Para comemorar os 70 anos de Israel, israelenses vão se reunir em festas realizadas desde as margens do Mar da Galileia, no norte, até a cidade de Eilat, no sul. Também estão planejadas celebrações no Bulevar Rothschild, em Tel Aviv, onde David Ben Gurion anunciou a independência de Israel no dia 14 de maio de 1948. De acordo com o calendário hebraico, as festividades do dia da independência do Estado judeu começam nesta quarta-feira (18).
"Tenho muito orgulho do que meu país é hoje. O Estado de Israel é o seu povo, o povo comum que constrói esse Estado", diz Laura Artzi, que a reportagem da DW encontrou enquanto ela fazia compras na rua Jaffa, em Jerusalém.
Para a maioria dos israelenses, o Dia da Independência é, em primeiro lugar, um dia para passar com a família e os amigos, fazer um churrasco ou observar os jatos da Força Aérea sobrevoando Tel Aviv. Para as festividades, vendedores de rua oferecem a bandeira de Israel e outros itens nas cores azul e branco.
O ator Yair Lehman está se preparando para representar Theodor Herzl, o pai do sionismo político moderno, durante as celebrações do Dia da Independência. "Setenta anos querem dizer que, por um lado, estou feliz por todos os motivos históricos", constata Lehman. "Mas também é um momento para preocupações: para onde esse país, a nação, vai agora? Qual será a relação com nossos vizinhos, e o que fazer com todas as nossas desavenças internas?", questiona.
Novas tensões ofuscam Israel
Reminiscências da extensa história de guerras e conflitos de Israel, as renovadas tensões na fronteira norte do território ofuscaram o jubileu deste ano. O Exército israelense está em alerta máximo para uma potencial retaliação do Irã após um ataque aéreo a uma base síria na semana passada, cuja autoria a Rússia atribuiu a Israel.
Os ataques aéreos que os Estados Unidos, o Reino Unido e a França realizaram a instalações militares sírias na semana passada, em resposta a um suposto ataque químico a civis na cidade síria de Duma, aumentaram as tensões. E, no sul, acredita-se que os protestos em massa de palestinos na Faixa de Gaza na cerca de demarcação com Israel continuarão até maio.
Tradicionalmente, na véspera do Dia da Independência, Israel lamenta oficialmente os soldados mortos e vítimas de conflitos. Por muitos anos, um dia "alternativo" em memória a vítimas de conflitos também foi organizado por associações israelenses e palestinas da sociedade civil, que homenagearam, em conjunto, seus entes queridos mortos no conflito.
O estado de espírito sombrio do dia de lembranças deverá se transformar numa atmosfera festiva ao anoitecer, quando começa uma tradicional cerimônia de acendimento de uma tocha no Monte Herzl (Monte da Recordação) em Jerusalém, para comemorar o aniversário de Israel.
Passado e presente
Michael Shiloh tinha 14 anos de idade quando ouviu David Ben Gurion anunciar a independência de Israel, em Tel Aviv. Olhando para fotos daquela época em sua casa em Jerusalém, ele lembra da euforia depois do discurso e da cantoria e das danças nas ruas.
"Foi apenas três anos depois do Holocausto. Auschwitz ainda existia em abril de 1945", recorda Shiloh, cujos pais fugiram da Alemanha nazista e, em 1935, chegaram ao que era conhecido como o Mandato Britânico da Palestina – um território geopolítico administrado pelos britânicos entre 1920 e 1948, criado após a Primeira Guerra Mundial.
"Então, havia essa nuvem sobre as cabeças dos meus pais. Mas, por outro lado, havia a euforia, havia esse sentimento coletivo de que 'conseguimos, estamos a salvo, temos um Estado próprio'", explica.
Mas esse sentimento não durou muito: uma coalizão de países árabes que já havia rejeitado o Plano da ONU para a partilha da Palestina em novembro de 1947 atacou o novo Estado. Dez meses de conflito foram concluídos com um armistício em 1949.
Cerca de 700 mil palestinos foram forçados a se deslocar ou fugiram de suas cidades e vilarejos durante essa guerra, descrita por Israel como Guerra da Independência. Esses palestinos se tornaram refugiados na atual Cisjordânia ocupada, em Gaza e em outros países árabes para os quais fugiram, como Jordânia, Síria e Líbano. Apenas uma minoria ficou no território atual de Israel.
Palestinos relembram perda de território
Um dia depois de Israel festejar a sua criação, palestinos lamentam a perda de seu país, um fenômeno que descrevem como "nakba" ("catástrofe"). Desde o fim de março, ao menos 30 pessoas foram mortas e centenas ficaram feridas por projéteis disparados por franco-atiradores israelenses durante protestos maciços em Gaza. As manifestações reavivaram o debate sobre o direito de retorno de refugiados palestinos.
"É um lembrete a Israel de que a questão dos refugiados palestinos ainda não foi resolvida, mesmo depois de 70 anos", indica Ahmad Abu Irtema, de 33 anos e um dos jovens iniciadores dos protestos na Cidade de Gaza. Irtema insiste que a maioria das manifestações é pacífica. O pequeno território abriga cerca de 1,2 milhão de refugiados e seus descendentes.
Israel, por sua vez, acusa o movimento islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza, de usar os protestos para os seus próprios fins violentos.
O tema dos refugiados é um dos mais controversos no conflito israelo-palestino. Mas, além de pedir uma solução justa para os refugiados, os manifestantes também afirmam que querem chamar a atenção para as décadas do bloqueio à Faixa de Gaza e também para a ocupação militar dos territórios palestinos por Israel, que o Estado judeu mantém há mais de 50 anos.
Para Shiloh, que se tornou diplomata a serviço de missões e embaixadas israelenses no mundo todo, a principal preocupação é a paz. Ele acompanhou de perto a equipe que trabalhou nas negociações de paz de Oslo no início dos anos 1990.
"Obtivemos sucesso de várias formas", constata Shiloh. "Mas não chegamos a nenhum acordo; não estamos em paz com os vizinhos e não temos nem um acordo interino que poderia nos dar uma sensação de segurança e de justiça."