Durante o cumprimento da medida, os adolescentes frequentam o ensino formal e têm acesso a cursos profissionalizantes
A inclusão profissional proporciona aprendizado, independência, trabalha a autoconfiança e o senso de responsabilidade. Assim como qualquer jovem, muitos adolescentes que cumprem medidas nos Centros Socioeducativos do Estado também sonham com uma oportunidade no mercado de trabalho.
Para qualificá-los e orientá-los nesta jornada, a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), por meio da Subsecretaria de Atendimento Socioeducativo (Suase), fomenta tanto o ensino formal, quanto cursos complementares e profissionalizantes, dentro e fora das unidades.
Todas as unidades de Minas possuem escolas e contam com o ensino integral, em uma parceria com a Secretaria de Estado de Educação (SEE). Além do avanço escolar possível – a maioria dos adolescentes em internação tem média de 4 anos de defasagem escolar – as escolas oferecem atividades esportivas, oficinas de arte, cultura e lazer, regularmente.
Em 2017, o Governo de Minas Gerais inseriu mais de 1.450 jovens em cursos de profissionalização. Nos últimos três anos, foram 4.564 adolescentes instruídos. As ações são desenvolvidas de forma articulada com familiares, serviços públicos, Organizações Não-Governamentais (ONGs) e instituições privadas.
“Para que possam compreender o potencial que possuem, assumindo o protagonismo da própria vida, esses jovens precisam de especial atenção e orientação. Trabalhamos para mostrar que eles têm outras opções para além da criminalidade na qual foram inseridos”, observa a superintendente de Atendimento ao Adolescente da Suase, Giselle Ciryllo.
Além de cursos voltados para capacitações específicas (cabeleireiro, garçom, administrativo, empreendedorismo, culinária, entre outros), dentro dos Centros Socioeducativos do Estado, eles também passam por oficinas de capacitação básica, onde recebem orientações de como elaborar um currículo e instruções de como se portar em entrevistas e no ambiente profissional.
Há quatro meses, o jovem Miguel de Freitas*, de 18 anos, fazia um curso na área administrativa, enquanto cumpria medida socioeducativa na Casa de Semiliberdade instalada no Bairro São João Batista, em Belo Horizonte.
Durante a capacitação, teve a oportunidade de participar de uma entrevista de emprego na Rede Cidadã - ONG sem fins lucrativos - e conquistou uma vaga na área, com carteira assinada. “Sou tratado com muito respeito pelos colegas. Todos me apoiam e mostram que temos a mesma capacidade. É só uma questão de esforço”, compartilha Miguel.
Educação a distância
Para capacitar os jovens que cumprem medida no Centro Socioeducativo de Patrocínio, além dos cursos presenciais, a direção também utiliza a plataforma da Universidade Aberta e Integrada de Minas Gerais (Uaitec), que oferece mais de 70 cursos gratuitos de qualificação profissional em Educação a Distância (EaD). Na sala de informática da Escola Estadual, instalada dentro da unidade, eles acessam o sistema aberto a toda população mineira.
Diogo Pereira*, de 19 anos, tem experiência como garçom e ajudante de pedreiro. Entretanto, ele conta que só durante o cumprimento da medida de internação, no Centro Socioeducativo de Patrocínio, teve oportunidade de se capacitar para a realização de um sonho: trabalhar como cabeleireiro.
O jovem fez o curso da Uaitec, voltado para a área, e passou a frequentar a oficina de corte e cabelo ministrada dentro da unidade. “Já aprendi várias técnicas. O mercado não está fácil, mas acho que com qualificação tenho mais oportunidades”, acredita.
A diretora de atendimento da unidade, Vanessa Silva, conta que o ensino a distância veio auxiliar nas ações de profissionalização. “Em nosso município, pela falta de oferta, encontramos dificuldades para inserir os adolescentes em cursos presenciais”, observa.
Somente em 2017, 28 adolescentes do Centro Socioeducativo de Patrocínio concluíram cursos online pela plataforma digital. As principais capacitações escolhidas foram: repositor de estoque de supermercados, assentador de portas e janelas de madeira e noções básicas de instalações elétricas.
Já dentro da unidade, os adolescentes podem participar de oficinas de música (percussão), artesanato, corte e cabelo, esporte, cultivo de horta, origami, entre outras.
Exigências do mercado
Acompanhar as tendências e exigências do mercado trabalhista também é um diferencial. Na capital, por exemplo, a Suase inseriu, em 2017, 36 jovens em um curso de Sistema de Gestão Empresarial (ERP).
O software é uma ferramenta corporativa, muito utilizada pelas grandes empresas, capaz de controlar informações, integrando e gerenciando dados, recursos e processos. A capacitação semestral, com 300 horas de duração, é feita pelo IOS (Instituto da Oportunidade Social) - que promove a formação profissional de jovens de baixa renda, em parceria com a empresa de software TOTVS e instituições de ensino.
Se liga
Após o cumprimento da medida, os adolescentes desligados do sistema também podem contar com o apoio do programa “Se Liga”, da Sesp, de adesão voluntária. Seu objetivo é contribuir para a sustentação e continuidade dos projetos desenvolvidos durante o cumprimento da medida, auxiliando na construção de novas oportunidades para os jovens, inclusive de trabalho, estudo e profissionalização.
Assim, o “Se Liga” contribui para o processo de fortalecimento de vínculos comunitários, familiares e sociais desses adolescentes desligados do sistema.
*Os nomes são fictícios para preservar os adolescentes segundo indicação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).