Número de negros na universidade, no entanto, é inferior à proporção dessa população em MG; de 32.020 alunos, 13.730 se declaram pretos ou pardos
As cotas raciais levaram um pouco de diversidade para as universidades públicas e, mais do que isso, abriram portas para talentos antes “escondidos”. Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostrou que o desempenho dos alunos cotistas é igual ou superior ao dos demais graduandos em 95% dos cursos. Mesmo com o destaque, na maior universidade do Estado apenas quatro cadeiras, a cada dez, são ocupadas por pardos e pretos.
Dos 32.020 alunos de graduação da UFMG, só 2.707 se autodeclaram pretos e 11.023 pardos, ou seja, 13.730 são negros. Para chegar à mesma proporção da população negra no Estado, que é de 53,5%, seriam necessárias mais 3.400 vagas para cotistas.
Segundo o pró-reitor adjunto de Assuntos Estudantis da faculdade, Rodrigo Ednilson de Jesus, alcançar essa igualdade não é algo tão simples. E não há perspectivas de que se torne realidade. “Estamos em um contexto de incertezas nas políticas educacionais do Brasil. Não sabemos se o Ministério da Educação vai ampliar o programa, o que seria o mais sensato a se fazer, ou se vai deixar voltar aos patamares de duas décadas atrás, quando só 7% dos universitários eram negros”, afirma.
Para ele, a universidade ainda reflete uma desigualdade presente fora das salas de aula. Se a população negra ainda é a que tem menos oportunidades para ter uma boa base educacional, a tendência é que ela também se qualifique com mais dificuldade. “Os cotistas são pessoas que se destacam e passam por prova para estar ali. Eles se sentem mais cobrados do que os demais e acabam tendo um desempenho superior”, conta.
Filho de um chapa – profissional que ajuda a descarregar caminhões de carga – e de uma balconista, Gabriel Vinicius do Carmo Eugênio, 21, é um dos exemplos positivos. Ele vai ser o primeiro da família a se formar em uma graduação e já percorreu metade do caminho. Cursa o sexto período de medicina na UFMG e comemora o espaço que conquistou com muitas horas de estudo. “A UFMG ainda é uma faculdade com maioria branca. Ainda ouvimos de alguns professores que eles são contrários às cotas, mas isso sinceramente não me afeta, porque me esforcei muito e mereço estar aqui”, afirma.
Escolas estaduais. A Secretaria de Estado de Educação informou que, nas escolas mineiras, 55,3% dos alunos são negros; 30,7% são brancos; 0,3% indígenas; e 13,5% não declararam.
Número de estudantes aumentou
Apesar de o número de negros nas universidades ainda ser menor do que o considerado ideal, a política de cotas – iniciada em 2012 – deu uma nova cara ao ensino superior brasileiro. Na UFMG, a quantidade de alunos pretos e pardos entrantes passou de 2.846, em 2011, para 3.050, neste ano. Um avanço de 7,16%.
“A cota racial mudou a cara das universidades públicas brasileiras. Eu percebo nitidamente o aumento da presença de negros e moradores de periferia”, afirma a mestranda da UFMG Dandara Tonantzin, 24. Ela fez pedagogia e agora faz pós-graduação por intermédio das cotas.
A mudança também é comemorada pelo estudante de medicina Marcus Vinicius Ribeiro Cruz, 18. “Nós estamos colorindo as universidades. Temos pessoas, como eu, que jamais conseguiriam pagar um curso de medicina sendo os primeiros médicos de suas famílias”, afirma.
Vagas. Segundo o Ministério da Educação, a reserva de vagas tem sido cumprida em todo o país.
Números. Dos 1,2 milhão de estudantes aprovados nos vestibulares das universidades públicas participantes do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) de todo o país, desde o primeiro semestre de 2013, 595,1 mil acessaram as faculdades por meio de cotas, segundo o órgão.
Fraudes. Para conter os falsos cotistas, a UFMG tem apurado denúncias dos próprios estudantes. Mais de 30 casos são investigados.