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Empresas ferem lei e cobradores 'desaparecem' dos ônibus de BH

25/07/2018 00h00 - Atualizado em 21/03/2019 12h36 por Admin


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Raul Mariano
rmariano@hojeemdia.com.br

A ausência dos cobradores em diversas linhas de ônibus de Belo Horizonte é uma realidade, mesmo contrariando a lei. Na Estação Vilarinho, em Venda Nova, a maior parte das viagens já acontece sem os agentes de bordo em tempo integral desde a última segunda-feira.

A operação sem os profissionais nas linhas alimentadoras (que ligam bairros até as plataformas) só é permitida em horário noturno, domingos e feriados. O que se vê, no entanto, são os assentos dos trocadores vazios durante todo o dia.

A mudança tem gerado revolta. Os motoristas alegam sobrecarga de trabalho. Já os usuários reclamam do aumento do tempo de viagem, uma vez que a cobrança das passagens pagas em dinheiro é feita por quem está na direção do veículo.

Um condutor do ônibus 633 (Estação Vilarinho/Jardim Comerciários), que pediu para não ser identificado, afirma que o prejuízo é generalizado. “Tenho que mexer com dinheiro e dirigir. É perigoso e demora. Uma covardia”, protesta.

O estudante Pedro Braz, de 18 anos, conta que os reflexos negativos já são visíveis. “A viagem dura mais. Ontem mesmo cheguei na estação sete minutos atrasado, não consegui pegar o metrô e perdi minha primeira aula”, relata.

Para o motorista aposentado Adalberto da Silva, que trabalhou na função por mais de duas décadas, a retirada dos cobradores não pode ser aceita pela sociedade. “É um desrespeito com a lei e, principalmente, com o ser humano”.

Ônibus sem cobrador

“É um desrespeito com a lei e, principalmente, com o ser humano”, afirma Adalberto da Silva

Ilegal

O aumento das multas aplicadas nas empresas de ônibus na capital mostra que muitas delas têm ignorado as normas previstas na concessão do serviço. Conforme a BHTrans, só no período de 1º de janeiro a 16 de abril de 2018, 285 veículos foram autuados por circular sem o agente de bordo fora dos dias e horários permitidos.

Para efeito de comparação, o número é 35% maior do que o total de infrações registradas pelo mesmo motivo em todo o ano passado. Apesar das autuações, o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Belo Horizonte (STTR-BH) alega que as concessionárias não têm se intimidado.

“O problema da Vilarinho também acontece nas estações São Gabriel, Pampulha e Venda Nova. O pior é que suspeitamos que as empresas não estão pagando as multas”, afirma José Márcio Ferreira, diretor de Comunicação do STTR-BH. A BHTrans não se pronunciou sobre a denúncia.

R$ 652 é o valor da multa aplicada pela BHTrans às empresas que descumprem a lei que obriga a presença dos cobradores nos coletivos

Crise

A estimativa do Movimento Sem Cobrador Não Dá, formado por membros da categoria da capital, é de que metade dos coletivos já esteja circulando sem os agentes de bordo em período integral.

Cléo Olímpio, coordenadora do grupo, afirma que os trabalhadores vivem um momento de crise completa. “Paralelo a esse problema, as demissões continuam acontecendo. Temos casos de cobradores que foram desligados e nem receberam o acerto. Vamos procurar o Ministério Público”.

Apesar de a BHTrans reafirmar que não há novas exceções à lei, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (Setra-BH) informou que os ônibus só circulam sem os cobradores nos horários de menor movimento, que seriam autorizados pela prefeitura.