PAPA

O ex-pontífice alemão Bento XVI, de 95 anos, está "muito doente", anunciou nesta quarta-feira (28) seu sucessor, Francisco, que pediu orações pelo papa que surpreendeu o mundo em 2013 com sua renúncia.


"Eu gostaria de pedir a todos vocês uma oração especial pelo papa emérito Bento (...) lembrem dele, porque está muito doente, pedindo ao Senhor que o console e o apoie", disse Francisco no final da audiência geral de quarta-feira.


Procurado pela AFP, o Vaticano confirmou o "agravamento" do estado de saúde de Bento XVI e informou que ele recebeu a visita de Francisco.
 
"Posso confirmar que nas últimas horas aconteceu um agravamento, devido a sua idade avançada. A situação está sob controle no momento, monitorada de modo permanente pelos médicos", afirmou em um comunicado o diretor do serviço de imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni.


O pedido de Francisco provocou reações em todo o mundo, inclusive do chanceler alemão Olaf Scholz, que enviou uma mensagem "desejando que o papa emérito se recupere e enviando-lhe seus pensamentos", segundo a porta-voz do governo, Christiane Hoffmann. 


O líder da igreja alemã, Georg Baetzing, assim como seu homólogo italiano, o cardeal Matteo Zuppi, pediram orações pelo ex-pontífice em todas as igrejas.
 
O papa emérito, Joseph Ratzinger, se tornou em 2013 o primeiro pontífice a renunciar ao posto em seis séculos. Desde então ele vive afastado do olhar público, em um mosteiro localizado nos jardins do Vaticano.


As poucas fotografias publicadas do papa emérito mostram o agravamento de sua saúde nos últimos anos.


Após oito anos de pontificado (2005-2013), período marcado por várias crises, o renomado teólogo alemão foi afetado no início de 2022 pelo escândalo de abusos sexuais contra crianças na Igreja Católica da Alemanha.


Ratzinger foi apontado em um relatório publicado em seu país por sua gestão da questão dos abusos quando era arcebispo de Munique. Ele saiu do silêncio para pedir perdão e afirmou que nunca protegeu nenhum abusador.


Sua renúncia, anunciada em latim em 11 de fevereiro de 2013, foi uma decisão pessoal motivada pela saúde debilitada e não à pressão dos escândalos, afirmou o ex-pontífice em um livro de memórias publicado em 2016.
 
A saída de Ratzinger abriu o caminho para a eleição como sumo pontífice do argentino Jorge Mario Bergoglio, que aos 86 anos também enfrenta problemas de saúde e, de forma velada, não descarta a possibilidade de renúncia. 


Em abril, o arcebispo Georg Gaenswein, que foi secretário de Bento XVI durante vários anos, declarou ao Vatican News que o papa emérito estava "relativamente frágil", mas de "bom humor".


Carreira como teólogo
 
Nascido em 1927, Joseph Ratzinger foi professor de Teologia durante 25 anos na Alemanha, antes de ser nomeado arcebispo de Munique.


Em seguida virou o guardião do dogma da Igreja Católica durante outros 25 anos em Roma. E foi eleito líder da instituição em abril de 2005, como sucessor do polonês João Paulo II.
 
Como principal nome da Igreja Católica defendeu uma linha conservadora em temas como aborto, homossexualidade e eutanásia, além de ter sido um inimigo da Teologia da Libertação nascida na América Latina.


Algumas de suas declarações provocaram confusão, sobre o islã, o uso de preservativo contra o HIV ou a excomunhão de quatro bispos fundamentalistas em 2009.


Seu papado também foi marcado pelo vazamento em 2012 de documentos confidenciais (conhecidos como "Vatileaks"), planejado por seu mordomo.


O escândalo evidenciou que Cúria romana, a administração da Santa Sé, estava minada por uma rede de intrigas e pela falta de rigor financeiro.


No último vídeo de Bento XVI, divulgado pelo Vaticano em agosto por ocasião da tradicional visita dos novos cardeais, ele aparece magro e debilitado, com um aparelho auditivo, incapaz de falar, mas com olhos vivos.