Toda a cúpula da Secretaria da Fazenda do governo Zema (Novo) foi indiciada por supostas irregularidades cometidas na previdência do Estado do Rio Janeiro. Antes de assumir em Minas, o secretário da Fazenda, Gustavo Barbosa, seu adjunto e o chefe de gabinete comandavam a previdência daquele Estado (2005/2018). Em seguida, nesse período, comandaram também a Secretaria da Fazenda do Rio.

Junto com Barbosa, foram indiciados seu secretário-adjunto Luiz Claudio Fernandes , Lourenço Gomes e o chefe de gabinete, Reges Moisés dos Santos. “Eles foram indiciados por crimes de gestão temerária e gestão fraudulenta”, sustentou o presidente da CPI da Rioprevidência, Flávio Serafini (Psol). Além deles, a CPI pede a punição dos ex-governadores Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, ambos do MDB, e de outras 10 pessoas envolvidas.

O relatório final da CPI do Rioprevidência, da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) foi divulgado e aprovado nessa sexta (11). Foram 4 votos favoráveis e um contrário, do deputado Alexandre Freitas, do mesmo partido governador Romeu Zema, o Novo.


Aposentados e pensionistas ficaram sem receber


A CPI investigou a crise vivida pelo instituto de previdência, que deixou aposentados sem os pagamentos principalmente no ano de 2016. Um dos pontos centrais do relatório é um prejuízo de R$ 17 bilhões nos cofres da Rioprevidência provocado pela falta de repasses do Governo do estado nas gestões de Cabral e Pezão.

O parecer aponta que o prejuízo ocorreu entre 2005 e 2015, e sugere ações judiciais para a recuperação de recursos financeiros. Uma das propostas é que se interrompa o pagamento de dívidas relativas a operações financeiras contratadas pelo Estado do Rio naquele período. O documento será publicado no DO Legislativo na próxima semana e, em seguida, seguirá para o plenário da Alerj.

De acordo com Serafini, como presidente da Rioprevidência, Barbosa permitiu a falta de repasses e idealizou, para compensar, uma operação financeira em paraíso fiscal. “E depois o Governo do estado ainda passa essa conta pro Rioprevidência, induzindo o órgão a fazer operações de empréstimo, que são empréstimos disfarçados. Esses tentaram caracterizar os documentos como antecipação de receitas”, apontou.

“Pior negócio da história”


Segundo os parlamentares, essa operação foi feita pelo Rioprevidência com um banco de um paraíso fiscal norte-americano sediado em Delaware. A ação ficou conhecida como Operação Delaware da qual o atual secretário da Fazenda de Minas é apontado como o mentor. Os juros do empréstimo eram atrelados ao valor do barril do petróleo. Eram juros flutuantes, mas com um problema: só flutuavam para cima, o que deixava o empréstimo mais caro.

Para os deputados, foi o pior negócio já feito na história da administração pública. “Para conseguir captar mais de R$ 10 bilhões, mas só entraram nos cofres do Rioprevidência pouco mais de R$ 7 bilhões. O Rio de Janeiro tem que pagar mais de R$ 30 bilhões até 2028”, adiantou o relator e deputado estadual Waldeck Carneiro (PT).

O papel de Gustavo Barbosa

Segundo o relatório, foram quatro operações feitas sem autorização do Tribunal de Contas ou da Assembleia. O texto do contrato feito em inglês só foi traduzido quatro anos depois da assinatura. “Como gestor, Gustavo Barbosa permitiu que isso acontecesse. Depois, aceitou fazer operação de antecipação de receitas, fazendo com que o fundo previdenciário assumisse para si a responsabilidade de se financiar.

Quando, na verdade, constitucionalmente, essa responsabilidade é do Tesouro estadual. Quando ele leva para o instituto previdenciário essa responsabilidade, e resolve fazer operação de antecipação de receitas dos royalties, encontrou caminho para ampliar a margem de endividamento do estado. E isso tem impacto em todo o equilíbrio financeiro do Estado, não só do Rioprevidência”, apontou o presidente da CPI.

E mais, disse que, além da gestão extremamente irresponsável, essa operação foi organizada com uma série de irregularidades. “Que vão desde a antecipação de receitas que não tem nenhum documento que comprove que houve autorização do Tesouro Nacional até irregularidades como um contrato em inglês. Ou seja, numa língua estrangeira, ter sido assinado sem sequer ter sido traduzido. Com cláusulas draconianas, absolutamente desproporcionais que causaram enorme do Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, era um contrato que previa que sempre que o barril de petróleo diminuísse os juros da operação aumentava. Então, o Rio tinha que pagar mais por essas operações.

Só que quando o barril do petróleo volta a subir, os juros não descem fica no patamar que subiu. Com isso, hoje o Estado do Rio de Janeiro tem uma operação que tem uma taxa de juros de 10% em dólar. Uma das altas de juros mais altas do mundo, sem dúvida alguma foi uma das piores operações financeiras da história do Rio”, assinalou.

CPI teve auxílio do TCE e do MPRJ
A CPI calcula que o instituto Rioprevidência pegou R$ 10 bilhões emprestado, mas vai ter que pagar cerca de R$ 30 bilhões até 2028. “É como se o governador não tivesse me matado no morro, na favela, quer me matar agora de fome”, dizia o policial aposentado Carlos Antônio de Aquino em abril de 2016.

Após 21 meses de intenso trabalho, a CPI teve a parceria de técnicos do Tribunal de Contas do Rio e do Grupo de Atuação Especializada em Combate à Sonegação Fiscal e aos Ilícitos Contra a Ordem Tributária.

A comissão investigou o desmonte da previdência social do Rio de Janeiro durante a era Cabral e a Operação Delaware, que levou o Estado a um prejuízo bilionário. Fizemos contato com a Assessoria de Comunicação da Secretaria da Fazenda de Minas, mas ainda não tivemos retorno.