Alguém já teve a curiosidade de perguntar qual o destino dos animais da Cavalaria da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) quando não estão mais aptos ao trabalho diário na corporação? A maioria das pessoas não deve saber que, quando os cavalos não estão mais em condições para o serviço, devido a complicações que impeçam que sejam montados - como problemas nos rins, manqueiras e cegueira -, eles são doados para a Fundação Ezequiel Dias (Funed), onde se tornam doadores de plasma hiperimune para os serviços de produção de soros da instituição.

Os cavalos são levados para a Fazenda Experimental São Judas Tadeu, em Betim, onde têm o plasma (parte líquida do sangue) retirado após passarem por um protocolo de hiperimunização. Em seguida, o plalsma é transformado em matéria-prima para a produção de soros, que são usados para tratar todo cidadão que seja picado por animais peçonhentos, mordidos por cães e/ou outro animal raivoso e, ainda, pessoas que contraiam o tétano. O soro é distribuído pelo Ministério da Saúde para todos os estados do Brasil.

Neste ano, a Funed recebeu, recentemente, 24 equinos, o maior número doado até agora pela Polícia Militar desde a década de 1980, quando tiveram início as doações. Segundo o chefe da Divisão de Produção Animal da Funed, Cláudio Fonseca, a doação, além de ser de suma importância para que se produzam os soros antitóxicos, antivirais e antipeçonhentos (antiofídicos e antiescorpiônico), evita que o Estado tenha que comprar os animais. “Se tivéssemos que comprar, hoje, por exemplo, 20 cavalos, o governo teria que desembolsar em torno de R$ 80 mil”, explica o chefe da Divisão, ressaltando a economia que se faz com as doações.

Para serem usados como doadores de plasma hiperimune, segundo Fonseca, é ideal que os animais sejam novos, com idade entre 4 e 8 anos e peso em torno de 400 quilos ou mais. Estando nessas condições, os cavalos terão uma vida média produtiva de dez a 12 anos, explica ele.

Os animais mais velhos, como os doados pela PMMG, normalmente têm bom peso, avalia o chefe da Divisão de Produção Animal da Funed. Porém, em virtude da idade já mais avançada, têm uma vida produtiva menor, algo em torno de três a quatro anos. Mesmo assim, trabalham com a produção de plasma até o fim da vida. Cada animal da fazenda passa por seis ciclos anuais de produção, totalizando aproximadamente 120 litros de plasma por animal/ano.

Todos animais doados seguem um programa nutricional já estabelecido na fazenda. São criados em semiconfinamento e recebem, diariamente, oito quilos de feno de capim coast cross (gramínea com alto valor nutritivo e fácil produção) ou tyfton (gramínea de fácil digestão e resistente ao frio). Além disso, são suplementados com quatro quilos de ração para equinos com 15% de proteína, sal mineral e água à vontade.

A fazenda tem, ainda, 15 hectares de capineiras para uma emergência, onde os animais são monitorados por um médico veterinário credenciado junto ao Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV) e Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea). O profissional cuida da saúde clínica, cirúrgica, preventiva e do bem-estar dos animais.

Para entrar na fazenda, todos os equinos passam por um exame de Anemia Infecciosa Equina (AIE) e Mormo, doença infectocontagiosa dos equídeos que é transmissível ao homem. Estando negativados, assim que chegam ao espaço, são imediatamente encaminhados à área de quarentena, onde permanecerão por mais 60 dias. Neste período, passarão por mais dois exames de AIE com intervalo de 30 dias entre eles. Após os resultados negativos destes últimos exames, os animais são incorporados ao plantel de produção da fazenda. De seis em seis meses todos os animais são submetidos ao exame de AIE e, estando todos negativos, a fazenda recebe do Mapa um “Certificado de área controlada para anemia infecciosa equina” com validade de um ano.
 
Além destes cuidados, todos os animais são vacinados anualmente contra encefalomielite equina (também uma zoonose), tétano, influenza e raiva (outra zoonose). Também são vermifugados três vezes ao ano e submetidos a um programa de controle de carrapatos.

A doação dos animais é de extrema importância, segundo Cláudio Fonseca, pois além da redução de custos para cada entidade estadual, estreita as relações e possibilita o surgimento de parceiras em outras áreas. Neste caso, a PMMG não precisa ficar com os animais - que não trabalham mais, mas provocam um alto custo de manutenção - e a Funed não precisa comprar animais para a produção de matéria-prima, o que gera custo muito alto para a instituição.

Fonte: Agência Minas