‘Greve no Google por Mudança Real’ convoca paralisação nas 78 unidades da gigante de tecnologia em todo o mundo

Madri / Nova York

Milhares de funcionários do Google em todo o mundo foram às ruas nesta quinta-feira para protestar contra a resposta dada pela empresa ao comportamento inadequado de alguns de seus executivos, acusados de assédio sexual. "Os direitos dos trabalhadores são os direitos das mulheres", dizia um cartaz que ia à frente da marcha silenciosa que partiu da sede da gigante de tecnologia no bairro de Chelsea, em Nova York.

Eric, engenheiro, acredita que a mobilização seja necessária para mostrar que a empresa deve mudar a maneira de lidar com casos de assédio e agressão sexual. É um esforço que deve ser feito tanto por homens quanto por mulheres. "Somos funcionários de uma indústria na qual os homens são maioria", destaca, "então isso deve ser uma responsabilidade compartilhada". "Fim à arbitragem forçada", dizia o cartaz com formato de um e-mail do Gmail de um colega.

"Chegou a hora, tech", dizia uma funcionária, fazendo referência ao movimento que surgiu há um ano como resultado de denúncias contra o produtor de filmes Harvey Weinstein. Outros destacaram em seus cartazes os 90 milhões de dólares que o Google pagou como indenização para o criador do sistema operacional Android, que teve que deixar a empresa após uma investigação por ter abusado sexualmente de uma subordinada com a qual teve um relacionamento.

Com esse dinheiro, acrescentam, seria possível pagar 3.000 anos de salário para uma pessoa que trabalhasse a 15 dólares por hora. “O que faço no Google?”, perguntava-se outra manifestante, amplificando sua voz em um cartaz. “Trabalho duro para que a empresa possa se permitir pagar 90 milhões a executivos que assediam sexualmente seus próprios funcionários.” A mobilização em Nova York seguiu-se às realizadas em Londres, Dublin, Paris e Zurique.

Sobre a mesa de trabalho de centenas de funcionários do Google apareceram nesta manhã notas idênticas: “Não estou no meu lugar porque vou marchar em solidariedade aos outros funcionários e fornecedores do Google para protestar contra o assédio sexual (...). Voltarei mais tarde”.

A convocação estabelecia que as paralisações de protesto ocorressem exatamente às 11h10 da manhã, pela hora local de cada sede. Por esse motivo, o escritório mais madrugador foi o de Tóquio. A breve greve do Google em Dublin foi a mais chamativa da jornada, porque a Irlanda acolhe a maior sede da empresa norte-americana fora dos Estados Unidos, graças às vantagens fiscais oferecidas nessa nação europeia. Só lá há 7.000 empregados. O protesto se repetiu nas sedes do Google em Londres, Berlim, Zurique, Tóquio e Singapura, a julgar pelas fotos e vídeos que os manifestantes divulgaram através das redes sociais. Em Madri, onde é feriado nesta quinta-feira, o protesto não ocorreu, segundo fontes da companhia.

Os trabalhadores também reivindicam o fim da disparidade salarial entre homens e mulheres, a publicação de um relatório de transparência da empresa sobre os casos de assédio sexual constatados, a melhora na sua divulgação ao público e a possibilidade de que o diretor de diversidade da companhia possa enviar suas recomendações diretamente ao conselho diretor.

A desigualdade de gênero no Vale do Silício motiva críticas do movimento feminista, não só pelos casos de assédio sexual para as mulheres em empresas como o Google, Uber e AdRoll, mas também pela escassa presença feminina nos quadros de funcionários e executivos dessas companhias.

No caso do Google, funcionários já se rebelaram no passado, embora por outros motivos: mostraram-se contrários aos contratos de colaboração da empresa com o Pentágono para desenvolver projetos de inteligência artificial de uso militar, e pela possibilidade de que o buscador, proibido na China, desenvolvesse uma versão censurada para o país asiático.