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As mortes de Jéssica, José Domingos e Eduardo ainda engrossam os apelos dos adeptos do pedal para que haja mais respeito no trânsito por parte dos condutores de veículos motorizados, além do pedido de adoção de medidas pelo poder público para garantir mais segurança, como a implantação de ciclovias. Outro aspecto é que, após a pandemia da COVID-19, houve no país um aumento considerável da circulação de bicicletas, que, assim, como as motocicletas, passaram a ser mais usadas para entregas de mercadorias – consequência do incremento das vendas delivery – e outras finalidades. Mais bikes nas ruas, sem as respectivas medidas de segurança e o respeito no trânsito, também significa a possibilidade de mais acidentes envolvendo seus condutores.
No país, diariamente, são registradas em torno de sete mortes de ciclistas em acidentes de trânsito, aponta o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, expondo o risco sobre duas rodas. Os últimos dados disponíveis do Ministério da Saúde mostram uma taxa média de 0,6 morte de ciclistas por cada 100 mil habitantes no Brasil, o mesmo percentual de Minas Gerais. O levantamento é de 2021, mas, de acordo com a pasta, os dados divulgados ainda são preliminares, o que significa que podem ser alterados, ou seja, os números de óbitos de ciclistas pode aumentar.
Os números preliminares de 2021 apontam 2.542 óbitos de ciclistas em acidentes. Ou seja: uma taxa média de 6,96 óbitos diários de ciclistas em sinistros em todo o território nacional. Segundo o levantamento, a taxa de 0,6 óbito por 100 mil habitantes de 2021 é igual à de 2020, quando foram registradas 2.698 mortes de condutores de bicicletas por acidentes no país.
Em Minas Gerais, os dados preliminares do Ministério de Saúde também apontam uma taxa de 0,6 óbito de ciclistas por 100 mil habitantes, com o registro de 260 mortes em 2021, ou seja, mais de uma morte (1,4) a cada dois dias. Em 2020, tinha sido registrada em Minas a taxa de 0,7 óbito por 100 mil habitantes, com 286 vidas de ciclistas perdidas no trânsito.
“Acho que falta respeito dos caminhoneiros e dos motoristas de outros veículos com o ciclista no trânsito. Eles precisam entender que em cima de uma bicicleta sempre vai uma vida humana”, afirma o montador de móveis Diogo Dorneles Carvalho. Ele viu a morte de perto e escapou por sorte. Diogo pedalava junto com a amiga Jéssica Francine, na BR-135, próximo de Bocaiuva, onde foram vítimas de atropelamento por uma carreta, numa reta, perto de uma ponte. Ele sustenta que ambos andavam no acostamento da rodovia – no sentido Bocaiuva/ Montes Claros – quando ocorreu o atropelamento.
O morador de Bocaiuva foi atingido pelo veículo de carga, que viajava no mesmo sentido, lançado para fora da estrada e sofreu escoriações. Mas, antes dele, Jéssica havia sido pega em cheio e arrastada pela carreta por cerca de 50 metros. Ela sofreu múltiplas fraturas e hemorragia interna. Foi socorrida e encaminhada para o Hospital Doutor Gil Alves, na mesma cidade, onde morreu horas depois. A morte de Jéssica Francine causou muita comoção em Bocaiuva, onde ela morava e incentivava a prática do pedal. Ela sempre participava de competições amadoras da modalidade esportiva e colecionava muitas medalhas.
Fragilidade
O médico do tráfego José Montal, diretor da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), aponta que, por uma “questão de hierarquia”, o ciclista enfrenta mais riscos de fatalidade nos acidentes de trânsito do que os condutores de outros veículos. “A fragilidade do ciclista enquanto usuário da via é fato reconhecido no próprio Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que estabelece uma hierarquia de responsabilidades relacionadas com a proporção de risco a que cada usuário está submetido na circulação viária”, observa.
“O mais vulnerável é, naturalmente, o pedestre, seguido imediatamente pelo ciclista. A fragilidade humana, sua baixa resistência à energia cinética gerada por veículos de grande massa em velocidade, justificam a preocupação do legislador. Não existem anteparos para o ciclista e o pedestre como aqueles que protegem os ocupantes de automóveis e outros veículos motorizados”, descreve o diretor da Abramet. Ele lembra que a engenharia automobilística tem evoluído muito na proteção e redução de mortes dos ocupantes de veículos, com o uso da tecnologia de absorção de impactos nos acidentes. “Mas é algo ainda difícil de ser alcançado quando se pensa em ciclistas e pedestres”, assinala.
O especialista relata que , a partir do isolamento social na pandemia da COVID-19, ocorreu um aumento do uso da bicicleta, que, assim como aconteceu com a motocicleta, passou a ser mais utilizada para entregas e também para ida para o trabalho, mas isso também impactou no crescimento dos acidentes envolvendo os veículos de duas rodas. “O aumento de sinistros relacionados com a utilização da bicicleta é corolário dessa nova realidade”, assegura o médico de tráfego.
Os riscos para quem usa veículo de propulsão humana também são pontuados por Christiano Scarpelli, morador de Belo Horizonte e que integra a União dos Ciclistas do Brasil (UCB). “Os acidentes com ciclistas e pedestres tendem a ser mais fatais porque são corpos sem proteção colidindo com veículos de uma ou duas toneladas e que circulam em alta velocidade”, ressalta Scarpelli , que, além de ser servidor público, mantém um canal ( "Ciclo Rota BH") no Youtube e no Instagram, no qual aborda questões de mobilidade e bicicleta.
O representante da UCB lembra que levantamento da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) aponta que “as chances de ciclistas e pedestres morrerem são muito parecidas, mas varia com o tamanho da cidade e tendem a ser maiores nas margens das rodovias”, como ocorreu com atleta BR-040 em Nova Lima; e com microempresária e com o trabalhador rural em pontos diferentes da BR 135 no Norte de Minas. “Na maioria dos casos, a mortalidade elevada se deve à falta de proteção frente aos grandes veículos, falta de fiscalização de velocidade, bem como desenhos urbanos e de rodovias que potencializam a ocorrência de acidentes”, avalia Scarpeli.
Cuidado nas estrada
Os condutores de bicicletas devem redobrar os cuidados nas rodovias, onde também se deve criar mecanismos para que motoristas respeitem os acostamentos e os limites de velocidade, recomenda Christiano Scarpelli, da União dos Ciclistas do Brasil (UCB). “Nas rodovias, é importante o ciclista andar no acostamento quando tiver e utilizar roupas que facilitem sua visualização, sendo altamente recomendado o uso de coletes refletores, principalmente no período noturno. No caso de carros, caminhões e ônibus é preciso, antes de tudo, que sigam o Código de Trânsito Brasileiro e atendam à exigência de que veículos maiores devem proteger os menores”, defende Scarpelli.
Famílias em luto
No caso da microempresária Jéssica Francine Pereira Alexandre, que morreu atropelada na BR-135, em Bocaiuva, de acordo com a empresa Eco 135, concessionária da via, o condutor do veículo de cargas alegou que não viu a ciclista e “que seguia no mesmo sentido sem equipamento de sinalização luminosa, vindo a colidir”.
O viúvo de Jéssica Francice, o microempresário Washington Pereira Alexandre, disse que a alegação do caminhoneiro causou revolta na família da ciclista, que ficou muito abalada com a perda. “A Jéssica andava no acostamento e usava todos os itens de segurança e de sinalização. Além do mais, o fato aconteceu quando o dia já estava a claro (às 5h45)”, afirma Washington. Além do marido, Jéssica deixou duas filhas, de 17 e de 4 anos.
O trabalhador rural José Domingos de Melo morreu depois de um acidente quando seguia de bicicleta na BR-135, do distrito de Buritizinho em direção a Lontra. Conforme a moradora Maria Valdete da Silva Nize, a bicicleta de José Domingos (que usava o veículo para ir ao trabalho) foi atingida por uma motocicleta, quando já era noite. Com o choque, ele caiu no asfalto e na sequência, foi atropelado por um carro, tendo morte instantânea. “Foi uma coisa muito triste. Todos nós ficamos arrasados”, afirmou Maria Valdete. José Domingos morava na zona rural, era separado e deixou dois filhos e uma neta.
Na morte do ciclista Eduardo Lobato, em 1º de abril, na BR-040, em Nova Lima, a tristeza se somou à revolta, pelo fato de ele ter sido atropelado, às margens da rodovia, por um motorista que apresentava sinais de embriaguez e foi preso. Eduardo era propagandista e representante de uma empresa farmacêutica. Ele pedalava havia cerca de 10 anos, participando de diversas competições da modalidade.
Responsabilidades individuais e do poder público
De quem é a culpa na maioria dos acidentes fatais com ciclistas? “Na maioria das vezes, a culpa não é do ciclista”, diz Christiano Scarpelli, representante da União dos Ciclistas do Brasil (UCB). Ele lembra que “hoje em dia, a abordagem mais moderna sobre o assunto é a chamada visão zero, na qual se considera que as responsabilidades por sinistros de trânsito são compartilhadas. Isso quer dizer que, para além das responsabilidades individuais de condutores, é preciso o poder público ter ciência que erros e imprevistos sempre vão ocorrer”.
Segundo ele, o poder público precisa agir para que o que resultado dos erros individuais seja “o menos danoso possível”. O ciclista salienta que é preciso encontrar formas para impedir o excesso de velocidade dos veículos motorizados, como maior fiscalização por meio de radares, punição maios efetiva aos infratores e “desenho de vias urbanas que impeça as altas velocidades”.
“Ademais é importante que ciclistas e pedestres tenham espaços separados fisicamente do trânsito de veículos motorizados, o que implica a construção de ciclovias e travessias seguras”, afirma membro da UCB.
Ele ressalta a importância das ciclovias para preseevar vidas no trânsito. “No ambiente urbano, as ciclovias são dos melhores instrumentos para prevenir acidentes graves, já que colocam algum tipo de separador físico entre o ciclista e os veículos motorizados”.,
“Para os ciclistas, o tipo de colisão mais séria e com maiores índices de fatalidade são aqueles que ocorrem com veículos motorizados, sendo ainda pior quando estes estão em alta velocidade. Quando o ciclista se desloca em ciclovias, as chances de isso ocorrer diminuem bastante. Em ciclovias, as colisões que podem ocorrer são entre ciclistas ou que envolvem pedestres, o que tem potencial de dano menor”, comenta.
Para Scarpelli, “f alta muito respeito” ao ciclista no trânsito. “Faltam campanhas educativas, mas principalmente maior fiscalização do cumprimento das velocidades das vias e punições que dissuadam possíveis infratores. Além de multas mais elevadas, é preciso que infrações mais graves resultem efetivamente em responsabilidades penais”, sugere. Ele lembra que a UCB tem defendido que sejam reduzidos os limites de velocidade em vias urbanas, “o que tem potencial para salvar milhares de vidas”.
Por sua vez, o médico do tráfego José Montal considera que não pode apontar o “maior culpado” dos acidentes com cicilistas, recorrendo à “teoria do queijo suíço” (de James Reason), que considera que uma ocorrência no trânsito pode ter vários responsáveis. “O sinistro de trânsito, termo que define melhor o evento indesejado de trânsito, resulta quase sempre de uma conjunção de fatores adversos, onde predomina o fator humano”, avalia.
“A Teoria de Reason é uma das que tentam explicar a ocorrência do sinistro de trânsito. Consistiria na somatória de causas concomitantes no espaço e no tempo”, comenta.
Solução sueca
Como medida para se evitar as mortes de ciclistas e outras vítimas do trânsito, o diretor da Abramet defende a proposta do Vision Zero. “A iniciativa sueca parte do pressuposto de que os erros são uma possibilidade inerente ao ser humano, que este ser humano é frágil e que nada existe que justifique moralmente uma morte no trânsito. O sistema precisa estar preparado para mitigar as consequências do erro quando não for possível evitar o sinistro. Todos somos responsáveis por isto. Do gestor de trânsito ao fabricante do automóvel, do construtor e administrador da estrada ao serviço de saúde responsável pelo atendimento das vítimas”, considera o especialista. (LR)
Dnit destina R$ 1,2 bilhão para BRs em MG
Minas Gerais é prioridade nos planos de investimentos do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) para este ano “em função de sua importância econômica e geográfica na conjuntura do país”, afirma o órgão. De acordo com o Dnit, as rodovias federais que cortam o estado somam 5.302,3 quilômetros – sendo 4.729km de malha rodoviária pavimentada e 573km de malha não pavimentada –, aos quais será destinado um total R$ 1,266 bilhão no decorrer de 2023, o triplo do valor alocado no ano passado.
Desse total, R$ 764,9 milhões estão previstos na Lei Orçamentária Anual 2023 e R$ 278,4 milhões são restos a pagar de exercícios anteriores. O valor disponibilizado para 2023 é mais que o triplo destinado para 2022, de R$ 400,4 milhões, e cerca de cinco vezes maior que os totais destinados para 2020 e 2021, sendo eles R$ 261,1 milhões e R$ 233,5 milhões, respectivamente.
Estado com a maior malha rodoviária do Brasil e rota importante de transporte de pessoas, matérias-primas e mercadorias, Minas Gerais sofre há anos com as más condições de suas estradas, como vem sendo mostrado em série de matérias produzidas pelo Estado de Minas. Segundo o Dnit, Minas Gerais tem 65% da sua malha rodoviária com condição de manutenção boa ou regular, 26% péssima e 10% ruim. Ou seja, mais de um terço das estradas do estado não apresenta condições de tráfego adequadas.
Diante disso, a conservação rodoviária é essencial e demandará R$ 1,043 bilhão. “É importante ressaltar, o quantitativo de investimentos previstos que serão alocados para execução da Conservação Rodoviária, que compreende o conjunto de operações rotineiras, periódicas e de emergência realizadas com o objetivo de preservar as características técnicas e físico-operacionais do sistema rodoviário e das instalações fixas, dentro de padrões de serviços estabelecidos", disse o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.
De acordo com o departamento, “os últimos anos se apresentaram com disponibilidade de recursos insuficientes para fazer face à manutenção rodoviária” e, por isso, as ações a serem empregadas visam intensificar os serviços nos contratos de Conservação e Manutenção Rodoviária.
O Dnit detalhou, ainda, algumas das obras que estão planejadas para Minas. De acordo com o órgão, além dos 68 contratos ativos atuais, 30 novas licitações para reforçar a malha rodoviária com investimentos de manutenção, recuperando e reparando trechos ou estrutura da rodovia, que tenham sido seccionados, obstruídos ou danificados estão previstas este ano.
As ações de curto prazo estão sendo implementadas com intensificação dos serviços de manutenção das rodovias, cobertura da malha contratual com contratos de manutenção e recuperação das obras especiais. O órgão informou, ainda, que também estão sendo feitas obras emergenciais, para reparar, repor e reconstruir ou restaurar trechos ou estrutura da rodovia danificados por eventos como as chuvas.
Sobre as ações de longo prazo, o Dnit afirmou que estão sendo planejadas para realizar contratações de Restauração e do programa Crema, que prevê a recuperação do pavimento rodoviário brasileiro, com a integração dos serviços de manutenção dos pavimentos e conservação de faixa de domínio. Estes contratos terão duração de 5 anos.
Está prevista licitação para contratação de serviços na BR-262, entre Monlevade e Manhuaçu e finalização de trechos de duplicação da BR-381. Na BR-251/MG e Anel Viário de Montes Claros, o órgão trabalha na elaboração de Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA), cujo escopo é a absorção, implantação, pavimentação, adequação de capacidade, melhoria da segurança e eliminação dos segmentos críticos dos trechos em questão. (Com Maicon Costa)
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No país, diariamente, são registradas em torno de sete mortes de ciclistas em acidentes de trânsito, aponta o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, expondo o risco sobre duas rodas. Os últimos dados disponíveis do Ministério da Saúde mostram uma taxa média de 0,6 morte de ciclistas por cada 100 mil habitantes no Brasil, o mesmo percentual de Minas Gerais. O levantamento é de 2021, mas, de acordo com a pasta, os dados divulgados ainda são preliminares, o que significa que podem ser alterados, ou seja, os números de óbitos de ciclistas pode aumentar.
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O médico do tráfego José Montal, diretor da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), aponta que, por uma “questão de hierarquia”, o ciclista enfrenta mais riscos de fatalidade nos acidentes de trânsito do que os condutores de outros veículos. “A fragilidade do ciclista enquanto usuário da via é fato reconhecido no próprio Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que estabelece uma hierarquia de responsabilidades relacionadas com a proporção de risco a que cada usuário está submetido na circulação viária”, observa.
“O mais vulnerável é, naturalmente, o pedestre, seguido imediatamente pelo ciclista. A fragilidade humana, sua baixa resistência à energia cinética gerada por veículos de grande massa em velocidade, justificam a preocupação do legislador. Não existem anteparos para o ciclista e o pedestre como aqueles que protegem os ocupantes de automóveis e outros veículos motorizados”, descreve o diretor da Abramet. Ele lembra que a engenharia automobilística tem evoluído muito na proteção e redução de mortes dos ocupantes de veículos, com o uso da tecnologia de absorção de impactos nos acidentes. “Mas é algo ainda difícil de ser alcançado quando se pensa em ciclistas e pedestres”, assinala.
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Os riscos para quem usa veículo de propulsão humana também são pontuados por Christiano Scarpelli, morador de Belo Horizonte e que integra a União dos Ciclistas do Brasil (UCB). “Os acidentes com ciclistas e pedestres tendem a ser mais fatais porque são corpos sem proteção colidindo com veículos de uma ou duas toneladas e que circulam em alta velocidade”, ressalta Scarpelli , que, além de ser servidor público, mantém um canal ( "Ciclo Rota BH") no Youtube e no Instagram, no qual aborda questões de mobilidade e bicicleta.
O representante da UCB lembra que levantamento da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) aponta que “as chances de ciclistas e pedestres morrerem são muito parecidas, mas varia com o tamanho da cidade e tendem a ser maiores nas margens das rodovias”, como ocorreu com atleta BR-040 em Nova Lima; e com microempresária e com o trabalhador rural em pontos diferentes da BR 135 no Norte de Minas. “Na maioria dos casos, a mortalidade elevada se deve à falta de proteção frente aos grandes veículos, falta de fiscalização de velocidade, bem como desenhos urbanos e de rodovias que potencializam a ocorrência de acidentes”, avalia Scarpeli.
Cuidado nas estrada
Os condutores de bicicletas devem redobrar os cuidados nas rodovias, onde também se deve criar mecanismos para que motoristas respeitem os acostamentos e os limites de velocidade, recomenda Christiano Scarpelli, da União dos Ciclistas do Brasil (UCB). “Nas rodovias, é importante o ciclista andar no acostamento quando tiver e utilizar roupas que facilitem sua visualização, sendo altamente recomendado o uso de coletes refletores, principalmente no período noturno. No caso de carros, caminhões e ônibus é preciso, antes de tudo, que sigam o Código de Trânsito Brasileiro e atendam à exigência de que veículos maiores devem proteger os menores”, defende Scarpelli.
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No caso da microempresária Jéssica Francine Pereira Alexandre, que morreu atropelada na BR-135, em Bocaiuva, de acordo com a empresa Eco 135, concessionária da via, o condutor do veículo de cargas alegou que não viu a ciclista e “que seguia no mesmo sentido sem equipamento de sinalização luminosa, vindo a colidir”.
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Na morte do ciclista Eduardo Lobato, em 1º de abril, na BR-040, em Nova Lima, a tristeza se somou à revolta, pelo fato de ele ter sido atropelado, às margens da rodovia, por um motorista que apresentava sinais de embriaguez e foi preso. Eduardo era propagandista e representante de uma empresa farmacêutica. Ele pedalava havia cerca de 10 anos, participando de diversas competições da modalidade.
Responsabilidades individuais e do poder público
De quem é a culpa na maioria dos acidentes fatais com ciclistas? “Na maioria das vezes, a culpa não é do ciclista”, diz Christiano Scarpelli, representante da União dos Ciclistas do Brasil (UCB). Ele lembra que “hoje em dia, a abordagem mais moderna sobre o assunto é a chamada visão zero, na qual se considera que as responsabilidades por sinistros de trânsito são compartilhadas. Isso quer dizer que, para além das responsabilidades individuais de condutores, é preciso o poder público ter ciência que erros e imprevistos sempre vão ocorrer”.
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“Para os ciclistas, o tipo de colisão mais séria e com maiores índices de fatalidade são aqueles que ocorrem com veículos motorizados, sendo ainda pior quando estes estão em alta velocidade. Quando o ciclista se desloca em ciclovias, as chances de isso ocorrer diminuem bastante. Em ciclovias, as colisões que podem ocorrer são entre ciclistas ou que envolvem pedestres, o que tem potencial de dano menor”, comenta.
Para Scarpelli, “f alta muito respeito” ao ciclista no trânsito. “Faltam campanhas educativas, mas principalmente maior fiscalização do cumprimento das velocidades das vias e punições que dissuadam possíveis infratores. Além de multas mais elevadas, é preciso que infrações mais graves resultem efetivamente em responsabilidades penais”, sugere. Ele lembra que a UCB tem defendido que sejam reduzidos os limites de velocidade em vias urbanas, “o que tem potencial para salvar milhares de vidas”.
Por sua vez, o médico do tráfego José Montal considera que não pode apontar o “maior culpado” dos acidentes com cicilistas, recorrendo à “teoria do queijo suíço” (de James Reason), que considera que uma ocorrência no trânsito pode ter vários responsáveis. “O sinistro de trânsito, termo que define melhor o evento indesejado de trânsito, resulta quase sempre de uma conjunção de fatores adversos, onde predomina o fator humano”, avalia.
“A Teoria de Reason é uma das que tentam explicar a ocorrência do sinistro de trânsito. Consistiria na somatória de causas concomitantes no espaço e no tempo”, comenta.
Solução sueca
Como medida para se evitar as mortes de ciclistas e outras vítimas do trânsito, o diretor da Abramet defende a proposta do Vision Zero. “A iniciativa sueca parte do pressuposto de que os erros são uma possibilidade inerente ao ser humano, que este ser humano é frágil e que nada existe que justifique moralmente uma morte no trânsito. O sistema precisa estar preparado para mitigar as consequências do erro quando não for possível evitar o sinistro. Todos somos responsáveis por isto. Do gestor de trânsito ao fabricante do automóvel, do construtor e administrador da estrada ao serviço de saúde responsável pelo atendimento das vítimas”, considera o especialista. (LR)
Dnit destina R$ 1,2 bilhão para BRs em MG
Minas Gerais é prioridade nos planos de investimentos do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) para este ano “em função de sua importância econômica e geográfica na conjuntura do país”, afirma o órgão. De acordo com o Dnit, as rodovias federais que cortam o estado somam 5.302,3 quilômetros – sendo 4.729km de malha rodoviária pavimentada e 573km de malha não pavimentada –, aos quais será destinado um total R$ 1,266 bilhão no decorrer de 2023, o triplo do valor alocado no ano passado.
Desse total, R$ 764,9 milhões estão previstos na Lei Orçamentária Anual 2023 e R$ 278,4 milhões são restos a pagar de exercícios anteriores. O valor disponibilizado para 2023 é mais que o triplo destinado para 2022, de R$ 400,4 milhões, e cerca de cinco vezes maior que os totais destinados para 2020 e 2021, sendo eles R$ 261,1 milhões e R$ 233,5 milhões, respectivamente.
Estado com a maior malha rodoviária do Brasil e rota importante de transporte de pessoas, matérias-primas e mercadorias, Minas Gerais sofre há anos com as más condições de suas estradas, como vem sendo mostrado em série de matérias produzidas pelo Estado de Minas. Segundo o Dnit, Minas Gerais tem 65% da sua malha rodoviária com condição de manutenção boa ou regular, 26% péssima e 10% ruim. Ou seja, mais de um terço das estradas do estado não apresenta condições de tráfego adequadas.
Diante disso, a conservação rodoviária é essencial e demandará R$ 1,043 bilhão. “É importante ressaltar, o quantitativo de investimentos previstos que serão alocados para execução da Conservação Rodoviária, que compreende o conjunto de operações rotineiras, periódicas e de emergência realizadas com o objetivo de preservar as características técnicas e físico-operacionais do sistema rodoviário e das instalações fixas, dentro de padrões de serviços estabelecidos", disse o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.
De acordo com o departamento, “os últimos anos se apresentaram com disponibilidade de recursos insuficientes para fazer face à manutenção rodoviária” e, por isso, as ações a serem empregadas visam intensificar os serviços nos contratos de Conservação e Manutenção Rodoviária.
O Dnit detalhou, ainda, algumas das obras que estão planejadas para Minas. De acordo com o órgão, além dos 68 contratos ativos atuais, 30 novas licitações para reforçar a malha rodoviária com investimentos de manutenção, recuperando e reparando trechos ou estrutura da rodovia, que tenham sido seccionados, obstruídos ou danificados estão previstas este ano.
As ações de curto prazo estão sendo implementadas com intensificação dos serviços de manutenção das rodovias, cobertura da malha contratual com contratos de manutenção e recuperação das obras especiais. O órgão informou, ainda, que também estão sendo feitas obras emergenciais, para reparar, repor e reconstruir ou restaurar trechos ou estrutura da rodovia danificados por eventos como as chuvas.
Sobre as ações de longo prazo, o Dnit afirmou que estão sendo planejadas para realizar contratações de Restauração e do programa Crema, que prevê a recuperação do pavimento rodoviário brasileiro, com a integração dos serviços de manutenção dos pavimentos e conservação de faixa de domínio. Estes contratos terão duração de 5 anos.
Está prevista licitação para contratação de serviços na BR-262, entre Monlevade e Manhuaçu e finalização de trechos de duplicação da BR-381. Na BR-251/MG e Anel Viário de Montes Claros, o órgão trabalha na elaboração de Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA), cujo escopo é a absorção, implantação, pavimentação, adequação de capacidade, melhoria da segurança e eliminação dos segmentos críticos dos trechos em questão. (Com Maicon Costa)