TURQUIA

Protestos tomaram as ruas em várias cidades na Turquia desde 19 de março, quando o presidente da câmara de Istambul, Ekrem Imamoglu, do Partido Republicano do Povo e principal rival político do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, foi acusado de corrupção e preso depois de se apresentar como candidato nas eleições presidenciais previstas para 2028.

Diversos jornalistas foram detidos nos últimos dias enquanto cobriam as manifestações proibidas pelas autoridades. Sendo que sete deles, como o repórter fotográfico da agencia internacional France-Presse (AFP), Yasin Akgul, foram libertados nesta quinta-feira por um tribunal turco após os seus advogados apresentarem argumentos contra a prisão preventiva. Os repórteres haviam sido detidos sob a acusação de “participarem em concentrações e marchas ilegais” e de “não dispersarem apesar dos avisos” e, como prova, a acusação usou o próprio trabalho jornalístico, documentando que estavam atuando na cobertura dos protestos.

“Akgul foi acusado pelas autoridades de participar de uma manifestação ilegal. Entretanto ele estava fazendo uma reportagem para a AFP”, explicou seu advogado, acrescentando que as acusações contra o repórter não foram retiradas pelo tribunal.

Estas detenções provocaram indignação de grupos de direitos humanos e da agência de notícias AFP, sediada em Paris.

Além disso, as autoridades turcas acusaram o correspondente da BBC News, Mark Lowen, de representar uma ameaça para a ordem pública e o expulsaram do país. "Ser detido e deportado do país onde vivi durante cinco anos e pelo qual tenho tanto carinho foi extremamente angustiante. Liberdade de imprensa e reportagens imparciais são fundamentais para qualquer democracia”, afirmou Lowen à BBC.

De acordo com a emissora britânica, Lowen estava reportando os protestos recentes no país quando as autoridades locais o levaram para o seu hotel em Istambul no dia anterior e ainda o detiveram por cerca d

17horas até decidirem deportá-lo. A CEO de notícias da BBC, Deborah Turness, classificou este incidente como extremamente preocupante.

"Mark é um correspondente muito experiente com profundo conhecimento da Turquia e nenhum jornalista deveria enfrentar esse tipo de tratamento simplesmente por fazer seu trabalho. Continuaremos a reportar imparcialmente e de forma justa os eventos na Turquia”, afirmou Turness.

O Conselho Superior do Audiovisual turco (RTÜK), em pleno movimento de protesto pelo país, também anunciou a suspensão do Sözcü TV, canal nacional mais próximo da oposição do Governo.  “A Sözcü TV foi condenada a uma suspensão de 10 dias dos seus programas por incitar o público ao ódio e à hostilidade”, declarou o regulador turco RTÜK, indicando  que se a emissora for considerada culpada de mais uma "violação" após o vencimento da proibição, a sua licença será revogada. A RTUK também impôs multas e a suspensão de certos programas a três outras estações de televisão críticas ao governo de Erdogan.

Segundo o ministro do Interior da Turquia, Ali Yerlikaya, até agora 1.879 pessoas  foram detidas desde o começo das manifestações, destas 260 permanecem presos e os demais foram libertados, mas quase metade deles está sob vigilância judicial. As autoridades mantêm a proibição de qualquer manifestação nas cidades de Izmir e Ancara. 

Em resposta, o líder do principal partido de oposição, o Partido Republicano do Povo (CHP), a principal força de oposição turca, apelou a mais protestos. O porta-voz do partido da oposição CHP, Deniz Yacel, fez duras criticas a Erdogan e o descreveu como tendo "uma mentalidade de censor" inspirada por Joseph Goebbels, o ministro alemão da Propaganda nazista de Hitler.

 A União Europeia lastimou as detenções de jornalistas na Turquia e exigiu que o país respeite a liberdade de imprensa, num momento em que as autoridades turcas aplicam medidas contra a cobertura de noticias dos protestos dos últimos dias. "É crucial que os jornalistas possam realizar o seu trabalho sem ameaça de violência, assédio ou intimidação para garantir o acesso dos cidadãos a toda à informação", declarou um porta-voz da Comissão Europeia.

O presidente da França, Emmanuel Macron, também se manifestou. “A perseguição sistemática contra figuras da oposição, da sociedade civil, dos ataques à liberdade de informar, de se manifestar, a detenção do presidente da câmara de Istambul são violações muito claras e ataques que só podem ser lamentados”, disse.

O Reino Unido expressou que espera que a Turquia respeite o Estado de Direito, incluindo processos judiciais rápidos e transparentes, assim como a democracia, os direitos fundamentais de liberdade de expressão, o direito de reunião pacífica e a liberdade de imprensa. “Esperamos respeito pelos compromissos internacionais que partilhamos”, concluiu um porta-voz do governo britânico.

Já a Turquia ocupa o 158º lugar dos 180 países listados no World Press Freedom Index 2024, compilado pela ONG Repórteres Sem Fronteiras.