ANSA - O papa Francisco pediu "desculpas" a todos aqueles que se sentiram ofendidos pelo uso de um termo ofensivo contra homossexuais durante um seminário, informou o Vaticano nesta terça-feira (28). 

Em nota, a Sala de Imprensa da Santa Sé destacou que o Pontífice "nunca teve a intenção de ofender ou de se expressar em termos homofóbicos e pede desculpas àqueles que se sentiram ofendidos pelo uso de um termo, relatado por outros". 7

Ontem, a imprensa italiana divulgou que o líder da Igreja Católica, de 87 anos, fez comentários homofóbicos em uma reunião a portas fechadas com mais de 200 bispos italianos na inauguração da Assembleia Geral da Conferência Episcopal Italiana (CEI) na Sala do Sínodo.

Na ocasião, Francisco teria lançado severos apelos por uma seleção mais rigorosa no acesso aos seminários, usando termos bem incisivos e até apontando o dedo contra o excesso de "frociaggine" [termo em italiano que pode ser traduzido como "viadagem"]. 

O severo pronunciamento do religioso, que surpreendeu os presentes, foi confirmado por várias fontes. Para Jorge Bergoglio, portanto, homossexuais não devem ser admitidos nos seminários. "

O papa Francisco tem conhecimento dos artigos publicados recentemente sobre uma conversa, a portas fechadas, com os bispos da CEI. Como teve a oportunidade de afirmar em diversas ocasiões 'na Igreja há espaço para todos, para todos! Ninguém é inútil, ninguém é supérfluo, há espaço para todos. Exatamente como somos, todos nós", acrescentou a nota do Vaticano. 

A polêmica declaração do argentino provocou um "terremoto" na Itália, criando mais divisão entre os políticos do país. O general Roberto Vannacci, que será candidato pela Liga nas eleições europeias de 8 e 9 de junho e é chamado frequentemente de "antigay", criticou o fato de o Papa não ter sido questionado e atacado pela esquerda, apesar de ter considerado sua fala "um jargão". 

"São palavras que se usam no jargão comum e não devem chocar ninguém. São expressões de natureza familiar e é um absurdo alguém gritar sobre herege. Estamos lidando com o absurdo de sempre do politicamente correto", afirmou. 

O ponto-chave para Vannacci, porém, é o "duplo peso e duas medidas" em relação à suposta declaração do Papa. "Por que ninguém se levantou? Por que não foram 104 expostos em 104 promotorias italianas como aconteceu com o que escreveu? Por que Pucciarelli e Calenda não classificaram o Papa como homofóbico e instigador de ódio? E por que ninguém diz nada e ninguém se escandaliza?, questionou. 

Segundo o general "antigay", "tudo isso certifica a total hipocrisia da esquerda e das diversas associações LGBTQIA+", que quando a direita fala "organizam manifestações na praça em confronto com a polícia e atirando brinquedos sexuais, mas quando é o Papa quem fala "ficam em silêncio e deixam tudo passar despercebido, evitando até destacar o que aconteceu". 

A ministra do Turismo da Itália, Daniela Santanchè, disse que não se podia "tocar no Papa quando ele era politicamente correto", mas agora lhe renegam e dão sermão. "Mas quem somos nós para julgar?", questiona. 

Já Carlo Calenda, líder do partido de centro Ação, disse esperar que as frases sobre os homossexuais atribuídas ao Papa "não sejam verdadeiras".

"Só posso imaginar e esperar que o que é relatado nas declarações do papa Francisco seja falso, também pela forma como ele usa os termos", declarou ele.

Calenda alertou ainda que "temos o dever de usar palavras de respeito para com aqueles que têm uma orientação própria, garantida entre outras coisas pela Constituição e pelos Tratados Europeus", além de "esclarecer formas de falar que são inadequadas, em particular pelo chefe da Igreja Católica". 

"Sinto que vivo em um mundo surreal, então espero que tudo isso não seja verdade", acrescentou o político italiano, enfatizando que "tudo neste país, que só procura polêmicas diárias para polarizar um extremo contra o outro, é explorado". 

"Acho que devemos dizer com muita clareza, mesmo quando o Papa diz coisas que não nos convencem. Graças a Deus somos uma República secular e, portanto, repito, espero que não seja verdade, realmente espero que não seja verdade", concluiu Calenda.