Juan Arias, do El Pais, lembra que o Brasil nunca recebeu o prêmio da Academia Sueca. 'O que o país precisa é acreditar que ainda é possível encontrar pessoas comuns e anônimas capazes de oferecer um exemplo de abnegação e de luta', diz



“Porque não dar o Nobel da Paz este ano aos bombeiros de Brumadinho que conquistaram simpatia e admiração dentro e fora do país com seu exemplo de abnegação?” A pergunta é do colunista espanhol Juan Arias, do jornal El Pais.
No texto publicado na noite desta quinta-feira, quando o rompimento da barragem da Vale completou sete dias, Arias lembra que o Brasil, “coração econômico do continente”, nunca ganhou a premiação da Academia Sueca.
“Foram esses bombeiros anônimos, mal pagos, que não hesitaram em arriscar a própria vida para salvar a dos outros, que nos ofereceram um pouco de oxigênio quando começávamos a desconfiar de tudo e de todos. Tínhamos experimentado, de fato, primeiro em Mariana e agora em Brumadinho, que o lucro selvagem das empresas em conivência com os políticos acaba engendrando esses novos campos de extermínio ambiental e humano”, argumenta o colunista.

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(foto: Reprodução da internet/El Pais)
Ainda no texto, ele defende que o trabalho dos militares na cidade da Grande BH, que fecha a semana contabilizando mais de 100 mortos pela onda de rejeitos de mineração, uniu o país. “Milhões de brasileiros, de fato, se identificaram, sem diferenças políticas, em um movimento de solidariedade com os bombeiros salva-vidas que conseguiram criar um clima de alento em um contexto de polarização asfixiante. Os bombeiros conseguiram o milagre de unificar por um instante um país quase em guerra”, diz Juan Arias.
“Se conceder ao Brasil o Nobel da Paz, não poderia ser neste momento a um político, mesmo que seja o popular Lula. A política não é, certamente, o que hoje entusiasma os brasileiros céticos de um lado e do outro. A política, com todas as suas corrupções e ambiguidades, não está sendo no Brasil um catalisador de esperanças”, destaca o texto. “O que o país precisa é acreditar que ainda é possível encontrar pessoas comuns e anônimas capazes de oferecer um exemplo de abnegação e de luta para salvar vidas e não para humilhá-las e sacrificá-las”.
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Grupo percorre área onde ficava pousada Nova Estância, que fica próxima à barragem da Vale e foi destruída com a passagem dos rejeitos de minério(foto: Mateus Parreiras/EM )