CPI DOS FURA-FILAS

 
O secretário geral de Minas Gerais, Mateus Simões (Novo), foi o responsável por determinar a realização de um ato simbólico de vacinação no aeroporto de Confins no dia 18 de janeiro, embora a posição técnica da Secretaria de Estado de Saúde (SES) fosse realizar o ato no Hospital Eduardo de Menezes para evitar o risco de perda de doses.

A informação foi revelada pelo ex-secretário de Saúde de Minas Gerais, Carlos Eduardo Amaral, em depoimento à CPI dos Fura-Filas nesta quinta-feira (20). “Essa vacinação não foi vetada pela área técnica. Houve uma discussão. Nós tínhamos a orientação por parte da Secretaria de Comunicação do governo e da Secretaria Geral que nós seguíssemos a data de vacinação, já que isso seria feito em todos os estados brasileiros [...] Eu não me opus”, disse.

Posteriormente, ao ser pressionado para identificar as pessoas responsáveis pela decisão, ele mencionou o nome do secretário geral, Mateus Simões. Segundo Amaral, com exceção desse episódio, Simões não tomou outras decisões sobre o processo de vacinação.

Após a publicação desta reportagem, o ex-secretário Carlos Eduardo Amaral disse que a decisão de fazer a vacinação em Confins foi dele, o que ele não deixou claro na CPI, e que Simões foi responsável apenas pela orientação quanto a data do evento. (Confira a nota na íntegra ao final do texto)

A fala do ex-secretário de Saúde vai na direção oposta da subsecretária de Vigilância em Saúde, Janaina Passos, que disse explicitamente que era contra a vacinação no aeroporto. 

Ela relatou à CPI que se posicionou de forma contrária à vacinação em Confins porque a exposição à luz e a variação da temperatura poderia causar perda de doses. Mesmo assim, o evento foi realizado e, com isso, uma caixa com 35 doses da vacina sofreu variação de temperatura. Para evitar o descarte, servidores da Central de Frio foram vacinados ainda naquela madrugada. 

Inicialmente, o ato simbólico de vacinação foi programado para o final da tarde do dia 18 de janeiro no Hospital Eduardo de Menezes. Porém, a entrega das doses por parte do governo federal atrasou e chegaria só de madrugada, o que levou à discussão na SES de se fazer o ato em Confins.

“Liguei pra Virginia, diretora do Eduardo (de Menezes, o hospital). Mesmo se chegar de madrugada ela garante a vacinação lá. As pessoas para serem vacinadas lá no Eduardo  com toda a segurança biológica e com os profissionais de saúde sendo atendidos”, disse ela em um áudio enviado para o ex-chefe de gabinete, João Pinho, cuja transcrição foi lida na CPI dos Fura-Filas. “Tecnicamente não concordo realmente dessa realização lá [da vacinação no aeroporto de Confins]”, disse.

Pela transcrição, cogitou-se que o próprio secretário de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, poderia ser vacinado na ocasião. “Acho temeroso porque se acontece algum acidente com o material biológico vai ficar muito feio”, disse Janaína Passos.

Após a publicação desta reportagem, o ex-secretário Carlos Eduardo Amaral disse que a decisão de fazer a vacinação em Confins foi tomada por ele, e não por Mateus Simões.

"Para que não paire dúvida sobre meu depoimento na CPI da ALMG esta manhã, esclareço que a decisão de fazer o evento da primeira vacinação no Aeroporto de Confins, tomada por mim depois de reunião técnica com a equipe da Secretaria, foi decorrência do grande atraso da chegada da remessa de doses por parte do Ministério da Saúde, já tarde da noite', diz nota enviada a O TEMPO.

"Como elas precisavam ser distribuídas no dia seguinte nas primeiras horas da manhã, a realização do evento no Aeroporto tornou-se uma necessidade. Do secretário geral, Mateus Simões, chegou apenas a orientação sobre a data do evento e nada mais", conclui o texto enviado pelo ex-secretario.

Em nota, o secretário Mateus Simões disse que possivelmente Carlos Eduardo Amaral se referiu à atuação dele para que a vacinação ocorresse ainda no dia 18 de janeiro.

"Essa era a recomendação, alinhada com todos os demais Governos do país, e também com o Governo Federal, no sentido de que a vacinação se iniciasse simbolicamente de forma imediata", explicou Simões.

Ele também comentou a opção por Confins. "Diante da oferta da operadora do aeroporto, que informou ter área adequada, bem como da equipe da SES sobre a viabilidade de realização da vacinação naquele local, pareceu uma solução adequada já que ocorreria cobertura de imprensa o que seria inadequado nas instalações de um hospital", afirmou.