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'Indicações políticas vão sumir', diz governador eleito Romeu Zema

02/11/2018 00h00 - Atualizado em 21/03/2019 12h39 por Admin


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Lucas Simões
Fonte: hojeemdia.com.br

Eleito governador de Minas com quase 7 milhões de votos, o empresário Romeu Zema (Novo) anunciou ontem os primeiros nomes da equipe de transição de governo. Em entrevista ao Hoje em Dia, o governador também falou da expectativa de reduzir em até 90% os cargos de recrutamento amplo – o que eliminaria até 3,5 mil dos atuais 3.963 contratados nesse regime. Afirmou ainda que irá abrir um processo para colher indicações de sindicatos e da sociedade civil para selecionar secretários por meio de uma empresa de RH, mas adiantou que também terá no alto escalão técnicos da Fundação João Pinheiro (FJP).


Quantas pessoas vão compor a equipe de transição completa e quais são os eixos temáticos?


Essa equipe ficou acertada com o atual governo. Ela começa pequena e vai crescendo à medida em que forem definidos outros nomes. Por enquanto, foram nomeados Mateus Simões como coordenador, Victor Cezarini na área econômica, a advogada Luciana Lopes e o empresário Victor Garicho Becho (no fim do dia, o engenheiro Rodrigo Paiva, candidato do Novo derrotado na disputa para uma vaga ao Senado, foi anunciado como o quinto nome). Semana que vem não deve estar pronta ainda, mas na outra (semana) devem ter mais pessoas na equipe.

O senhor definiu que irá realizar a contratação do secretariado por meio de uma empresa de RH. Mas mencionou que haveria indicações de sindicatos também, por exemplo. Como vão funcionar as sugestões de nomes?


A ideia é passar tudo pela empresa. Aquilo que os sindicatos e a sociedade recomendarem será encaminhado para a empresa de RH. Tendo o aval, é lógico, dessas entidades, aquela pessoa estaria representando adequadamente (a população). Queremos ter esse critério técnico para todos. Vai ter esse crivo de pessoas que entendem de recrutamento de seleção para fazermos as melhores escolhas.

E o senhor aceitaria indicações políticas de secretários que exercem um bom trabalho, por exemplo, mesmo se fossem do PT, partido contra o qual o senhor manifestou forte oposição durante a campanha?


Nós queremos que essas pessoas, da mesma forma, passem por um processo seletivo. Sabemos de pessoas que estão lá e que têm interesse (em continuar). Sabemos que algumas secretarias, diferentemente de outras, têm apresentado resultados melhores. Não posso falar em quais (secretarias e secretários) agora, porque será avaliado.

Na Assembleia, o senhor contará com uma base com os três deputados do Novo eleitos, além de um apoio do PV. O senhor chamou algum partido para conversar? O PT declarou que será oposição. Como avalia que será sua relação com a legenda?


Ainda não procurei ninguém. Mas está programado na minha agenda conversar com todos os deputados estaduais e depois com a bancada federal. Sei que oposição teremos, mas quero deixar claro: sejam oponentes naquilo que diz respeito ao que julgam certo, e não aos interesses dos mineiros.

Na redução anunciada pelo senhor das atuais 21 secretarias para nove, está incluso um projeto para unificar as pastas de Meio Ambiente e Agricultura, assim como propôs em nível federal o presidente eleito Jair Bolsonaro. Parte do empresariado reclama que essa postura poderia interferir na imagem do país e afetar negativamente as exportações. O senhor chegou a avaliar as críticas a essa unificação?


Críticas fazem parte do processo porque cada um tem uma opinião. As críticas, quando muito acentuadas, devem ser consideradas porque indicam que talvez você esteja indo no caminho errado. Vamos ponderar isso ao máximo. Se falamos que eram nove secretarias e se chegarmos amanhã à conclusão, por uma série de fatores, de que deveriam ser dez, nós não vamos fazer nove simplesmente para cumprir o planejamento. Agora, faz sentido (a questão do meio ambiente), é a mesma coisa que tem acontecido no nível federal. Um dos grandes problemas em Minas é a questão da agilidade das licenças. Nós temos mineradoras aguardando há mais de dez anos, poderiam ter criado emprego e estar pagando impostos e não estão devido à um morosidade no processo ambiental. Ela (a secretaria de meio ambiente) ficando à parte, com acompanhamento mais definido, acaba sendo bom porque você consegue extrair melhores resultados. Vamos ver. (*)

A Fundação João Pinheiro tem capacitado principalmente jovens no curso de Especialista em Políticas Públicas de Gestão Governamental (EPPGG). Esses profissionais, após ficarem quatro anos na capacitação, já saem com vaga garantida nos quadros do Estado. O senhor pretende manter ou alterar esse curso?

Eu só tenho elogios a fazer à Fundação João Pinheiro, que proporcionou a formação de excelentes técnicos. Te diria até que vários técnicos da Fundação vão compor a nossa equipe de transição e até mesmo, futuramente, a nossa equipe de governo, pelo que eu já andei analisando aí, dentro do processo de seleção. Lembrando que, na seleção, muitas vezes, ao invés de selecionar alguém de fora, vamos usar alguém de dentro, e vai ter muita gente aí da João Pinheiro. Vou sugerir para colegas governadores que outros Estados façam uso da instituição também, se ela estiver superdimensionada para a demanda do Estado. Por que não fazer convênios e exportar esse know-how que desenvolvemos em Minas?

Os últimos governos ampliaram as contratações, principalmente em cargos de recrutamento amplo. Hoje, Minas tem cerca de 4 mil contratados nesse regime. Qual é a estimativa da redução desses cargos no seu governo?


Nós vamos cortar todos os privilégios do Estado, reduzir ao máximo. Dos cargos de recrutamento amplo, queremos cortar de 80% a 90% e pode ser até mais. Porque a ideia é a de um processo sem indicação política e que o funcionário de carreira que já está lá (em uma secretaria) seja o mais cotado para uma vaga aberta em determinada secretaria. Assim, as indicações políticas vão sumir.


O grosso dos servidores em Minas do Executivo recebe, hoje, salários aviltantes em relação à iniciativa privada e em relação aos que são pagos nos poderes Executivo e Judiciário. Há uma expectativa de melhorar o ganho desses servidores?


A prioridade no momento é voltar a pagar em dia. E, para fazer isso, nossa perspectiva é que nós levemos dois anos. Depois, eu pretendo (aumentar salários), ou o meu sucessor, porque isso vai ser mais adiante. Uma professora ganha muito menos do que deveria ganhar. Alguns cargos, em outras atividades do governo, ganham muito mais do que deveriam. Então, vejo que é necessária uma revisão.

Nesse sentido, seria possível aumentar o salário dos professores em Minas?
Gostaria muito de valorizar as professoras, mas temos que lembrar que hoje sequer estamos conseguindo pagar em dia. Então, primeiro vamos colocar em dia e, posteriormente, ver o que é possível fazer. Mas quero valorizar e quero principalmente valorizar as (professoras) boas, aquelas que estão tendo melhor desempenho. Quero que ganhem melhor do que aquelas que não estão se destacando tanto. Talvez por escola, vamos adotar os critérios, de forma que seja discutido com a categoria. É para beneficiar os que estão indo bem.

O senhor comentou que Gustavo Franco já foi a Brasília falar com técnicos da União a respeito da dívida pública do governo federal com Minas, que está em R$ 6,3 bilhões. A tendência de Minas é adotar um aperto fiscal rígido, incluindo congelamento de salários, a exemplo do governo federal?

Nós já estamos em contato com técnicos do governo federal para analisar. Mas não temos nenhum retorno ou dado concreto. Vamos ter de levantar dados em Minas também. É algo fundamental para nós começarmos a solucionar o problema financeiro do Estado. Renegociando a dívida, passamos a ter vantagens extras com relação a pagamento de juros e prazos para pagar. E isso vai ser fundamental num Estado que está tão fragilizado. As contrapartidas que o governo federal vai demandar, ainda não sei. Mas com certeza ele vai demandar algumas medidas de austeridade. E o que nós vamos fazer é reduzir secretarias, custeio da máquina pública.

Congelamento dos salários seria uma medida também?


Veremos o que eles (governo federal) vão falar, não tenho nada em vista. Tentei falar (com o presidente Jair Bolsonaro), mas nossos horários não coincidiram ainda.

Qual será a postura nas estatais mineiras em relação a cabides de empregos e privatizações?O senhor também se manifestou favorável à privatização do metrô. Existe a ideia de fazer um lobby junto ao governo federal para essa eventual mudança?


As estatais de Minas, as joias da coroa, seriam a Cemig e Copasa. Essas empresas estão muito longe de o valor de mercado delas resolver o problema de Minas. É como você estar devendo R$ 100 mil e vender um telefone por R$ 1 mil, o que não vai refrescar nada. Primeiro, queremos que essas empresas passem por um processo de gestão com menos interferência política, o que acaba prejudicando muito a gestão e o valor delas. Então, elas podem passar a valer muito mais dentro de um ano, dois, três, para ser considerada essa questão da privatização. E a Constituição mineira proíbe, desde a época do Itamar, que essas empresas sejam privatizadas. Então, caso cheguemos à conclusão de que vai ser bom para o Estado, teremos que ter a aprovação da Assembleia. Além desses dois pontos, isso vai ser feito considerando que o consumidor vai ter benefícios. Privatizar a Cemig para o consumidor pagar mais caro, eu não quero. Tem que ser no sentido de aumentar a concorrência. Trocar um monopólio estatal por um privado, não. Eu diria que o déficit é o tumor do Estado hoje a ser realmente combatido e as estatais são uma verruga. Não é nossa prioridade privatizar.

(*) Ontem, o presidente eleito Jair Bolsonaro recuou da ideia de unir os ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura.