RÚSSIA
Por:AFP - Agence France-Presse
O presidente russo Vladimir Putin, em queda nas pesquisas de opinião, assegurou nesta quarta-feira (20/2) que deseja melhorar a qualidade de vida de seus compatriotas, e também se mostrou pronto a posicionar novas armas da Rússia contra os países ocidentais.
Menos de um ano após ser reeleito para um quarto mandado, o presidente russo tem visto sua popularidade cair ao nível mais baixo desde a anexação da Crimeia em 2014, efeito do aumento da idade de aposentadoria e uma alta do imposto sobre o valor agregado (TVA) em 1 de janeiro.
No início de seu discurso anual no Parlamento, Putin garantiu que quer se concentrar na situação econômica e social do país, detalhando uma ajuda às famílias numerosas e a situação dos hospitais e escolas.
Depois, como no ano passado, ameaçou os Estados Unidos em resposta à instalação de novos sistemas de mísseis americanos na Europa. "A Rússia não pretende ser a primeira a implantar esses mísseis na Europa. Se eles forem implantados e entregues no continente europeu, isso agravará seriamente a situação e criará sérias ameaças para a Rússia", declarou o presidente russo, observando que alguns desses sistemas podem alcançar "Moscou em 10-12 minutos".
"Eu direi de forma clara e abertamente: a Rússia será forçada a implantar armas que podem ser usadas não só contra os territórios de onde uma ameaça direta possa vir, mas também contra os territórios onde estão localizados os centros de decisão de uso dos mísseis que nos ameaçam", explicou.
Acusações imaginárias
Washington suspendeu sua participação no tratado INF que proíbe mísseis com alcance de 500 a 5.500 km, acusando a Rússia de violar as disposições do documento assinado em 1987. Em contrapartida, Moscou fez o mesmo e, exceto em caso de reviravolta inesperada, o tratado se tornará obsoleto em agosto.
Vladimir Putin acusou os Estados Unidos de usar acusações imaginárias contra a Rússia para justificar sua saída unilateral, advertindo que a Rússia está disposta para negociações, mas não pretende bater em uma porta fechada.
Ele pediu aos americanos que calculem o alcance e a velocidade dos novos armamentos antes de tomarem decisões que possam criar novas ameaças.
O presidente russo expôs detalhes do progresso no desenvolvimento de novas armas - mísseis invencíveis e hipersônicos ou novo submarino nuclear - detalhados no ano passado em seu discurso ao Parlamento, duas semanas antes de ser reeleito com 76% dos votos.
Menos de um ano depois, o índice de popularidade do chefe de Estado de 66 anos foi, segundo o centro independente Levada, de 64% em janeiro, seu nível mais baixo desde a anexação Crimeia há cinco anos, contra 80% na época de sua reeleição.
De acordo com outras pesquisas recentes da mesma organização, 55% consideram o presidente responsável pelos problemas da Rússia e a proporção de russos pessimistas sobre a situação no país (45%) ultrapassa a de otimistas, pela primeira vez desde o final de 2013.
"Muitos" pobres
Apesar da recuperação econômica, o poder de compra da população, já muito baixo, continua em queda, daí a ira que se seguiu ao anúncio da reforma previdenciária e o aumento do imposto TVA de 18% para 20%. "A pobreza esmaga literalmente as pessoas. São 19 milhões de pessoas vivem atualmente abaixo da linha da pobreza, isso é demais", disse Vladimir Putin.
"Não podemos esperar, devemos melhorar a situação agora. A partir deste ano, (os russos) devem sentir uma melhora", apontou.
Ele falou longamente sobre a situação das famílias, apresentadas como a espinha dorsal moral da Rússia, que luta para sair de uma crise demográfica na qual mergulhou após o colapso da URSS. "Mais crianças, menos impostos", resumiu o presidente, prometendo assistência para o nascimento de um terceiro filho, mas também para os aposentados mais pobres.
Para apoiar a atividade econômica, o governo divulgou no início de fevereiro seu plano de mais de 340 bilhões de euros com grandes projetos de infraestrutura, mas espera-se que o crescimento econômico diminua este ano.
Putin estabeleceu uma meta de crescimento de mais de 3% do PIB em 2021, em comparação com 2,3% em 2018.
Poucos dias após a prisão do fundador americano do fundo de investimento Baring Vostok, que chocou a comunidade empresarial, ele também chamou a polícia a respeitar a "liberdade de empresa". "Empresas honestas não devem se sentir constantemente ameaçadas, constantemente arriscando sanções criminais ou administrativas", disse ele.