MANIFESTAÇÃO

Organizações ligadas à defesa dos direitos dos animais fizeram na manhã deste domingo (15/6), na Feira Hippie, no Centro de Belo Horizonte, manifestação pelo fim da exportação via marítima de animais vivos para o abate na Europa e Oriente Médio. Sob o lema #NãoExporteVidas, centenas de manifestantes promovem atos públicos em 25 cidades de 14 estados e marcam o Dia Nacional contra a Exportação de Animais Vivos.

“A exportação de animais vivos é um triplo desastre: legal, ambiental e econômico”, afirma Patrícia Aguiar, porta-voz nacional da campanha #NãoExporteVidas encabeçada pelo Movimento Nacional pelo Fim da Exportação dos Animais Vivos. “Esse tipo de exportação vai contra a legislação por expor os animais a maus tratos intrínsecos, desde sua saída nas fazendas, na longa jornada em navios até o abate final, de forma cruel”, diz. “Além disso, não arrecada impostos, gera pouquíssimos empregos e é insalubre. De fato, serve apenas aos interesses de poucos empresários às custas do sofrimento coletivo.”

Uma das organizadoras do ato em BH, Adriana Araújo, reforça que, mais uma vez, desde 2018, pessoas comprometidas com a proteção dos animais de todas as espécies saem às ruas pra denunciar uma das práticas mais condenáveis e perigosas. Segundo ela, é uma realidade ainda desconhecida pela maioria da população e ignorada pelos tomadores de decisão. "Em média, 20 mil bovinos são transportados por navios sucateados, em alto-mar, pra serem abatidos, com imenso sofrimento. Uma parte é descartada, jogada ao mar, provocando um impacto ambiental, terrestre e marinho", diz.

Adriana pontua ainda que o mundo ainda vivencia os resquícios da pandemia, "que foi provocada por uma zoonose, resultante da exploração de animais. A exportação de animais para o abate em outros países é um estímulo para outras pandemias", alerta.

Designer e membro da União Vegana Feminina (UFV), Danielle Santiago está entre os manifestantes. Para ela, essa é uma pauta que precisa ser observada. "Ter cuidado com os animais é uma questão ética. É preciso parar com essa crueldade. Saúde dos animais é também saúde humana. Transportar animais dessa forma é também disseminar doenças", reforça.

O representante comercial Paulo Henrique Zolini, diz que o ato visa mostrar a realidade da exportação de animais vivos para que a população possa conhecer tudo que está por trás disso. "É preciso alertar sobre toda a crueldade terrível que os animais vivem, além do risco de zoonoses, a poluição dos mares. Enfim, é uma prática completamente condenável. Vários países já não permitem mais isso e já passou da hora do Brasil também proibir essa prática".

Países como Alemanha, Reino Unido, Índia e Nova Zelândia já aboliram definitivamente esse tipo de comércio. O Brasil, no entanto, caminha na contramão. Só no ano passado, mais de 1 milhão de bovinos (entre bois, vacas e bezerros) foram embarcados para países como Turquia, Egito e Iraque, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

Além da capital mineira, as manifestações ocorrem em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Recife, Fortaleza, Manaus, Salvador, Vitória, Natal, São Luís e São Sebastião, entre outras, e incluem vigílias, caminhadas, performances e coleta de assinaturas para petições que pedem o fim do transporte marítimo de rebanhos.

Para a médica veterinária Vânia Plaza Nunes, diretora técnica do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, o sofrimento infligido aos animais em longas viagens marítimas é inaceitável. “Os bois são embarcados em navios superlotados, onde vivem semanas em meio a fezes, urina, calor extremo e sem ventilação”, relata. “Muitos morrem durante a travessia, outros chegam mutilados. É uma realidade incompatível com qualquer princípio ético ou legal.”

Os protestos denunciam também os riscos sanitários e ambientais desse tipo de operação. Relatórios apontam que cerca de 13% dos animais embarcados testaram positivo para algum tipo de coronavírus à época da pandemia, aumentando o risco de surtos epidêmicos.

Um dos objetivos das manifestações é gerar pressão popular pela aprovação de projetos de lei que proíbem o tráfico de cargas vivas, entre eles o PL 2627/2025, de autoria da deputada federal Duda Salabert (PDT/MG), e o PL 3093/2021, do senador Fabiano Contarato (Rede/ES). “A exportação de animais vivos é uma prática anacrônica e cruel”, afirma Duda Salabert. “É preciso colocar fim a esse modelo de comércio que envergonha o país.”

No Senado, a proposta do senador Contarato já está em tramitação e conta com uma petição assinada por aproximadamente 600 mil pessoas. Os dois projetos são vistos como essenciais para cumprir os princípios constitucionais que vedam a crueldade contra animais.