Os números de testes positivos para o vírus da imunodeficiência humana (HIV) e de diagnósticos da síndrome provocada por ele, a Aids, recuaram quase 14% em Belo Horizonte entre 2023 e 2024, apontam dados do governo de Minas. Foram 977 em 2023, contra 844 no ano passado, o que, para especialistas, pode estar relacionado a uma elevação no total de usuários das profilaxias Pré-Exposição (PrEP) e Pós-Exposição de Risco (PEP) e maior acesso ao combinado de antirretrovirais.

HIV e Aids: a importância do diagnóstico precoce para proteger mães e bebês
No estado, o recuo foi de 12,8%, passando de 5.313 para 4.630. Isso não significa, entretanto, que a hora é de relaxar, já que a cada 15 minutos, uma pessoa é infectada pelo HIV no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde e o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids).

Segundo o balanço da Prefeitura de Belo Horizonte, em 2023, a cidade registrou 743 contaminações pelo vírus HIV, enquanto os casos de Aids, a síndrome de imunodeficiência provocada pelo micro-organismo, somaram 233 – totalizando 966 diagnósticos. No ano passado, o número lançado foi 547 (HIV) e 114 (Aids), num total de 661 registros. A diferença entre os panoramas é que os números da PBH do mês de dezembro ainda são parciais. Já sobre a dezena a mais referente ao número de 2023 nos dados repassados pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), a pasta informou que a data da retirada dos dados e a atualização do sistema podem ser fatores que interfiram, o que acaba por produzir divergências de dados entre diferentes bases.

Embora ressalte que os dados ainda são parciais o que dificulta uma análise mais aprofundada, a infectologista Cintia Parenti, da Coordenação de Saúde Sexual e Atenção às IST, Aids e Hepatites Virais, avalia que a redução tem relação com o aumento de usuários cadastrados para a receber a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), que funciona no país desde 2018, e entende que estratégias de prevenção como essa têm impacto direto na contenção de novos casos.

“A partir de 2022, o Ministério da Saúde ampliou a indicação da PrEP para qualquer pessoa acima de 15 anos, com peso a partir de 35kg e em contextos que possibilitam a infecção do HIV”, lembra. Cintia cita também, a descentralização do acesso ao combinado de antirretrovirais nas redes de atenção especializada da cidade e o aumento da procura pelo medicamento, mas destaca que “é cedo para dizer exatamente qual o impacto da mudança na incidência de casos”.

Porém, diz a médica, “a expectativa é alta de que ao longo de 2025 isso possa ser melhor identificado”. Antes, o atendimento para o acesso à PrEP se concentrava em cinco locais e, agora, o serviço está disponível também em todos os 153 centros básicos de saúde de Belo Horizonte. Além da PrEP, a médica confirma que, de ano em ano, é notado o crescimento de dispensações da Profilaxia Pós-Exposição de Risco (PEP), medida de urgência usada 72 horas após a exposição ao vírus.

Papel da informação 

Membro consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (Sib), o médico Estêvão Urbano defende que qualquer resposta para o problema deve sempre estar vinculada à educação. “É possível inferir que, de forma global, quanto maior a adesão às práticas de prevenção, menor a incidência de novos casos”, diz.
Cintia Parenti concorda e destaca que a informação é uma das principais formas de prevenção. “Muita gente desconhece as formas de se proteger”, confirma e salienta que, além disso, o preconceito acaba afastando as pessoas do serviço de saúde. “Atrapalha, faz com que não busquem a testagem e, às vezes, nem tratamento. É importante que todos saibam sobre os testes, os métodos ou que quem realiza o diagnóstico precoce não desenvolve a Aids”, explica.

Ela ressalta o trabalho do programa “BH de mãos dadas contra a Aids”, que ancora sua atuação na cidade em duas frentes: informação, com oficinas e palestras sobre o tema, e redução de danos, estratégia voltada às populações-chaves, aqueles em situação de risco e vulneráveis à infecção do vírus– homens gays, homens que fazem sexo com outros homens, parcerias sorodiferentes, profissionais do sexo e seus clientes, pessoas trans e travestis e aqueles que usam drogas injetáveis.

O problema sempre foi envolto em camadas de preconceito. Ambos os especialistas concordam que as discriminações relacionadas ao teste positivo para o HIV caminham contra os avanços na saúde. Segundo o consultor da Sib, tudo o que foi desenvolvido até hoje “permite que as pessoas vivam como se fossem curadas”, o que silencia qualquer formato de isolamento. “A prevenção vale a pena”, reitera Urbano e conclui que toda e qualquer diminuição de casos deve resultar em motivação, mas “nunca é hora de relaxar”.

AIDS OU HIV?
HIV é o vírus da imunodeficiência humana, que chega, principalmente, aos linfócitos TCD4, células de defesa. Já a Aids é a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – o estágio mais avançado da presença desse vírus, capaz de alterar o DNA da célula e acabar produzindo cópias de si mesmo, destruindo as estruturas celulares na busca de outras para que a infecção continue. Assim, a pessoa se torna cada vez mais vulnerável a outras doenças.

A infectologista Cintia Parenti reforça a importância da prevenção combinada, seja por meio das testagens, preservativos, a PrEP ou PEP – todos disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (Sus) – e frisa que não são estratégias com prioridades uma sobre a outra nem excludentes. “Cada uma se adequa às escolhas e estilos de vida”. 

Menos infecções

Confira o total de testes positivos para o HIV e diagnósticos de Aids

Em BH
2023 - 977
2024 – 844
Redução de 13,6%

MINAS GERAIS
2023 – 5.313
2024 – 4.630
Redução de 12,8%
Fonte: SES-MG

*Estagiária sob supervisão da subeditora Rachel Botelho