CONSTRANGIMENTO

Após repercussão negativa diante de uma declaração de cunho racista tecida por Stanley Gusman, apresentador do "Alterosa Alerta", o repórter Rafael Martins, que participava da exibição ao vivo, decidiu se afastar do programa. A decisão foi comunicada em uma nota por ele publicada em seu perfil oficial no Facebook no início da tarde desta quarta-feira (10). A assessoria da "TV Alterosa" informou à reportagem que Martins pediu demissão da emissora após o ocorrido.

Em sua publicação, o jornalista, que também é deputado estadual, afirma nunca ter se sentido tão constrangido e tão desconfortável em seus 18 anos de carreira na televisão quanto no episódio, ocorrido na terça-feira (9). "Afirmações racistas, ainda que em tom jocoso, devem ser repudiadas com veemência por todos aqueles que defendem uma sociedade inclusiva, na qual os direitos alcancem indistintamente os cidadãos. E eu me encontro entre esses", comentou. 

Rafael trabalhava há quase quatro anos como repórter no noticiário da "TV Alterosa" e, após o ocorrido, apontou que seu afastamento é "irrevogável e uma clara manifestação de solidariedade a todos que se sentiram ofendidos pela declaração". 

O Ministério Público Estadual ainda não recebeu nenhuma denúncia contra o apresentador, de acordo com a assessoria. O Ministério Público Federal ficou de se manifestar.

Leia a nota na íntegra:

Rafael Martins

Venho a público me manifestar na condição de jornalista e deputado estadual eleito por Minas Gerais. Em 18 anos de carreira na televisão, nunca me senti tão constrangido e desconfortável como na edição desta terça feira, 09, do Alterosa Alerta, exibido na Tv Alterosa, afiliada do SBT. Afirmações racistas, ainda que em tom jocoso, devem ser repudiadas com veemência por todos aqueles que defendem uma sociedade inclusiva, na qual os direitos alcancem indistintamente os cidadãos. E eu me encontro entre esses. Em função das declarações do APRESENTADOR Stanley Gusman, DECIDI DEIXAR O PROGRAMA ALTEROSA ALERTA no qual atuava como repórter há quase quatro anos. Essa decisão irrevogável é uma clara manifestação de solidariedade a todos os que se sentiram ofendidos pela declaração, entre os quais eu me incluo.

Comissão de Direitos Humanos quer providências

A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) aprovou, ainda nesta quarta-feira, a representação de uma denúncia pela prática de racismo e injúria racial junto ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), ao Conselho Nacional de Justiça, à Comissão de Igualdade Racial da OAB-MG e ao Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. 

A deputada estadual Leninha (PT), presidente da comissão, contou à reportagem que os membros entendem ser inadmissível a postura do apresentador. "É inadmissível que, uma emissora que detém comissão pública, reproduza preconceitos já tipificados como crime. A liberdade das pessoas não pode servir como subterfúgio para violar direitos humanos. Faremos a representação para que os órgãos tomem as providências necessárias e para que esse caso sirva de exemplo e para que haja uma retratação com o povo negro", afirma. 

Relembre o episódio

Durante a transmissão ao vivo do programa "Alterosa Alerta", nessa terça-feira, em conversa com o repórter, o jornalista Stanley Gusman questionou resultados do Ibope com o seguinte comentário: "O nome do cara é Montenegro. Se ele fosse do bem, ele ia chamar Montebranco", afirmou em crítica ao presidente do instituto de pesquisa, Carlos Augusto Montenegro. 

Já nessa quarta-feira (10), o apresentador se desculpou ao vivo e, na nota por ele lida, pediu desculpas a todos aqueles que podem ter se ofendido com seu comentário, à emissora e ao repórter envolvido. 

A equipe da deputada Andréia de Jesus (PSOL) informou que as ações em relação ao episódio serão tomadas nesta quarta-feira (10). Na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Andréia vai fazer a moção de repúdio solicitando uma retratação da TV Alterosa, além das ações já prometidas no Ministério Público Estadual, Ministério Público Federal e na Comissão de Igualdade Racial da OAB-MG.

A reportagem ainda aguarda um posicionamento da TV Alterosa e do Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Minas Gerais (OAB-MG), onde o apresentador está inscrito como advogado desde 1998.

(Com Carolina Caetano)