Pesquisa realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com a Prefeitura de Betim, na região metropolitana, mostra que o número de pessoas que foram expostas ao vírus da Covid-19 pode ser maior que o de casos notificados. De acordo com um resultado preliminar da primeira etapa do levantamento científico, quando 1.080 moradores foram submetidos a testes para o novo coronavírus, há 11 casos não notificados para cada um confirmado. As amostras foram coletadas entre os dias 2 e 5 deste mês. Para se realizar a pesquisa, o município foi dividido em 36 áreas com base nos setores censitários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e de densidade demográfica.

Foram realizados dois exames em cada morador: o teste rápido, que mostra se a pessoa foi exposta ao vírus e apresenta anticorpos, e o RT-PCR, que aponta o vírus ativo, ou seja, se o morador está com a doença.

“O resultado preliminar desta primeira fase indica que 0,46% da população de Betim já teve contato com o coronavírus, ou seja, há 11 casos não notificados para cada um confirmado na época da coleta. Essa proporção observada já era esperada, conforme resultados de outras pesquisas internacionais”, destacou o coordenador do Laboratório de Biologia Integrativa da UFMG, Renan Pedra, que analisou as amostras. Ele coordena o laboratório juntamente com o professor Renato Santana.

Com a pesquisa, que deverá ter mais quatro etapas, será possível conhecer a situação mais real da circulação do vírus no município. “A gente já sabe que a maioria das pessoas que entram em contato com o vírus não manifesta sintomas, o que torna complicado o processo de controle de infecção. Essa pesquisa é muito importante por conseguir criar uma fotografia real do que é a situação de infecção no município. Isso é possível por ser feita a testagem mediante o sorteio de endereços em toda a cidade, dando a possibilidade de testagem para qualquer habitante de Betim, independentemente de ele ter tido ou não os sintomas, caracterizando com confiança a situação do município”, completou.

Segundo a doutora Ana Valesca Fernandes, enfermeira da rede SUS e uma das coordenadoras da pesquisa, a taxa de prevalência (0,46%) mostra que a maioria das pessoas ainda não teve contato com o vírus.

“Parece um número baixo, mas, quando fazemos uma análise matemática e estatística da população total (439 mil habitantes), essa taxa indica que 2.036 moradores, em média, já foram expostos ao vírus. Isso também leva a outra constatação: grande parte da população ainda está suscetível a ser exposta à doença”.

A pesquisa também mostrou que 33% da população entre 20 e 59 anos tem alguma comorbidade. Essa faixa etária corresponde a 63% do número total de habitantes da cidade.

“Essas pessoas fazem parte do grupo economicamente ativo, ou seja, é aquele que mais circula, que sai para trabalhar e está mais exposto a ser contaminado. Possuindo uma doença preexistente, ela corre o risco de vir a desenvolver um quadro grave da Covid-19 e até precisar de um leito de CTI. Então, em Betim, não são apenas os idosos que fazem parte do grupo de risco”, completou Ana Valesca.

‘Temos dados transparentes’

O secretário adjunto de Gestão da Saúde de Betim, Augusto Viana, afirmou que o município é totalmente transparente em relação ao número de casos divulgados da Covid19. No balanço de ontem, a cidade contabilizava 535 casos confirmados, com 24 óbitos (dois aconteceram fora da cidade).

Matéria veiculada ontem em O TEMPO mostrou que dados de alguns municípios, como Nova Lima – com só um óbito –, geram desconfiança sobre notificações.

“Betim é totalmente transparente com os dados. Os testes são realizados conforme preconizam o Ministério da Saúde e a Secretaria de Estado de Saúde. Mas estamos testando muito mais que outras cidades do Estado para tentarmos verificar uma situação mais próxima do real. A própria pesquisa de mapeamento é uma prova, em que são feitos 2.160 testes a cada rodada. Não escondemos nenhum caso, e todos os graves são submetidos a testes de PCR e o rápido, para termos mais segurança e transparência. Os óbitos suspeitos também são testados. Além disso, um decreto municipal determina que farmácias, laboratórios e unidades de saúde complementar repassem os dados dos testes realizados nesses locais. E essa transparência de Betim não é seguida em outros municípios, onde vemos que os dados são totalmente desproporcionais em relação aos nossos. Não sei qual a mágica que essas cidades fazem para notificar um número tão menor de casos. Isso prejudica as ações de enfrentamento da pandemia em Minas”, afirmou o secretário Viana. (JAA)