PARQUE MUNICIPAL

Empresa a ser escolhida por meio de concorrência terá que implantar chips nos felinos

Os cerca de 300 gatos que vivem no Parque Municipal de Belo Horizonte já têm destino definido. Nas próximas semanas, o município vai publicar dois chamamentos públicos para contratar empresas responsáveis pelo plano de manejo dos animais, que inclui tratamento, castração e encaminhamento para a adoção. Além de encontrar um lar para os felinos, a iniciativa busca o fim do abandono e a manutenção da saúde da colônia. São previstos investimentos de R$ 132 mil, do Fundo Municipal de Meio Ambiente.

Um dos editais, com valor de R$ 96 mil ao ano, visa contratar uma clínica veterinária para retirar os gatos do parque, com prioridade para os doentes, e realizar os tratamentos necessários e a castração. Os bichos também vão receber um microchip – a tecnologia permite, por exemplo, a detecção de um possível abandono.

“A clínica vai recolher e tratar de seis a oito gatos por vez. Ela precisa ter experiência comprovada em felinos, todos os equipamentos necessários e pessoas gabaritadas para tratar gatos, que não poderão ser internados com animais de outras espécies, como cachorros”, explica o gerente de defesa dos animais da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Leonardo Maciel.

Depois de passarem pela clínica, os animais serão levados para um lar temporário, que vai ser contratado por meio de um segundo chamamento público, com valor anual de R$ 36 mil. “O lar temporário tem que ser só de gato, não pode usar gaiolas e precisa seguir uma série de questões de higiene, além de oferecer ração de alta qualidade”, pontua.

Vai ser responsabilidade do lar temporário buscar a adoção dos felinos – a empresa terá que disponibilizar e atualizar semanalmente o perfil de todos os animais em 19 sites de adoção. “O lar vai entrevistar a pessoa interessada em adotar e visitar o local em que ela vive. Se for apartamento, por exemplo, tem que ser telado”, afirma Maciel. Caso o gato não seja adotado em dois meses, será levado de volta ao parque e, depois, pode ser colocado novamente na lista de adoção.

A expectativa é que as empresas sejam contratadas no segundo semestre. O contrato terá duração de um ano e pode ser prorrogado por mais um.

Acordo com o MP. O plano de manejo dos gatos do Parque Municipal foi um compromisso firmado pela prefeitura da capital e o Ministério Público de Minas Gerais (MP) por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), em agosto de 2017. O manejo é necessário para estabilizar a população dos felinos, maior do que o parque comporta. Muitos animais são maltratados no local. “Não cabem mais gatos lá, os novatos estão sendo expulsos e atropelados no entorno, e são agredidos por cachorros de rua”, diz Maciel.

Além disso, a medida busca prevenir a esporotricose, doença causada por um fungo que vive no solo que pode atingir animais e humanos. No ano passado, dois gatos com a doença foram abandonados e retirados rapidamente do parque, e, atualmente, nenhum dos felinos que vive no local está contaminado.

O trabalho, segundo Maciel, vem para somar ao que já é realizado pela Secretaria Municipal de Saúde e por instituições de defesa dos animais. No ano passado, o Centro de Controle de Zoonoses resgatou 113 gatos no parque e, desses, 104 foram castrados e dez foram adotados. Neste ano, até o último dia 10, 35 gatos haviam sido resgatados e 34 castrados. Até o momento, nenhum deles foi adotado.

Abandono vai virar caso de polícia

Quem for flagrado abandonando ou maltratando gatos no Parque Municipal será detido e encaminhado para a delegacia a partir dos próximos dias. Segundo o gerente de defesa dos animais da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Leonardo Maciel, guardas municipais estão sendo treinados com esse objetivo: “As pessoas já vão sair da delegacia com audiência marcada”. Segundo ele, todos os gatos que vivem no parque foram abandonados.

Além disso, as pessoas não vão poder mais alimentar os bichos. Isso porque a clínica a ser contratada vai ser responsável também por alimentar os animais com ração: “Não há problema em visitar, só não pode alimentar porque isso não está ajudando os gatos”.

Sem ajuda pública, ONG dá tratamento

O trabalho que a Prefeitura de BH pretende fazer por meio do plano de manejo, a Associação Bichos Gerais já realiza há anos: voluntários do grupo resgatam, castram, tratam e, quando possível, encaminham para a adoção os gatos do Parque Municipal. Eles ainda alimentam os animais todos os dias.

“Vamos ao parque toda noite para alimentar os gatos e gastamos 15 kg de ração diariamente”, afirma a diretora administrativa e financeira da associação, Fernanda Ferreira Hoffman Barbosa. O grupo usa recursos provenientes de uma clínica veterinária para manter esse e outros trabalhos em prol dos bichos.

Para Fernanda, a ideia da prefeitura é positiva, desde que realmente ocorra fiscalização para impedir que as pessoas abandonem mais gatos no local. “Eu estou torcendo para dar certo, mas, se não tiver fiscalização, não vai adiantar muita coisa, é chover no molhado. Toda vez que vamos ao parque tem novos gatos abandonados. Os bichinhos passam fome e frio e são agredidos”, diz.

Uma das responsáveis da Gato Uai, grupo de amigos de Belo Horizonte que incentiva a adoção de felinos, Miriene Fernanda Viana acredita que os gatos precisam ser tratados e castrados, mas devem permanecer no parque. “O que tem que ser feito é a conscientização das pessoas para que pare o abandono de animais no parque, o que acontece diariamente. Existem ONGs e pessoas que cuidam desses gatos, e a prefeitura deveria apoiar esses protetores”, afirma.