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É o que mostra o estudo “Insegurança Alimentar e Nutricional sob a Perspectiva da Interseccionalidade”, recém-divulgado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ao focar o olhar nas vilas, a pesquisa fez um recorte não captado em estudos que mostram a média da cidade. Os números foram levantados em 2018, mas ainda servem como referência. “A pandemia exacerbou as desigualdades sociais e econômicas, amplificando os riscos de insegurança alimentar e má nutrição, o que intensificou os impactos negativos sobre a saúde das populações mais vulneráveis. Esses dados refletem tendência consistente ao longo do tempo”, garante a pesquisadora responsável pelo estudo, Karynna Ferreira.
MG registra crescimento de 63% no número de bebês internados por desnutrição em 10 anos
Pandemia da Covid-19 acaba e leva com ela doações em BH
Nilde, por exemplo, não estava nessa estatística. O marido dela, antes caminhoneiro, acidentou-se em trabalho há dois anos, quando perdeu a visão. Impossibilitado de voltar ao volante, ele ainda tenta se aposentar por invalidez. Enquanto aguardam a resolução burocrática para ter acesso ao benefício, é ela quem arca com os custos da casa onde vivem o casal e duas netas. Porém, o dinheiro que ela recebe como faxineira não é suficiente. “Eu recebo cesta básica e busco no fim do dia doações em sacolão. Mas é difícil, porque o lugar onde a gente mora não é valorizado. Já fiz entrevista de emprego e não fui contratada porque sou de vila”, conta.
Um relato que se encaixa na conclusão do estudo da UFMG: a fome tem cor, cara e endereço. “Identificamos que as populações em condições socioeconômicas desfavoráveis têm maior probabilidade de enfrentar insegurança alimentar em comparação com aquelas em melhores condições”, explica Karynna. Segundo ela, as mulheres negras representam o grupo com maior chance de não ter o que comer. “A insegurança alimentar se manifesta como a impossibilidade de acessar alimentos nutritivos, levando à desnutrição. Isso perpetua um ciclo de pobreza, comprometendo o desenvolvimento físico, cognitivo e emocional e limitando as oportunidades de uma vida digna”, diz.
Esse é o medo de Beatriz Gonçalves da Costa, 23. Ela mora no aglomerado da Serra com o marido, que é motoboy, e as duas filhas, de 3 e 5 anos. Sem rede de apoio para ajudá-la com as crianças, Beatriz teve que sair do emprego de recepcionista. A partir disso, as contas passaram a não fechar mais na casa dela. “Às vezes acontece de não termos dinheiro para ir ao sacolão e as crianças ficam sem frutas e legumes. O arroz e o feijão temos ganhado de um coletivo. Mas abrimos mão do que for preciso para manter as crianças alimentadas”, diz.
A subsecretária de Segurança Alimentar e Nutricional da Prefeitura de BH, Darklane Rodrigues, explica que o cenário já esteve pior. “A pandemia representou um grande desafio. Ainda consideramos o impacto dela, mas também vivenciamos nos últimos anos, nacionalmente, a redução do emprego e dos investimentos em políticas sociais, o que explica a situação”, diz. Para reverter o quadro, a PBH lançou um Plano de Combate à Fome, com ações como a distribuição de cestas básicas. A prefeitura tem como base dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que apontam 1,7% das residências da cidade com insegurança alimentar grave. Se cada casa tiver pelo menos um morador, são no mínimo 43 mil pessoas passando fome. Em Minas Gerais, são 2,6% da população.
Escassez no país é histórica e tem várias causas
As crises sanitária e econômica recentes explicam o retorno do Brasil para o Mapa da Fome da ONU, de onde havia saído em 2014. Porém, a escassez no país não é um problema atual e, por ser estrutural, demanda políticas públicas para ser erradicada, como explicam os especialistas.
A socióloga e professora do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, Danielle Fernandes, explica que a fome nasce junto com a falta de recursos, fruto de desigualdades sociais. Para ela, sem acesso à saúde, à educação e à alimentação de qualidade, dificilmente os ciclos de pobreza podem ser rompidos. “O passado estrutural é muito forte”, explica.
Subsecretária de Segurança Alimentar e Nutricional da Prefeitura de Belo Horizonte, Darklane Rodrigues concorda: “A fome é sociológica, e não biológica. As tomadas de decisão construídas pela sociedade levam a situações de acesso e falta de acesso. As experiências que temos em BH nos mostram que não é possível acabar com a fome apenas com políticas públicas, mas que é possível reduzir a insegurança alimentar grave ao gerar empregos e oportunidades”, diz. O investimento em segurança alimentar em BH foi de R$ 136,7 milhões em 2023.
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MG registra crescimento de 63% no número de bebês internados por desnutrição em 10 anos
Pandemia da Covid-19 acaba e leva com ela doações em BH
Nilde, por exemplo, não estava nessa estatística. O marido dela, antes caminhoneiro, acidentou-se em trabalho há dois anos, quando perdeu a visão. Impossibilitado de voltar ao volante, ele ainda tenta se aposentar por invalidez. Enquanto aguardam a resolução burocrática para ter acesso ao benefício, é ela quem arca com os custos da casa onde vivem o casal e duas netas. Porém, o dinheiro que ela recebe como faxineira não é suficiente. “Eu recebo cesta básica e busco no fim do dia doações em sacolão. Mas é difícil, porque o lugar onde a gente mora não é valorizado. Já fiz entrevista de emprego e não fui contratada porque sou de vila”, conta.
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Esse é o medo de Beatriz Gonçalves da Costa, 23. Ela mora no aglomerado da Serra com o marido, que é motoboy, e as duas filhas, de 3 e 5 anos. Sem rede de apoio para ajudá-la com as crianças, Beatriz teve que sair do emprego de recepcionista. A partir disso, as contas passaram a não fechar mais na casa dela. “Às vezes acontece de não termos dinheiro para ir ao sacolão e as crianças ficam sem frutas e legumes. O arroz e o feijão temos ganhado de um coletivo. Mas abrimos mão do que for preciso para manter as crianças alimentadas”, diz.
A subsecretária de Segurança Alimentar e Nutricional da Prefeitura de BH, Darklane Rodrigues, explica que o cenário já esteve pior. “A pandemia representou um grande desafio. Ainda consideramos o impacto dela, mas também vivenciamos nos últimos anos, nacionalmente, a redução do emprego e dos investimentos em políticas sociais, o que explica a situação”, diz. Para reverter o quadro, a PBH lançou um Plano de Combate à Fome, com ações como a distribuição de cestas básicas. A prefeitura tem como base dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que apontam 1,7% das residências da cidade com insegurança alimentar grave. Se cada casa tiver pelo menos um morador, são no mínimo 43 mil pessoas passando fome. Em Minas Gerais, são 2,6% da população.
Escassez no país é histórica e tem várias causas
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Subsecretária de Segurança Alimentar e Nutricional da Prefeitura de Belo Horizonte, Darklane Rodrigues concorda: “A fome é sociológica, e não biológica. As tomadas de decisão construídas pela sociedade levam a situações de acesso e falta de acesso. As experiências que temos em BH nos mostram que não é possível acabar com a fome apenas com políticas públicas, mas que é possível reduzir a insegurança alimentar grave ao gerar empregos e oportunidades”, diz. O investimento em segurança alimentar em BH foi de R$ 136,7 milhões em 2023.