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Para se locomover, as poucas linhas de metrô estão mais abarrotadas, e pegar um táxi tampouco é fácil -eles são insuficientes e disputadíssimos. Nas refeições, os bons restaurantes rejeitam sem remorso clientes que não fizeram reserva.
Se a expectativa de quem for visitar Roma, na Itália, nas próximas semanas, é conhecer obras de arte famosas, monumentos históricos e comer com dignidade um espaguete à carbonara depois de um drinque de cor alaranjada ao pôr do sol, é melhor se munir de paciência e muita organização -a realidade pode ser frustrante.
A capital e grande parte da península italiana estão tomadas por uma avalanche de turistas, com números que, segundo estimativas, podem superar o volume de 2019, antes da pandemia, quando o setor bateu recordes no país.
Isso é o que calcula o Istat, o instituto de estatística da Itália, com base no fluxo registrado nos primeiros meses de 2023. Segundo dados de janeiro e fevereiro, período de inverno no hemisfério norte e, em teoria, de baixa temporada turística, houve um aumento de 45,5% nas diárias em estruturas de hospedagem em relação ao mesmo bimestre de 2022. Entre os turistas estrangeiros, o crescimento foi de 70,5%. Na comparação com 2019, a alta foi de 3,5% entre os visitantes de outros países e de 4,8% entre os italianos.
Para os meses deste verão, entre junho e agosto, a Federação Italiana do Turismo (Assoturismo) prevê 212,8 milhões de diárias, sendo quase metade (101 milhões) de turistas estrangeiros. Entre os internacionais, espera-se aumento de 9,6% em relação ao mesmo período de 2022 e de 0,9% em relação ao verão de 2019.
A explicação para a demanda aquecida, percebida também em outros destinos da Europa, passa pela retomada pós-Covid-19 e pelo desejo de viagem dos consumidores, resistentes às altas taxas de inflação e às passagens aéreas mais caras. "Apesar da incerteza econômica, nosso relatório de tendências revela que as pessoas escolhem cortar em outras áreas de gastos discricionários antes de cortar nas férias", diz Jamie Wortley, da World Travel & Tourism Council, órgão com sede em Londres que representa empresas do segmento do mundo todo.
"A minha impressão é que não tem mais alta ou baixa estação. Roma está lotada o tempo inteiro, mesmo no inverno, desde o verão do ano passado", conta a brasileira Janaina Felix, 45, professora de idiomas e acompanhante turística profissional que mora na capital. Em contato frequente com estrangeiros que visitam a Itália, ela percebe a volta dos brasileiros e uma mudança de perfil dos turistas americanos. "Estive na Sicília no começo do mês [de julho] e, além dos tradicionais casais americanos mais velhos, encontrei uma maioria de jovens."
Duas podem ser as razões. A principal é a desvalorização do euro frente ao dólar. A moeda americana superou em julho do ano passado, pela primeira vez em 20 anos, a moeda única do bloco -a União Europeia, para eles, ficou mais barata. Para atender aos turistas dos EUA, o principal aeroporto de Roma, Fiumicino, receberá, durante o verão, cerca de 30 voos diretos, por dia, com o país.
O outro motivo é mais pitoresco e estaria ligado ao sucesso da premiada série "White Lotus", cuja segunda temporada, encerrada em dezembro nos EUA, foi filmada em um hotel de luxo em Taormina, cidade na costa nordeste da Sicília. "Acho que 'White Lotus' despertou os mais jovens, atraídos pela fantasia de que a Itália tem muita festa e que todo mundo bebe Aperol spritz o tempo todo!", comenta Felix.
Seja como for, o turismo de massa é visível nas principais cidades italianas, forçando os viajantes a adotar estratégias para aproveitar as férias apesar das multidões.
A principal delas é planejar os dias. Em cidades como Roma, Veneza e Florença ou praias badaladas, o ideal é evitar feriados locais e finais de semanas, porque, além dos turistas internacionais, também os italianos costumam viajar e fazer bate e voltas.
Outro passo fundamental é comprar ou reservar com antecedência ingressos para grandes atrações, como o Coliseu e os Museus do Vaticano, na capital, a Basílica de São Marcos e o Palazzo Ducale, em Veneza, o Duomo e a Galleria degli Uffizi, em Florença.
"É importante pesquisar os meios de transporte. Tem gente que chega a Veneza achando que tem Uber. Nem todos têm a dimensão de que é uma cidade que só funciona de barco ou a pé", afirma a brasileira Isabela Discacciati, 42, acompanhante turística credenciada que, desde 2016, trabalha na cidade. "Muita gente, quando sai da estação de trem e vê a multidão, fica perdida, porque a cidade é mesmo um labirinto."
Discacciati, que notou a volta dos chineses a Veneza depois da pausa forçada pela pandemia, recomenda acordar cedo para circular e mesmo se aproximar de pontos icônicos, como a ponte de Rialto, que fica relativamente tranquila até às 10h. Para quem está mais interessado em conhecer a cultura local do que gabaritar a lista de atrações, vale dedicar menos tempo para pontos famosos e apostar em vizinhanças menos conhecidas.
"Fugir do turismo de massa significa ter uma experiência mais genuína da cidade e a possibilidade de encontrar moradores, escutar o dialeto, comer comida e comprar artesanato locais", diz ela, que é especialista em roteiros alternativos.
Outra frustração pode envolver justamente o maior soft power italiano -a comida. Além da quantidade de forasteiros, os bons restaurantes, sejam eles chiques ou populares, costumam trabalhar com reservas, mesmo fora de datas especiais, e tem horários de encerramento inegociáveis. Quem não se programa corre risco de pagar caro por uma refeição ruim, e os bairros turísticos estão cheios de armadilhas para famintos desavisados.
"Os restaurantes italianos odeiam quando chega alguém sem reserva. Parece que eles têm até prazer de dizer que não tem lugar", diz Cacau Villas Boas, 46, jornalista e "personal stylist" brasileira que vive na Itália há oito anos. No mês de junho, ela organizou uma viagem por Milão e praias da Ligúria para um grupo de oito amigas. "Dividi os dias por bairros a serem visitados, compramos ingressos para museus pelos sites, com hora marcada, e reservei restaurantes com até um mês de antecedência", conta.
Outra forma de driblar esperas, indica Villas Boas, é baixar os aplicativos de cada cidade, úteis na hora de chamar táxi, usar bicicleta compartilhada e reservar e pagar estacionamento.
Para melhorar a experiência coletiva, tanto dos moradores quanto dos próprios turistas, o viajante também pode contribuir. Atrapalhar o fluxo de visitantes em museus, monumentos ou vielas lotadas para tirar fotos é algo que pode ser moderado, assim como atravessar ruas movimentadas fora da faixa de pedestre ou esbarrar a mochila que leva nas costas. "Já vi gente derrubando escultura com mochila. É preciso ser mais consciente do espaço e da extensão do corpo", diz Felix.
COMO APROVEITAR AS FÉRIAS EM MEIO À MULTIDÃO
Evite visitar cidades muito turísticas ou grandes atrações, como museus e monumentos, durante feriados e fins de semana. Além dos estrangeiros, também os turistas italianos saem para passear.
ACORDE CEDO
Para monumentos ao ar livre, como a Fontana de Trevi, em Roma, ou a ponte de Rialto, em Veneza, escolha visitar de manhã cedo (até às 10h) ou no fim do dia, para fugir de aglomerações e situações de risco, como furtos.
TRANSPORTE
Se informe sobre opções de transporte público e como comprar bilhetes. Ônibus, trams e vaporettos não vendem tíquetes a bordo, mas vários têm sistema de pagamento "contactless" e por aplicativos.
TÁXIS E UBER
Nos grandes centros, é difícil encontrar táxi livre em circulação ou estacionado em pontos. Baixe aplicativos e agende corridas importantes. A Itália tem serviço de Uber só em algumas cidades e apenas na categoria premium, mais cara que o táxi.
MUSEUS E PONTOS ICÔNICOS
Compre com antecedência, pelos sites oficiais, ingressos para museus e grandes atrações como o Coliseu, em Roma. Informe-se sobre horários prolongados durante o verão, como abertura noturna, ou modalidade sem fila.
COMIDA
Restaurantes bons, mesmo os populares, costumam trabalhar com reserva, mesmo fora de datas especiais. É comum reservar um dia antes ou até no mesmo dia. Muitos agendam pelo site, mas alguns cobram taxas em caso de desistência sem aviso.
NÃO SEJA MALA
Colabore para que a experiência coletiva seja boa. Evite parar a toda hora para tirar fotos em museus ou ruas estreitas lotadas; cuidado ao se deslocar com a mochila nas costas ou arrastar mala de rodinhas; atravesse a rua no lugar certo e cuidado ao guiar patinetes.
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Para se locomover, as poucas linhas de metrô estão mais abarrotadas, e pegar um táxi tampouco é fácil -eles são insuficientes e disputadíssimos. Nas refeições, os bons restaurantes rejeitam sem remorso clientes que não fizeram reserva.
Se a expectativa de quem for visitar Roma, na Itália, nas próximas semanas, é conhecer obras de arte famosas, monumentos históricos e comer com dignidade um espaguete à carbonara depois de um drinque de cor alaranjada ao pôr do sol, é melhor se munir de paciência e muita organização -a realidade pode ser frustrante.
A capital e grande parte da península italiana estão tomadas por uma avalanche de turistas, com números que, segundo estimativas, podem superar o volume de 2019, antes da pandemia, quando o setor bateu recordes no país.
Isso é o que calcula o Istat, o instituto de estatística da Itália, com base no fluxo registrado nos primeiros meses de 2023. Segundo dados de janeiro e fevereiro, período de inverno no hemisfério norte e, em teoria, de baixa temporada turística, houve um aumento de 45,5% nas diárias em estruturas de hospedagem em relação ao mesmo bimestre de 2022. Entre os turistas estrangeiros, o crescimento foi de 70,5%. Na comparação com 2019, a alta foi de 3,5% entre os visitantes de outros países e de 4,8% entre os italianos.
Para os meses deste verão, entre junho e agosto, a Federação Italiana do Turismo (Assoturismo) prevê 212,8 milhões de diárias, sendo quase metade (101 milhões) de turistas estrangeiros. Entre os internacionais, espera-se aumento de 9,6% em relação ao mesmo período de 2022 e de 0,9% em relação ao verão de 2019.
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"A minha impressão é que não tem mais alta ou baixa estação. Roma está lotada o tempo inteiro, mesmo no inverno, desde o verão do ano passado", conta a brasileira Janaina Felix, 45, professora de idiomas e acompanhante turística profissional que mora na capital. Em contato frequente com estrangeiros que visitam a Itália, ela percebe a volta dos brasileiros e uma mudança de perfil dos turistas americanos. "Estive na Sicília no começo do mês [de julho] e, além dos tradicionais casais americanos mais velhos, encontrei uma maioria de jovens."
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"Fugir do turismo de massa significa ter uma experiência mais genuína da cidade e a possibilidade de encontrar moradores, escutar o dialeto, comer comida e comprar artesanato locais", diz ela, que é especialista em roteiros alternativos.
Outra frustração pode envolver justamente o maior soft power italiano -a comida. Além da quantidade de forasteiros, os bons restaurantes, sejam eles chiques ou populares, costumam trabalhar com reservas, mesmo fora de datas especiais, e tem horários de encerramento inegociáveis. Quem não se programa corre risco de pagar caro por uma refeição ruim, e os bairros turísticos estão cheios de armadilhas para famintos desavisados.
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