Thereza Nardelli foi surpreendida pelo sucesso da postagem, que viralizou após a eleição de Jair Bolsonaro, no último domingo (28). 'A imagem e a própria mensagem já me transcenderam', afirma
Além da atriz, a criação foi compartilhada por outros famosos, como Bruno Gagliasso, Maria Rita e Pabllo Vittar. A vereadora Áurea Carolina (PSOL), eleita agora deputada federal, também postou a imagem em suas redes sociais. Em pouco tempo, o trabalho de Thereza se tornou símbolo de resistência dos opositores ao candidato eleito – dado o discurso controverso de Bolsonaro envolvendo minorias.
“Eu e meus amigos, que têm o mesmo posicionamento, sentimos um completo mal-estar após o resultado. Mas a própria militância (a favor do candidato Fernando Haddad, do PT), no segundo turno, ensinou muito às pessoas e foi bonito ver tanta gente contra o fascismo e o discurso de ódio. Não tenho o sentimento de derrota, mas, sim, a necessidade de resistir ao lado de quem também quer preservar a vida e a dignidade, independentemente da origem étnica, da orientação sexual ou do gênero”, afirma Thereza.
A relação com a mãe é constante referência para seu trabalho. “Ela é meu exemplo mór de mulher. Criou minha irmã e a mim praticamente sozinha, fazendo os 'corres' dela para conseguir pagar as contas. Sempre foi feminista, mesmo sem usar essa palavra ou se declarar assim. Nossa história é de militância. Pequenininha, fui com ela às passeatas contra o Collor (presidente afastado do cargo por impeachment, em 1992), e comemorei quando Lula foi eleito (em 2002)”, lembra Thereza.
Ela conta que a procura por seu trabalho se intensificou nos últimos dias. “Tenho recebido bastante e-mail e o inbox do Instagram eu já nem consigo ler mais. Também estou recebendo mensagens muito legais, de gente que se sentiu acolhida, dizendo que foi muito importante ter visto a imagem.”
“Simplesmente aconteceu de a imagem estar lá em um momento extremamente sensível para o país. Gostaram da imagem pelo mesmo motivo que a frase da minha mãe me confortou naquela época. É uma mensagem forte, ao mesmo tempo que não é agressiva, nem condescendente”, diz.
HANDPOKE Formada em Ciências Sociais, com mestrado em comunicação social, Thereza conta que o desejo de desenhar vem desde a infância. “Comecei estragando as canetinhas do meu pai, que é publicitário. Minha avó já tinha esse desejo de desenhar e transferiu para mim. Pagava cursos e me incentivava muito. Após o fim do mestrado, voltei a desenhar, porque é um trabalho que me permite dar vazão a vários sentimentos.”
Atualmente, ela trabalha como tatuadora no Estúdio Pietá e mantém o projeto individual Zangadas, em que se dedica à técnica handpoke. As tatuagens são feitas manualmente, sem máquina, com um risco que remete à estética punk e underground.
Thereza não pensa em lucrar diante de tantas reproduções da frase Ninguém solta a mão de ninguém. Ao contrário, liberou a imagem de sua autoria, em alta resolução, para que tivesse uso livre. “Apenas sugeri que possíveis lucros fossem doados para mulheres em situação de vulnerabilidade”, conta.
“Esse trabalho cresceu e se tornou muito maior que eu. As pessoas se apropriaram e deram um sentido muito mais amplo àquilo que foi criado a partir de um sentimento pessoal. A imagem e a própria mensagem já me transcenderam”, conclui Thereza.