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string(73) "Planeta caminha para destruir 26% de todas geleiras até o fim do século"
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Líder do estudo, o especialista em engenharia ambiental David Rounce, da Universidade Carnegie, nos Estados Unidos, diz que o trabalho representa "um avanço substancial na modelagem preditiva" sobre a perda de massa de geleiras devido às condições climáticas. A equipe realizou projeções para as geleiras individuais da Terra — mais de 2150 mil — sob um aumento de temperatura de 1,5°C, 2°C, 3°C e 4°C até 2100, em relação aos níveis pré-industriais. Os resultados mostram que o planeta pode perder de 26% (em um cenário mais otimista) a 41% (no mais grave) da massa total de geleiras, em relação a 2015.
Segundo os autores, mesmo que haja esforços de mitigação das mudanças climáticas, a situação é irreversível. Regiões glaciais menores, como a Europa Central e o oeste do Canadá e os Estados Unidos, serão afetadas desproporcionalmente por temperaturas subindo mais de 2° C. Com um aumento de 3° C, as geleiras nessas regiões quase desaparecerão completamente. Outra estimativa indica que quase 2 bilhões de pessoas enfrentarão problemas de disponibilidade de água doce.
"Se desaparecerem, o risco de insegurança alimentar, hídrica e energética dos países é alto, além de afetar a vida dos animais que vivem nesses locais. Os riscos de extinção também ficam claros", alerta Jose A. Marengo, climatologista e coordenador geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
O especialista, que não participou do estudo, lembra que há geleiras em regiões próximas ao Brasil, como Chile e Peru. Marengo também projeta as consequências desse fenômeno na Índia. "Se o Himalaia desaparecer, afeta a monção da Índia, porque tem a ver com o contraste entre continente frio por consequência das geleiras, e o continente mais quente. Assim, essa diferença pode ser alterada, deixando as monções mais fracas e as áreas com menos chuvas e, possivelmente, matando milhões de pessoas de fome".
Pequenas notáveis
O estudo estima que, na pior das projeções, quase metade das mais 215 mil geleiras correm risco de extinção, sendo que a maioria das atingidas é pequena (menos de um quilômetro quadrado) para os padrões glaciais. Cientista do clima e professor da Universidade Estadual do Ceará (UECE), Alexandre Costa acredita que os glaciares com mais massa não desaparecerão neste século, mesmo considerando o pior cenário.
"Boa parte das pequenas simplesmente some do mapa, mas o desaparecimento dessas geleiras menores não implica uma grande perda de massa total do gelo", esclarece. Ainda assim, segundo Costa, esse é um fenômeno com grandes consequências. O desaparecimento de geleiras produz, no curto prazo, enchentes nos rios e lagos que recebem a água do degelo. A longo prazo, pode causar o esgotamento de reservas hídricas fundamentais, detalha o especialista.
Ações urgentes
Na visão de Rounce, o trabalho publicado na Science pode estimular os formuladores de políticas climáticas a revisarem os planos climáticos considerando atuações a curto, médio e longo prazo "Cortar as emissões hoje não removerá os gases de efeito estufa emitidos anteriormente nem pode interromper instantaneamente a inércia que eles contribuem para a mudança climática, o que significa que, mesmo com uma interrupção completa das emissões, ainda levaria entre 30 e 100 anos para se refletir nas taxas de perda de massa das geleiras", justifica.
A previsão da Organização das Nações Unidas (ONU) é de que as atuais metas nacionais para reduzir a emissão de carbono colocam o mundo no caminho de alcançar 2,7°C de aquecimento ainda neste século — 1,3°C a menos que o cenário mais drástico projetado pela equipe de cientistas.
Apesar dos resultados indicarem que a humanidade pode ter chegado a um "ponto de não retorno", os coautores do estudo Guðfinna Aðalgeirsdóttir e Timothy James, da Universidade da Islândia e da Queen's University, respectivamente, avaliam que "qualquer esforço para limitar o aumento da temperatura média global terá um efeito direto na redução de quantas geleiras serão perdidas".
Para Costa, o trabalho representa "mais um tijolo no edifício de conhecimento científico sobre a crise climática, cujo consenso é, em geral, compilado e consolidado através dos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC)". O especialista brasileiro lembra que o IPCC, criado em 1988, alerta para riscos significativos desde pelo menos 1995, quando foi publicado seu segundo relatório). "Sendo que, em 2021-2022, as conclusões do sexto relatório são simplesmente assustadoras", enfatiza.
Cenário de emergência
"Como sabemos, estamos em situação de emergência climática, na qual evitar os piores efeitos do aquecimento global, limitando-o dentro do estabelecido pelo Acordo de Paris, implica em cortes rápidos e profundos nas emissões de gases de efeito estufa. Do ponto de vista prático, isso significa abandonar os combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás) como fonte de energia, avançando aceleradamente em uma transição energética justa, reduzindo a demanda energética global e suprindo-a exclusivamente por meio de fontes renováveis, como solar e eólica (mediada ou não por tecnologias como o chamado hidrogênio verde). Também significa zerar o desmatamento e revertê-lo, recuperando os estoques de carbono e a biodiversidade perdida principalmente nas últimas décadas. Sem isso, a tendência é o aquecimento global sair do controle, com mecanismos de retroalimentação, levando à perda de massa das geleiras projetada nos piores cenários analisados no trabalho do professor Rounce e equipe."
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Líder do estudo, o especialista em engenharia ambiental David Rounce, da Universidade Carnegie, nos Estados Unidos, diz que o trabalho representa "um avanço substancial na modelagem preditiva" sobre a perda de massa de geleiras devido às condições climáticas. A equipe realizou projeções para as geleiras individuais da Terra — mais de 2150 mil — sob um aumento de temperatura de 1,5°C, 2°C, 3°C e 4°C até 2100, em relação aos níveis pré-industriais. Os resultados mostram que o planeta pode perder de 26% (em um cenário mais otimista) a 41% (no mais grave) da massa total de geleiras, em relação a 2015.
Segundo os autores, mesmo que haja esforços de mitigação das mudanças climáticas, a situação é irreversível. Regiões glaciais menores, como a Europa Central e o oeste do Canadá e os Estados Unidos, serão afetadas desproporcionalmente por temperaturas subindo mais de 2° C. Com um aumento de 3° C, as geleiras nessas regiões quase desaparecerão completamente. Outra estimativa indica que quase 2 bilhões de pessoas enfrentarão problemas de disponibilidade de água doce.
"Se desaparecerem, o risco de insegurança alimentar, hídrica e energética dos países é alto, além de afetar a vida dos animais que vivem nesses locais. Os riscos de extinção também ficam claros", alerta Jose A. Marengo, climatologista e coordenador geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
O especialista, que não participou do estudo, lembra que há geleiras em regiões próximas ao Brasil, como Chile e Peru. Marengo também projeta as consequências desse fenômeno na Índia. "Se o Himalaia desaparecer, afeta a monção da Índia, porque tem a ver com o contraste entre continente frio por consequência das geleiras, e o continente mais quente. Assim, essa diferença pode ser alterada, deixando as monções mais fracas e as áreas com menos chuvas e, possivelmente, matando milhões de pessoas de fome".
Pequenas notáveis
O estudo estima que, na pior das projeções, quase metade das mais 215 mil geleiras correm risco de extinção, sendo que a maioria das atingidas é pequena (menos de um quilômetro quadrado) para os padrões glaciais. Cientista do clima e professor da Universidade Estadual do Ceará (UECE), Alexandre Costa acredita que os glaciares com mais massa não desaparecerão neste século, mesmo considerando o pior cenário.
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Ações urgentes
Na visão de Rounce, o trabalho publicado na Science pode estimular os formuladores de políticas climáticas a revisarem os planos climáticos considerando atuações a curto, médio e longo prazo "Cortar as emissões hoje não removerá os gases de efeito estufa emitidos anteriormente nem pode interromper instantaneamente a inércia que eles contribuem para a mudança climática, o que significa que, mesmo com uma interrupção completa das emissões, ainda levaria entre 30 e 100 anos para se refletir nas taxas de perda de massa das geleiras", justifica.
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Cenário de emergência
"Como sabemos, estamos em situação de emergência climática, na qual evitar os piores efeitos do aquecimento global, limitando-o dentro do estabelecido pelo Acordo de Paris, implica em cortes rápidos e profundos nas emissões de gases de efeito estufa. Do ponto de vista prático, isso significa abandonar os combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás) como fonte de energia, avançando aceleradamente em uma transição energética justa, reduzindo a demanda energética global e suprindo-a exclusivamente por meio de fontes renováveis, como solar e eólica (mediada ou não por tecnologias como o chamado hidrogênio verde). Também significa zerar o desmatamento e revertê-lo, recuperando os estoques de carbono e a biodiversidade perdida principalmente nas últimas décadas. Sem isso, a tendência é o aquecimento global sair do controle, com mecanismos de retroalimentação, levando à perda de massa das geleiras projetada nos piores cenários analisados no trabalho do professor Rounce e equipe."