247 - Na primeira atividade oficial de sua quarta visita de Estado à China, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou, nesta segunda-feira (12), de encontros com executivos de empresas estratégicas nos setores de energia e defesa. Segundo informações da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, os compromissos renderam anúncios significativos para o Brasil, com destaque para um investimento de US$ 1 bilhão na produção de combustível sustentável para aviação (SAF), e a criação de um Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em energia renovável.

O aporte será feito pela Envision Group, empresa chinesa especializada em soluções energéticas de baixo carbono, incluindo SAF produzido a partir da cana-de-açúcar. “O presidente atendeu separadamente várias empresas que vão investir no Brasil, fazer parcerias com instituições brasileiras, montar centros de pesquisa, e gerar desenvolvimento de tecnologia na área de energia”, afirmou o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT). Ele destacou o potencial do país no setor: “Concluímos uma audiência com um anúncio de investimento de US$ 1 bilhão para a produção de SAF. O Brasil se tornará um dos maiores produtores de combustíveis verdes de aviação”.

Ainda segundo o ministro, foi firmado um acordo entre a Windey Technology e o SENAI CIMATEC para a instalação de um centro de P&D em território brasileiro, voltado à inovação em energia eólica, solar, híbrida e soluções de armazenamento. “Todas essas sinergias buscam fazer parcerias na área de desenvolvimento tecnológico, incluindo formação de talentos e a instalação de centros de pesquisa e produção no Brasil”, acrescentou Rui Costa.

Audiências estratégicas e acordos firmados - O início da agenda de Lula em Pequim foi marcada por quatro audiências com líderes empresariais. O primeiro encontro foi com Feng Xingya, presidente do grupo automotivo GAC. Na sequência, Lula reuniu-se com Chen Qi, presidente do Conselho da Windey Energy Technology Group, uma das maiores fabricantes chinesas de turbinas eólicas de grande porte.

Em seguida, o presidente brasileiro recebeu Cheng Fubo, CEO da estatal Norinco (China North Industries Corporation), voltada à indústria de defesa e infraestrutura. Por fim, conversou com Lei Zhang, CEO da Envision Group, responsável pelo investimento em SAF. A empresa, sediada em Xangai, atua em setores como energia inteligente, eólica, armazenamento e aviação limpa, com destaque na nova agenda brasileira de transição energética, consolidada pela Lei do Combustível do Futuro.

Um dos desdobramentos das reuniões foi a assinatura de um Memorando de Entendimento entre a estatal brasileira Telebras e a subsidiária brasileira da Norinco, com foco em soluções de segurança pública e gestão urbana para cidades inteligentes.

Expansão do comércio e da presença chinesa no Brasil - A visita ocorre em um momento de vigor das relações comerciais entre os dois países. Desde 2009, a China é o principal parceiro comercial do Brasil. Apenas em 2023, o intercâmbio bilateral atingiu um recorde de US$ 157,5 bilhões, com superávit brasileiro de US$ 51,14 bilhões. O valor exportado para o país asiático superou, sozinho, a soma das vendas brasileiras para Estados Unidos e União Europeia.

Nos primeiros três meses de 2025, as trocas comerciais chegaram a US$ 38,8 bilhões, com exportações brasileiras puxadas por petróleo, soja e minério de ferro. Por outro lado, o Brasil importou majoritariamente embarcações, equipamentos de telecomunicações, máquinas e aparelhos elétricos.

O comércio agrícola também é destaque. Em março, a China autorizou a habilitação de 38 novos frigoríficos brasileiros, o maior número já liberado de uma só vez, abrangendo plantas de carnes bovina, de aves e suína. Em 2024, o país asiático foi destino de mais de um terço das exportações do agronegócio brasileiro.

Liderança nos investimentos e articulação internacional - Além do comércio, a China tem papel central nos investimentos estrangeiros diretos no Brasil, principalmente nos setores de energia elétrica, petróleo, transportes e tecnologia. Desde 2003, o país sul-americano recebeu cerca de 39% dos investimentos chineses destinados à América Latina. Estimativas do Conselho Empresarial Brasil-China apontam que, entre 2007 e 2023, foram investidos US$ 73,3 bilhões em 264 projetos distribuídos pelas cinco regiões do Brasil.

Na área industrial, destacam-se empreendimentos nos segmentos automotivo, eletroeletrônico e de equipamentos. Os projetos industriais e de tecnologia da informação somam 36% dos investimentos realizados.

A relação sino-brasileira extrapola os interesses econômicos. Ambos os países mantêm articulação em fóruns multilaterais como BRICS, G20, OMC e no grupo BASIC, voltado à agenda climática. Nesta terça-feira (13), Lula deve se reunir com o presidente Xi Jinping para alinhar políticas de desenvolvimento e investimentos, além de debater pautas multilaterais e ambientais. A COP 30, que será sediada em Belém (PA) em novembro, é um dos temas que devem integrar a conversa.