Dono de um time de futebol inglês e marido da filha de um magnata russo:
Juan Sartori apresenta de surpresa sua pré-candidatura presidencial pela direita
Em meio a um clima de apatia, o Uruguai se prepara para as eleições-chave que definirão a substituição de dirigentes dentro da situacionista Frente Ampla (FA) e porão à prova a estabilidade do sistema uruguaio em uma região convulsa, com o surgimento de fenômenos novos e até mesmo exóticos, como a pré-candidatura de um bilionário totalmente desconhecido, Juan Sartori, casado com a filha de um magnata russo.
O repentino surgimento de Sartori é um primeiro teste para o Partido Nacional (PN, de centro-direita), uma das mais antigas e tradicionais formações do país. Sartori, que vive no exterior há 20 anos, apareceu do nada há alguns meses anunciando sua candidatura pelo PN, onde ninguém o conhecia, enaltecido por um pequeno grupo que o inscreveu como membro, abrindo a possibilidade legal de que participe das eleições internas do partido que escolherão o candidato à eleição presidencial.
Jovem, com a etiqueta de empresário de sucesso, logo se revelou um bilionário com ambições políticas dignas de um manual: é proprietário de grandes extensões de terras no Uruguai, dono do time de futebol inglês Sunderland FC, possui um portal de notícias uruguaio e é casado com Ekaterina Rybolovleva, filha de um magnata russo (também digno de manual) com Elena Rybolovleva e acostumada a receber presentes como a ilha de Skorpios, famosa por ter pertencido à família Onassis.
Depois de uma operação de marketing para criar expectativas com a pergunta “quem é Sartori?” disseminada pelas redes sociais, o empresário fez sua apresentação oficial na terça-feira à noite em um teatro em Montevidéu, aparecendo sozinho com um fundo dominado pela bandeira uruguaia. “Eu sou Sartori”, exclamou o interessado, antes de iniciar um discurso defendendo “o sucesso baseado no esforço” e a ética dos negócios para fazer política. Os dirigentes do Partido Nacional brilharam pela ausência e a imprensa deu uma atenção justa ao evento, sem grandes mobilizações.
A campanha das eleições internas dos partidos já está presente na imprensa, nas redes sociais e nas ruas. No dia 30 de junho do próximo ano acontecem as primárias abertas a toda a população, que serão o prelúdio da eleição presidencial de outubro, em que os nomes dos candidatos são, por enquanto, mais importantes do que seus programas e propostas de Governo. Essas eleições uruguaias são previsíveis (o partido no poder, a FA, começa como favorito) e ao mesmo tempo totalmente incertas, pois as pesquisas deixaram de servir como bússola e os eleitores dão sinais de desencanto com a política tradicional.
Em eleições previsíveis se poderia dizer que um homem como Sartori não tem nenhuma chance em um país como o Uruguai, estável e conservador, onde a exibição de riqueza é mal vista, existe um culto à classe média e se evita a estridência. E menos ainda frente ao favorito do Partido Nacional, Luis Lacalle Pou, filho, neto e bisneto de líderes brancos (como também são chamados os membros do PN). Destacados líderes do PN não hesitaram em arremeter contra seu novo integrante, que consideram uma desvalorização da política contrária aos valores republicanos do país. Mas os aspirantes à presidência, como Lacalle Pou, se limitaram a recolher a luva e a tratá-lo como mais um concorrente.
Mas em uma eleição incerta, sua pré-campanha cheia de dinheiro, com assessores de comunicação e uma forte presença nas redes sociais, poderia mudar a equação política uruguaia. Sartori tem na mira os simpatizantes do Partido Nacional que estão fora das estruturas de base do partido, que poderiam representar 50% de seus eleitores.
Por enquanto, a candidatura de Sartori é principalmente uma preocupação do Partido Nacional, enquanto a Frente Ampla (coalizão de esquerda) está imersa em suas próprias primárias, com quatro líderes disputando o posto de presidenciável. Mais uma vez, o debate gira em torno de pessoas, porque em 2019 acontecerá a mudança de geração de políticos que transformaram o Uruguai, dando-lhe uma guinada à esquerda.
Por razões de idade, Tabaré Vázquez, o primeiro presidente de esquerda do Uruguai e atual chefe de Estado, o ex-guerrilheiro José Mujica e o poderoso ministro da Economia, Danilo Astori, começarão a sair de cena depois de décadas. Seus sucessores terão de lidar com o desgaste de três períodos consecutivos de Governo e pesquisas que indicam um claro retrocesso que os faria perder a maioria parlamentar.