, onde uma simples chama de uma fogueira mal apagada pode se alastrar e consumir hectares de área verde. Morador de Casa Branca, distrito de Brumadinho, situado no entorno do Parque Estadual do Rola-Moça, Ronie Gibson de Oliveira é líder da Brigada Carcará que atua no combate às chamas desde 2015. Responsável pela defesa das serras da Calçada e da Moeda, ele pontua que a ação dos voluntários impede muitas vezes que o fogo se alastre.
"Geralmente os incêndios se originam com limpeza de lote ou queima de lixo e o fogo espalha. Mas temos um grupo de moradores que nos informam e rapidamente conseguimos deslocar até o lugar e começar os trabalhos. Quando vemos que a situação está crítica ou pode ficar crítica acionamos os Bombeiros, mas na maioria dos casos conseguimos resolver o problema e deixando os militares livres para atender ocorrências de maior importância", afirma.
Ronie Gibson garante que as equipes estão preparadas para o período seco. "Sempre esperamos que vai ser o mais severo possível e não sendo a gente sai no lucro", finaliza.
O que diz o governo de Minas?
Em nota, o governo de Minas Gerais disse que está reforçando as ações para coibir incêndios florestais criminosos e outras ações prejudiciais à flora e fauna, especialmente nesta época do ano, mais seca. "O Sisema, desde o mês de maio, vem realizando reuniões da Força Tarefa Previncêndio, coordenada pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), por meio da qual diversas instituições do Estado tomam medidas necessárias para enfrentar e mitigar efeitos relacionados ao período seco em Minas".
Além disso, o governo ressalta a crianção do programa Minas Contra o Fogo, que conta com a adesão de 40 municípios que possuem unidades de conservação estaduais com registro de incêndio ou que originaram, entre 2013 e 2021, alguma ocorrência com fogo. Por meio do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), o estado realiza aina o monitoramento das condições climáticas, trabalho realizado há 25 anos por meio do Sistema de Meteorologia e Recursos Hídricos de Minas Gerais (Simge).
"O Sistema é referência para que, nos casos de eventos naturais, os órgãos públicos tomem decisões que podem salvar vidas. O trabalho de alerta é realizado em parceria com a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec) e tem o apoio da Cemig para aquisição das informações). Somente em 2022, o Simge emitiu 15.088 alertas para a Cedec", finaliza.
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O pico do período de estiagem historicamente ocorre entre julho e setembro, e é marcado por temperaturas altas e baixos índices de umidade do ar. O cenário por si só já representa um risco natural para o fogo, por facilitar a propagação de chamas. No entanto, a intervenção humana é a principal causa para o alto número de queimadas. A avaliação é do tenente do Corpo de Bombeiros, Henrique Barcellos.
“A grande maioria dos incêndios são criminosos, sejam eles culposo ou dolosos. Quando alguém abre chamas com uso de fogos de artifício e fogueira, por exemplo, por mais que tenha não tenha a intenção de incendiar, está sujeita a ser o causador de incêndios em vegetações. Por isso, nestes meses a gente trabalha num contingente específico para combate a esses incêndios, com intensificação de fiscalização em áreas que podem se tornar palco de incêndios”, explica.
Em Belo Horizonte, os Bombeiros já mapearam 626 áreas de vegetação com potencial de ser palco de incêndios. Os proprietários foram notificados para a limpeza e conservação dos terrenos a fim de reduzir os focos de incêndio. ”Temos que frisar que em caso de incêndio criminoso, o Corpo de Bombeiros tem o poder de polícia e pode autuar o autor por crime ambiental previsto no artigo 41 da Lei 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais), com pena de reclusão de 2 a 4 anos e multa. Uma pessoa que também presenciar o crime deve imediatamente fazer a denúncia pelo 181 ou abrir chamado via 193”, alerta o tenente Barcellos.
Seca Rigorosa
Na iminência do típico período de estiagem, especialistas climáticos alertam para o agravamento das queimadas neste ano devido a atuação do El Niño - que deve aumentar o tempo seco, potencializando o risco de degradação por incêndios.
“Normalmente as maiores temperaturas ocorrem no final do inverno e início da primavera onde temos incidência alta de raios solares que ocorre até o final de setembro e acaba no início de outubro. No entanto, estamos em um ano de El Ninõ, que começou em abril, está em desenvolvimento e deve começar a influenciar em setembro. Com isso, podemos ter um atraso no período chuvoso e diminuição das chuvas torrenciais”, explica a meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Anete Fernandes”.
Segundo a especialista, o fenômeno climático é responsável por acarretar em uma diminuição das ocorrências das zonas de convergência do Atlântico Sul (ZCAS), que traz a chuva volumosa para o Sudeste do país. “Com isso, teremos chuvas mais espaçadas em formas de pancadas que devem começar apenas em novembro. A falta de chuva acaba por aumentar o tempo seco, que potencializa a ocorrência de incêndios”, estima.
Problema Cíclico
Apesar do alerta de maior rigor neste ano, o biólogo e consultor ambiental Diego Lara aponta que as queimadas no país são um “problema cíclico”. Segundo ele, dados do MapBiomas mostram que o Brasil perde anualmente 2% do território em queimadas. “Em Minas, temos um ano de alto índice de queimada e depois um de baixa, sucessivamente. Mas quando chega o período de estiagem, característica climática do país, nós ficamos praticamente à própria sorte”, aponta.
O especialista chama atenção os diversos danos causados anualmente pelas queimadas, como perda de biodiversidade e danos a exemplares da fauna e flora, além de prejuízos imperceptíveis a longo prazo. ”A medida que perdemos a composição vegetal a área fica suscetível a efeitos erosivos e assoreamento de cursos d'água.
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Para Lara, o cenário devastador poderia ser evitado através de um programa de “gestão territorial” com uso de tecnologias capazes de cruzar aspectos climáticos e possibilitar o manejo controlado do fogo, obtendo corredores de proteção, que podem diminuir a devastação gerada pelos incêndios. “Falta gestão territorial para entender como podemos manejar os territórios de forma que tenhamos eventos controlados. O parque da Serra do Rola Moça já faz isso, por exemplo”, avalia.
Reforço em Campo
Além do trabalho do Corpo de Bombeiros, a atuação quase incansável de brigadistas voluntários se torna essencial neste período, onde uma simples chama de uma fogueira mal apagada pode se alastrar e consumir hectares de área verde. Morador de Casa Branca, distrito de Brumadinho, situado no entorno do Parque Estadual do Rola-Moça, Ronie Gibson de Oliveira é líder da Brigada Carcará que atua no combate às chamas desde 2015. Responsável pela defesa das serras da Calçada e da Moeda, ele pontua que a ação dos voluntários impede muitas vezes que o fogo se alastre.
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O que diz o governo de Minas?
Em nota, o governo de Minas Gerais disse que está reforçando as ações para coibir incêndios florestais criminosos e outras ações prejudiciais à flora e fauna, especialmente nesta época do ano, mais seca. "O Sisema, desde o mês de maio, vem realizando reuniões da Força Tarefa Previncêndio, coordenada pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), por meio da qual diversas instituições do Estado tomam medidas necessárias para enfrentar e mitigar efeitos relacionados ao período seco em Minas".
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