Um tribunal de Viena iniciou nesta sexta-feira (17) o primeiro processo judicial por um surto de Covid-19 no ano passado em uma popular estação de esqui nos Alpes, onde mais de 6.000 pessoas de 45 países disseram terem sido infectadas.

Este é o primeiro de 15 processos movidos por pessoas que acusam as autoridades austríacas de não terem agido a tempo de conter o contágio do coronavírus em Ischgl e em outras estações de esqui da província de Tirol.

O processo de hoje é movido em nome de Sieglinde Schopf e de seu filho Ulrich, viúva e filho de Hannes Schopf, falecido aos 72 anos após ser contaminado pelo coronavírus em Ischgl.

Ulrich esteve presente no Palácio de Justiça de Viena com sua equipe de advogados, que apresentou seu caso em meio à grande atenção da imprensa local.

O advogado Alexander Klauser, que representa a família Schopf e a organização de consumidores VSV, que os apoia, declarou que várias falhas fizeram de Ischgl e seus arredores focos de contágio.

Ele citou o relatório de uma comissão independente de especialistas. De acordo com o documento, as autoridades locais "reagiram tarde demais", quando a Islândia os alertou, em 5 de março de 2020, que vários de seus cidadãos testaram positivo para o vírus ao retornarem para seu país. 

As autoridades locais "tiveram pelo menos 48 horas para reagir" após o aviso, disse Klauser à AFP na semana passada.

Apesar disso, não impediram que mais turistas chegassem ao local naquele fim de semana, e o governo regional questionou se os turistas islandeses foram infectados em Ischgl, de acordo com o advogado. 

Klauser também acusou as autoridades locais de "fazerem muito pouco e tarde demais", quando um funcionário de um restaurante testou positivo para o coronavírus.

Quando o vale foi colocado em quarentena, uma retirada caótica foi realizada, enfatizou o advogado, que também responsabilizou o chanceler austríaco, Sebastian Kurz.

Meses atrás, em uma entrevista à AFP, a viúva disse que Schopf, um ex-jornalista de 72 anos que adorava esquiar, contraiu o vírus no ônibus de retirada. O veículo estava lotado, com outros turistas que tossiam e espirravam.

A família processou a Áustria em 100.000 euros (US$ 120.000) pela morte.

Na entrevista, Sieglinde Schopf declarou que "seu mundo foi despedaçado". 

"Não consigo me perdoar, porque, no fim das contas, eu o mandei para a morte", afirmou, lembrando que o incentivou a fazer a viagem.

Além das 15 ações judiciais, outras 30 pessoas exigiram indenização do governo austríaco, segundo Klauser.

"O que todas as pessoas afetadas desejam é que a República da Áustria aceite sua responsabilidade, e não vimos qualquer indicação disso até agora", acrescentou.

Dos milhares de afetados, 5% sofreram a chamada Covid longa, com dores de cabeça, distúrbios do sono e dificuldades respiratórias. Segundo a associação de consumidores VSV, que agrupa os processos, 32 pessoas morreram. 

Procurado pela AFP, o Ministério Público, que representa o Estado, disse apenas que "não comenta processos em curso".

A temporada de esqui austríaca de 2020/21 foi duramente atingida pelo vírus e, em alguns resorts, a queda no número de visitantes chegou a 90%.