Cerca de 200 mil pessoas, segundo sites bieolorrussos, voltaram a marchar contra a ditadura na Belarus neste domingo, aniversário do ditador Alexandr Lukachenko, que completou 66 anos.

 No 22ª dia seguido de protestos contra Lukachenko, os manifestantes chegaram até perto do palácio presidencial e gritaram "Viemos para dar parabéns!" e "Sasha [apelido de Alexandr], receba seus convidados!".

Duas linhas de policiais impediam a passagem na praça da Bandeira, na avenida que dá acesso ao palácio. Por alto-falantes, oficiais avisavam às pessoas que não se aproximassem, ou força seria usada.

No final da tarde, a flautista Maria Kalesnikava, uma das três mulheres que liderou a campanha de oposição a Lukachenko na eleição presidencial, percorreu toda a barreira de soldados fazendo o sinal de coração com a mãos e dizendo "Cuidem-se bem, rapazes. Nós vamos salvá-los".

Desde a manhã, o regime tentou impedir as marchas, aumentando visivelmente o número de tropas nas ruas e agarrando participantes e os jogando dentro de vans:
Foram detidas 140 pessoas, segundo o Ministério do Interior, responsável pela segurança. Na Belarus, manifestações sem autorização do governo são consideradas ilegais.

No fim da tarde, blindados militares foram filmados nas ruas da capital.

Segundo a mídia local, eram do tipo BTR-80, veículo "projetado para apoio de fogo em batalha, destruição de mão de obra, armas antitanque e veículos inimigos de blindagem leve", de acordo com o site do Exército da Belarus.

A ameaça ostensiva não impediu que passeatas percorressem todo o centro de Minsk em direção ao palácio presidencial. Protestos ocorreram também em outras cidades.

O site jornalístico Tut.by afirmou que o número de presentes neste domingo superou o de domingo passado, quando cerca de 180 mil marcharam na capital (de acordo com cálculos a partir de fotos aéreas).

O assessor presidencial Nikolai Latyshenok pediu aos que protestavam que esperem pela reforma constitucional prometida por Lukachenko: "Já foi dito muitas vezes, vamos decidir tudo em paz. Estamos fazendo uma nova Constituição."

Não houve cenas públicas de espancamento, como as que ocorreram nos três primeiros dias de protesto, e a maior parte dos manifestantes se dispersou por volta das 18h (horário local, 12h no Brasil), após forte chuva.

Carrinhos e helicópteros de brinquedo e chinelos que haviam sido levados como "presentes de aniversário" para o ditador foram deixados no meio-fio e depois recolhidos por um caminhão de lixo.

 O perfil da assessoria de imprensa do ditador em uma rede social publicou às 18h11 uma foto de Lukashenko de coletes à prova de balas e uma submetralhadora nas mãos. No domingo passado, ele também apareceu armado em imagens oficiais.

Os protestos na Belarus têm sido convocados por aplicativos e mídias sociais, sem uma organização central ou liderança clara. Os manifestantes recusam o resultado da eleição de 9 de agosto, que atribui 80% dos votos a Lukachenko.

Os membros da principal candidatura de oposição, de Svetlana Tikhanovskaia, formaram um conselho para tentar negociar uma transição, mas o governo não abriu diálogo e está processando seus líderes.

Josep Borrell, responsável por política externa da UE, afirmou em artigo publicado neste domingo em um jornal francês que o ideal seria convocar novas eleições sob supervisão da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) em artigo publicado no francês Journal du Dimanche.

A União Europeia não reconheceu o resultado eleitoral e está definindo sanções que serão aplicadas sobre autoridades bielorrussas.

Já o presidente da Rússia, Vladimir Putin, tem advertido "países ocidentais" a não interferirem na Belarus, que faz parte de sua esfera de atuação.

O país tem importância geopolítica, pois separa a Rússia das tropas da Otan (aliança militar entre países europeus e norte-americanos), e é também zona de passagem de oleodutos e gasodutos russos.

Pela manhã, Lukachenko e Putin falaram ao telefone. Segundo jornais russos, Putin cumprimentou o ditador da Belarus pelo aniversário e os dois marcaram uma conversa em Moscou.

Analistas têm dito que não está claro ainda se o presidente russo se empenhará para manter Lukachenko no poder ou agirá para substituí-lo por um líder que seja aceito pela população, mas permaneça sob seu controle.

Da Lituânia, onde está exilada desde o dia 10, Tikhanovskaia disse que aceita a intermediação russa em negociações para que novas eleições sejam realizadas.