Presidente autodeclarado da Venezuela reuniu protestos pequenos neste domingo, enquanto Maduro percorreu quartéis para preparar exercícios militares anunciados para 10 de fevereiro
O desafio de levar a lei da anistia e garantias aos comandos militares, brigadas e zonas decretadas de segurança, e cercadas por alambrados hostis e barricadas de segurança, que geralmente são vetadas à circulação de veículos e pedestres, foi um passo a mais na agenda de Juan Guaidó, empossado como presidente interino da Venezuela. O maior obstáculo que precisa enfrentar para conseguir pôr em prática a primeira parada em sua rota de transição: o fim da usurpação da cadeira de Miraflores, à qual Nicolas Maduro se aferra, depois de eleições fraudulentas em que negou a participação das principais forças da oposição e que tiveram a mais alta abstenção na história e quase total rejeição da comunidade internacional.
Em La Casona, uma grande mansão da arquitetura colonial localizada no condomínio La Carlota, que é a residência oficial do presidente da República, os vizinhos puderam chegar mais perto, mas os soldados posicionados nos postos de vigilância se afastaram das guaritas para evitarem ser abordados. Chávez morou por um breve período nessa residência, antes de se mudar definitivamente para Miraflores. Maduro nunca despachou de La Casona. Mas parentes do falecido líder da revolução bolivariana continuam no lugar e desfrutam da custódia da Guarda de Honra.
Moradores entraram nesta zona militar com cópias da Lei da Anistia. De repente, uma administradora do local abriu a porta, pediu a uma das pessoas o papel com a lei, rasgou-o diante de todos e jogou os pedaços na cara dela. Diante desse desprezo, as pessoas ficaram gritando mensagens sobre a reconciliação nacional e o fim do pesadelo de Maduro. Uma das oposicionistas permaneceu um tempo lendo o conteúdo da lei em frente a um portão fechado.
Cena semelhante ocorreu em uma sede da Guarda Nacional em Petare. Um dos chefes militares recebeu o documento, pegou um isqueiro e o queimou. As pessoas responderam cantando o hino nacional. O método foi repetido no Comando Geral da Guarda, em El Paraíso, onde as manifestações da oposição têm sido violentamente reprimidas. Um chefe militar a recebeu o documento e disse que a leriam, mas deixou clara sua lealdade a Maduro. Depois, outros oficiais queimaram os papéis.
Os quartéis militares se protegeram com franco-atiradores, cercas e tanquetes para uma atividade totalmente pacífica. Na sede do Comando da Marinha, em San Bernardino, Zenaida Izquierda se aproximou confiante em que os militares reagiriam. "Eles estão aí para defender o povo, não para nos atacar. Sabem o que está acontecendo", disse a dona de casa, de 55 anos. "Estamos lhes estendendo a mão para que incorporem o povo da Venezuela, eles também estão cansados de ter uma força armada infiltrada por cubanos", disse Maritza Martínez, uma aposentada de 68 anos. Nenhum militar quis receber o documento, que também está sendo divulgado nas redes sociais e e-mails, em meio à ferrenha censura imposta pelo regime de Maduro aos meios de comunicação. Os moradores também deixaram os papéis na porta.
Ao mesmo tempo, Maduro percorreu quartéis neste domingo como parte dos preparativos para uma série de exercícios militares anunciados para 10 de fevereiro. Em Paramacay, no Estado central de Carabobo, onde em agosto de 2017 houve um ataque ao depósito de armas para uma sublevação, o líder do chavismo supervisionou o treinamento de tiros dos novos fuzis Dragunov que a Rússia vendeu à Venezuela. Ele também fez alguns minutos de demonstração de trote militar com o alto comando. Enquanto isso, Guaidó participava de uma missa em homenagem às 29 pessoas assassinadas durante a repressão policial dos protestos ocorridos em áreas populares na semana passada. Após a missa, ele fez um apelo à Alta Comissariada da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, para que apresse sua visita ao país e anunciou que pedirá sanções internacionais aos funcionários envolvidos nas mortes ocorridas a partir de 22 de janeiro.