Brasil247 - O ex-embaixador americano Thomas Shannon afirma, em tom prescritivo, que o governo brasileiro 'deve' ser inteligente e abrir o mercado brasileiro para os produtos americanos. Em entrevista a Patrícia Campos Mello do jornal Folha de S. Paulo, Shannon diz acreditar que a abertura do mercado brasileiro para os EUA pode reduzir o apetite pelas tarifas de aço e alumínio dos americanos com relação ao Brasil.
Ele foi foi embaixador no Brasil durante quase quatro anos (2010-2013) e ocupava o terceiro mais alto cargo do Departamento de Estado dos EUA até o início deste ano.
A agenda que Shannon apresenta para os dois países é completamente a serviço dos interesses dos americanos: proteção a patentes, compras de armas, cerco à Venezuela e afastamento da China. Leia: "as áreas que têm potencial de avanço continuam as mesmas. Uma delas é, obviamente o comércio. Brasil e EUA precisam focar em investimento e acesso a mercado. Transferência de tecnologia e proteção de propriedade intelectual também são prioridades. Há espaço para uma cooperação em segurança, envolvendo as Forças Armadas dos dois países. Podemos expandir programas de treinamento, desenvolvimento de tecnologia militar e de armamentos. No campo político, a Venezuela é certamente a questão maior e mais premente, mas é preciso falar sobre a China."
A reportagem destaca outra fala do ex-embaixador com pressão explícita para o afastamento do Brasil em relação á China: "acredito que o presidente eleito e sua equipe entendem que, ainda que seja importante vender commodities para a China, o tipo de relação econômica que o país tem com os EUA oferece muito mais para o futuro do Brasil". Ele sinalizou que quer o Brasil inundado por produtos 'made in USA': "O mercado brasileiro é relativamente fechado".
Sobre a Venezuela, Shannon deixou claro que a intervenção no país será um tema da visita a Bolsonaro do assessor de segurança nacional dos Estados Unidos, John Bolton, da ala "dura" do governo Trump. Ele vem ao Brasil no próximo dia 29 para estabelecer uma pauta comum com o futuro governo de extrema-direita contra a Venezuela: "a conversa entre Bolsonaro e Bolton será importante para isso. Tanto o Brasil como os EUA querem continuar pressionando o governo venezuelano a permitir a entrada de ajuda humanitária".
O cinismo do ex-embaixador impressiona. Na entrevista, ele dá o "caminho das pedras" das sanções brasileiras para colocar a Venezuela de joelhos diante da aliança Trump-Bolsonaro, com a submissão do povo venezuelano à fome, se necessário: "Isso depende da estrutura de sanções do país, não sei até onde o Brasil pode ir nesse sentido. Mas o Brasil tem investimentos significativos na Venezuela e é um grande fornecedor de alimentos, ou seja, tem outras alavancas que pode usar".