Fuzilamento de domingo no Rio reflete discurso brutal
  

BRASÍLIA

 

Os 80 tiros disparados contra um carro no Rio de Janeiro no último domingo não podem ser admitidos como uma ação de segurança pública. Ocorreu um fuzilamento em praça pública.

Mesmo que houvesse bandidos no carro, a ação não poderia ter sido feita como foi. Fuzilar um automóvel no meio de uma avenida é assumir o risco de chacinar pessoas. E, na hipótese de um carro estar ocupado por criminosos, convém lembrar que não há pena de morte no Brasil e que o ministro Sergio Moro ainda não conseguiu flexibilizar a norma de legítima defesa prevista no Código Penal.

Mas, no caso em questão, não havia bandidos no carro. Havia uma família. Uma família negra.

A política de segurança pública apregoada pelo presidente Jair Bolsonaro, pelo ministro Moro e pelo governador Wilson Witzel (PSC-RJ) é a da mão pesada contra criminosos, é a do uso de violência ainda maior. Essa política objetiva nos dar a paz dos cemitérios, aquela paz que alguém sente quando vê que o inimigo está a sete palmos debaixo da terra.

Para essa política ser bem-sucedida, vamos ter de matar todos os bandidos, matar muitas pessoas, sobretudo pessoas pobres, sobretudo pessoas negras. Vamos promover chacinas e tragédias nas nossas periferias urbanas. No domingo, o músico Evaldo Rosa dos Santos morreu. Não foi um exagero. Não foi um erro. Foi um fuzilamento que é reflexo desse discurso de brutalização de nossas políticas de segurança pública.

Bolsonaro, Moro e Witzel oferecem ao Brasil a paz dos cemitérios.

Começou errado

Como condição para aceitar fazer a intervenção federal no Rio em 2018, a cúpula das Forças Armadas pediu ao então presidente Michel Temer uma proteção à tropa: soldados e oficiais que matassem civis seriam julgados pela Justiça Militar. Por isso, o caso de Evaldo Rosa dos Santos não está sob alçada cível.

Os militares não queriam intervir no Rio. Como regra, não têm treinamento nem preparo para atuar na segurança pública. Missões como as do Haiti, que propiciam conhecimento dessa natureza, são exceções.

Em tempo: durante o período de intervenção militar, houve aumento do número de mortes no Rio por policiais militares.

 

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